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Cidades

26/02/2017 15:30

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Acolher pessoas em sofrimento é a principal arma contra o suicídio, indicam especialistas

MS é o 3º estado do país com mais casos do tipo

Na triste e preocupante estatística de suicídios no País, Mato Grosso do Sul ocupa a 3ª posição  com mais mortes desse tipo. Segundo dados do Mapa da Violência de 2014, em 2012 foram 8,4 suicídios por 100 mil habitantes. Já em 2015, conforme o Ministério da Saúde, foram 109 casos, o que corresponde a 12 mortes por mês. A depressão é uma das causas para o autoextermínio e por isso, abraçar aquele que sofre é sempre importante para evitar essa violência.

Na capital, Campo Grande, os números não são menos alarmantes. Segundo o teólogo com pós-graduação em Saúde Mental e coordenador do curso de prevenção ao suicídio, Edilson Reis,  entre 2010 e 2015, foram notificadas 4.019 tentativas de suicídio. Destes, 280 morreram. O que gera mais preocupação, é que segundo a OMS, para cada suicídio relatado, pelo menos outros cinco foram cometidos. Além disso, para cada tentativa de por fim vida, outras dez aconteceram e não tiveram registro.

Os dados mais atualizados do capelão Reis, mostram que só no primeiro semestre de 2016 360 pessoas tentaram o suicídio. A tentativa de por fim ao sofrimento é democrática, atinge todas as classes sociais, brancos, negros e em grande parte indígenas, sendo a faixa etária com maior incidência entre 15 a 49 anos.

Tabus e mitos

O tema suicídio ainda é tabu, e a maioria dos casos não é reportada pela imprensa, que teme que potenciais suicidas se encorajem com aquela informação. É justamente essa falta de discussão sobre o tema que perpetua a ignorância sobre o assunto. ''O suicídio continua sendo tabu, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura, fraqueza, assunto proibido na conversa com filhos, pais, amigos, o tabu imposto impede o individuo  de se comunicar abertamente sobre suas dores e sofrimento'', explicou Reis.  

Outro ponto destacado pelo especialista é que o suicida não quer acabar com a vida, porque não gosta de viver e sim quer estancar um sofrimento, que no pensamento dele, não terá um fim próximo.  Para o  psiquiatra e presidente da Associação Latinoamericana de Suicidologia, Humberto Correa, explicou ao Portal IG, que ao contrário do que as pessoas imaginam, quem pretende tirar a própria vida dá sinais claros e geralmente já tem um plano em mente. ''O entendimento de que ‘quem se mata não avisa, não fala, é mito’’, esclarece. 

A falta de acolhimento da sociedade para quem está propenso ao suicídio também é um fator colaborador para a tragédia, segundo explicou o psquiatra e pesquisador da Unicamp, Neury Botega. "Para uma pessoa falar que quer se matar, ela até pode até estar querendo chamar atenção, mas se uma pessoa fala isso ‘só’ para chamar atenção, também indica que ela não está muito bem”, detalha. “O que acontece é que, quando uma pessoa faz um comentário desse tipo, ela provoca rejeição. A gente está mais propenso a admirar quem luta pela vida.”, concluiu. 

Prevenir é acolher 

Hoje, a exemplo de campanhas como o Outubro Rosa, para prevenção do câncer de mama para mulheres, acontece o Maio Amarelo, mês dedicado a essa discussão, mas que segundo especialistas, após a data o tema suicídio volta ao esquecimento. 

Segundo o capelão Reis, o acolhimento da pessoa com depressão é a maior arma contra essa violência. ''O individuo que  está com os sentimento de  desesperança,  desamparo, desespero, ele deseja alguém para ouvi-lo, alguém para confiar, alguém que se importe com ele, o que ele  não quer e se sentir sozinho, ser ignorado, e julgado, recomendo que  se ouça   com cordialidade,  trate com respeito,  empatia com as emoções, seja discreto, são ações simples pontuais que pode levar o individuo a mudar de ideia quanto ao desejo de matar-se'', sugeriu. 

Depressão

Dado da OMS, divulgado nessa semana indica que 320 milhões de pessoas no mundo tem depressão. Embora seja uma doença grave, que possa levar ao suicídio, cerca de 60 a 80% dos casos podem ser tratados com medicação e psicoterapia em um atendimento primário.

Como identificar

O professor Reis diz que é preciso prestar atenção, principalmente em sintomas como tristeza e angústia contínuas, sentimento de culpa e indisposição para praticar atividades que antes lhe davam prazer, sensibilidade e emoções a flor da pele. Sintomas físicos caraterísticos são alterações no sono, peso, dor de cabeça e até esquecimentos. 

Tratamento

Para a depressão, tão importante quanto tomar os medicamentos é tratar suas causas e não apenas os sintomas. A psicoterapia é o método que permite a cada pessoa libertar-se de seus medos e angústias. O terapeuta então, vai buscar a origem emocional do problema que provoca a perturbação e conduz o paciente a ultrapassar essa dificuldade que condiciona todo seu estado mental. 

Vidas perdidas 

No dia 22 de janeiro de 2016, o médico do Samu, Francis Giovanni Celestino,31, foi encontrado morto, dentro de seu carro, com um tiro disparado por ele mesmo, à beira de uma rodovia, perto de Sidrolândia. Para amigos e familiares, Francis era um pessoa extremamente feliz, mas a polícia acredita que ele não conseguia lidar com frustrações no trabalho, já que registrou boletim de ocorrência alegando que não tinha estrutura ideal para socorrer os pacientes. 

(Aparente felicidade foi interrompida por depressão e suicídio de Valquíria e Francis)

Em novembro do ano passado, um jovem de apenas 19 anos, estudante de odontologia se jogou do viaduto da Avenida Salgado Filho com a Avenida Ernesto Geisel. Ele chegou a avisar amigos sobre o que faria, mas o grupo não conseguiu evitar a tragédia.  

Embora amigos e familiares soubessem de seu quadro depressivo, não conseguiram evitar que a médica Valquíria Feitosa Patrício Gomes tirasse a própria vida, e a do filho de apenas dois anos, no Bairro Itanhangá Park, também no final de 2016. 

Para quem quer tirar dúvidas ou buscar apoio, em Campo Grande existe o GAV (antigo CVV), que funciona pelo telefone 141. Em caso de emergência, a pessoa também pode acionar o 193 (Corpo de Bombeiros); 190 (Polícia Militar) e Samu (192).

Curso 

De 7 de março a 7 de novembro, acontece o Curso de Prevenção ao Suicídio, às terças e quartas-feiras, na Faculdade de Medicina da UFMS. O evento é ministrado pelo teólogo pós-graduado em Saúde Mental, Edilson Reis. O curso é gratuito e as inscrições podem são feitas somente pelo e-mail: prevencaodosuicidio@gmail.com. 

 

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