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há 7 anos

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'Começou com ciúmes e terminou com socos na cabeça', diz mais uma Emily de MS

Advogada, ela sabia que precisava fazer algo, mas o medo e a vergonha eram mais fortes; 5 anos depois ela fala sobre isso pela primeira vez

Advogada, bem-nascida, bem criada, agredida e silenciada por si mesma. É assim que mais uma "Emily" do Brasil se define. Quando viu o espaço aberto pela reportagem, pediu para falar. Desabafar, expor. Claro, que sem aparecer, até para não decepcionar a mãe e o pai, que sempre acreditaram na força da filha.

Entre as várias histórias que a agressão sofrida por Emily no programa Big Brother Brasil trouxeram a tona, o que chama a atenção é que o desabafo começa, a vítima sempre tenta justificar o motivo de ter demorado ou de nunca ter falado. Quando ela começa a falar sobre o assunto, parece que a vítima é outra pessoa, não ela.

Loira, alta, olhos verdes, representa bem o padrão de beleza que muitas mulheres ainda acham que é do tipo “nunca vai sofrer por homem”, mas na prática, a conversa não é bem assim. Assim como Emily do BBB, ela também se culpa muito pelas agressões sofridas e mesmo passados cinco anos que conseguiu se desvencilhar, as marcas continuam. 

“Quando eu percebi? Acho que depois da primeira vez que ele me bateu. Eu fiquei semanas pensando no que ia fazer, se ia terminar ou não, e no dia que decidi que ia dar mais uma chance eu me senti super aliviada...”, conta ela, relembrando a dor. 
Apesar do “primeiro perdão”, ela reconhece hoje, que errou. “E esse alívio devia ter me dito que eu estava com a minha cabeça presa nisso. A violência física começou mais ou menos um ano depois do começo do namoro, a psicológica, no meio, ficamos juntos por três anos e o último meio ano desses três anos foi eu construindo o término. Eu morria de medo do que ele faria porque toda vez que tentei terminar, ele ameaçava me matar, se matar, matar meus amigos então eu fui, devagarinho, tentando fazer ele terminar comigo. Funcionou”, conta fazendo uma análise cronológica. 

Para ela, desabafar parece ser reconfortante. “Eu não podia passar tempo com meus amigos. "Eles só querem te comer". "Você não é homem, não entende".  O ciúmes nem sempre vinha explícito assim, também. Eu percebi que toda vez que eu conversava com um amigo gay, ele arranjava alguma desculpa para brigar comigo. Me ligava as cinco horas da manhã, eu acordava e atendia com um alô. Pronto. Por que eu não respondi com um amor? Estava esperando alguma outra pessoa me ligar a essa hora?”, aponta cada detalhe da relação extremamente abusiva que a consumiu. 

“Ele era o amor da minha vida, será que não valia os sacrifícios?”, questiona a vítima

“Por medo das brigas, eu ia deixando de conversar com meus amigos homens, e quase não tenho amiga mulher. Afinal, ele era o amor da minha vida, não valia a pena alguns sacrifícios? Além disso, ele provavelmente estava certo. O que os rapazes iriam querer comigo além do meu corpo? Não é como se eu tivesse nada muito melhor em mim mesmo, que valesse a pena, e o que me pega em caso de abuso psicológico é isso. A minha razão não é o bastante pra me convencer das coisas que eu sei que não são verdade”, reflete sem esconder a vergonha. 

Hoje, morando em outra cidade ela acredita que precisa sim de um tratamento. “Mas tenho vergonha. A primeira vez, foi porque eu gritei CALA A BOCA enquanto ele me xingava. Em três passos ele estava em cima de mim com a mão no meu pescoço e várias outras vezes ele me bateu. Mas só uma eu pensei em ir pro hospital, eu não tive tempo de proteger minha cabeça então os socos foram todos lá, e eu fiquei tonta. Acabei indo dormir e no dia seguinte já estava melhor. Geralmente eram meus braços ou pernas, e se eu denunciasse, todos iam ficar sabendo. Todos e isso me consumia”, admite. 

Até hoje, a família não sabe. Já morando fora do Estado, o ex-namorado ainda é motivo para ela não voltar. “Ele não foi o motivo de eu ter vindo pra cá, mas é a razão de eu não voltar, prefiro viver longe”. 

 

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