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Enquanto o básico for luxo, índios de MS têm pouco a comemorar neste 19 de Abril

Sem acesso a saúde, educação ou saneamento básico, aldeias sofrem com a ausência do poder público

19 abril 2018 - 11h25Por Diana Christie

Dia do Índio, 19 de Abril. Nas escolas, muitas crianças aprender o que é um cocar, talvez estejam conhecendo o significado da letra “I”. Entre os adultos, são lembradas algumas histórias, talvez da troca de riquezas por espelhos, de quando os portugueses achavam que “descobriram” o Brasil, ou mesmo a sensualidade das índias, retratadas, muitas vezes, de forma grotesca e antinatural.

No entanto, pouco se fala sobre a realidade das aldeias, espalhadas por todo Mato Grosso do Sul. É quase como se vivessem em um universo alternativo, mesmo que ao lado das principais cidades ou mesmo dentro dos centros urbanos, como é o caso da aldeia Marçal de Souza. São apenas lembrados durante os protestos, aqueles que fecham rodovias...

Índios são ouvidos apenas quando interditam estradas - Foto: Geovanii Gomes/Arquivo

Nesta data tão importante do calendário brasileiro, o que fica é o sentimento de falta. Falta posto de saúde, falta escola, falta respeito. Enquanto o básico é considerado luxo dentro das aldeias, os poucos índios que ainda resistem, guardando as tradições desse povo batalhador, têm muito pouco a comemorar.

Na aldeia Guaviry, em Aral Moreira, o cacique Genito Gomes enumera as dificuldades do dia a dia. “A gente está abandonado. Primeiro precisamos do registro da nossa terra tradicional, segundo e terceiro, educação e saúde, que falta e falta mesmo. Já tem nossa aula, mas emprestamos [o espaço] para o nosso município, que não quis fazer estrutura na nossa comunidade. É na nossa casa. Para saúde tem verba e tem recurso, mas nada chega, falta remédio, falta todo material escolar, tudo. Estamos abandonados pelo governo”.

Crianças em um assentamento na aldeia urbana Água Bonita - Foto: Geovanni Gomes/Arquivo

Com dificuldades para falar o português, Genito tropeça nas palavras, mas o recado é claro: não é dia de comemorar, mas sim relembrar o sangue indígena derramado nos conflitos. Segundo ele, a aldeia foi aberta para a comunidade conhecer um pouco mais da aldeia e da cultura indígena, mas a aula mesmo foi sobre o reconhecimento, a memória dos antepassados e os desafios à frente. “Esse não é só o dia do índio, é o dia do massacre”, resume.

Na aldeia Água Bonita, em Campo Grande, a dona de casa Dalila Fernanda, 24 anos, vive uma realidade semelhante. Entre os problemas diários, ela conta que, por causa da falta de médicos no posto de saúde que atende a comunidade, interrompeu o acompanhamento pediátrico da filha de 1 ano e oito meses.

Lideranças em protesto na Assembleia Legislativa - Foto: Deivid Correia/Arquivo

“A saúde é difícil. Se for ao médico não é atendido e tem que ir ao Centro porque não tem condições aqui. Algumas vezes tem médico, mas não atende a nossa Vila, por causa que cada um é de um setor. Eu fazia o acompanhamento da minha filha, mas toda vez que eu ia lá não tinha médico. Graças a Deus ela está bem, mas é complicado”, relata.

Índios relembram mortes em conflitos por terra em MS - Foto: Deivid Correia/Arquivo

Sem esgoto e outras condições básicas, Dalila ainda vive com outro medo constante, o de ser expulsa da região onde mora. De acordo com ela, a regularização da área teria sido confirmada há dois anos, mas o papel nunca foi entregue e os responsáveis pela documentação não se manifestam. E a comemoração? Fica para outro dia...