Desde que nasceu, ele, que poderia ter o nome de Eva, de Luciana, de Andreia, ou por que não Maria, cresceu percebendo que era diferente. O passar dos anos mostrou que seu instinto estava certo. E, aos 35 anos, uma mastectomia o transformou em José. O nome verdadeiro é em homenagem ao avô - que será mantido em sigilo pela reportagem -, mas o novo corpo está muito bem aceito.
“Eu já sabia desde pequeno que não era menina e sim um menino. Pensava igual, não era só um trejeito, ou só atração por meninas, era o meu eu, que não era feminino e sim masculino”, conta com a segurança de quem sabe que buscou o que sempre desejou.
E foi a adolescência, a fase de transformação, que mostrou que o caminho era sem volta. “Quando fui ficando mais velho, nunca pensei em ser homossexual, sabia que era um homem e daí para a transexualidade foi um caminho bem pensado e decidido”.
Para chegar ao corpo masculino, os hormônios ajudaram e, hoje, a voz, o corpo e até a “barriguinha de chopp” fazem parte da aparência dele. “Nunca me senti uma menina nem mulher”, conta ao explicar que até na formatura da primeira graduação entrou no salão acompanhado da namorada e dançou valsa de smoking, como todos os meninos da turma.
José casou de terno e a noiva de véu e grinalda. Na época, não quis fazer reportagem, porque apesar de não temer "encheção de saco", a opção é em preservar a família. "Eu tenho uma família linda, que me apoia e que eu vivo os sonhos de uma pessoa qualquer que vive. Me formei, casei, dancei valsa com minha esposa linda de noiva. Me formei na segunda graduação e foi tudo maravilhoso, não sou diferente de ninguém", acredita.
Concurseiro e estudioso nato, José quer que a mensagem de amor e respeito seja passada. "Tratam como se fosse diferente, mas somos pessoas que estudam, trabalham, namoram, vivem a vida e respeitam o mundo que vivem. Já passei em três concursos públicos e estou esperando ser chamado para o quarto", diz contestando o estereótipo de "vagabundagem" que já tratam quem é LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). "Somos muito marginalizados, temos que mudar isso", alerta.
Mudanças para sempre
A decisão da retirada dos seios também foi muito bem pensada. “Tive o apoio da minha esposa, que é minha companheira e minha melhor incentivadora. Juntamos o dinheiro e fui até Brasília, onde a cirurgia foi feita na semana passada, tudo com todo aparato de segurança não só físico como psicológico”, explica mostrando as fotos com o resultado.
Para o novo homem, a mudança corporal resulta em liberdade. “Eu sou homem, um homem trans como queiram falar, mas sei o que sou e tenho orgulho sim da minha história. Minha família, que é o principal para mim, sempre me aceitou e, graças a Deus, não sofro tanto preconceito”.
E o preconceito não é tabu quando fala do assunto. “Vivemos num país machista onde mulheres transexuais e as travestis ainda são as maiores vítimas. Elas ainda apanham e são mortas por suas orientações e transformações. O que acontece é que ninguém precisa entender, tem que respeitar”, sugere.
No caminho que escolheu seguir, apenas as piadinhas incomodam. “Falam do órgão sexual masculino, como se a sexualidade e masculinidade de um homem fosse definido por isso. Quando digo que quero ser pai, é porque a ciência já me dá condições para isso e um pênis não é um simples órgão reprodutor. Ser pai vai muito além disso”, afirma com o conhecimento de quem sabe o quanto a família é importante para a felicidade de um ser humano.
Hoje, o funcionário público não enfrenta mais problemas, mas também não quer ser comparado a ninguém, como é o caso de Thamy Gretchen. “Eu sou o que eu sou, vivo feliz, pago meus impostos, sou um cidadão que cumpre com as obrigações, estudei, casei, formei família e espero que a sociedade me respeite assim”, finaliza.
