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Cidades

21/02/2018 07:00

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Tema de novela, pedofilia é realidade em muitos lares e dilacera almas

Após denúncia da personagem Laura contra o padrastro, mulheres de MS resolveram abrir o coração

Depois de adulta, Laura senta em frente a um juiz e conta o que aconteceu quando ela tinha oito anos, mas que só se lembrou após um tratamento de hipnose, incentivada por uma amiga. No tribunal, Laura chora. Seus olhos representam desespero. O padrasto abusava dela, a deixava cheia de marcas e dizia que “iria morrer” se contasse para alguém.

Acima de qualquer suspeita, o bom homem, era venerado pela mãe de Laura, que não acreditou na filha. “Eu vivia cheia de manchas, de marcas, machucada. E você não percebia mãe?”.

A cena é da novela “Do Outro Lado do Paraíso”, mas por mais indignante que seja, acontece todos os dias nos lares brasileiros e muita gente ainda fecha os olhos, causando traumas incríveis em crianças e futuras mulheres e homens, problemáticos e que vivem um drama, muitas vezes eterno.

Como o tema é importante ser debatido, o TopMídiaNews conversou com mulheres que aceitaram dividir suas dores, desde que ficassem anônimas. Inicialmente, tudo começou pela conversa da novela. Pelo fato de ser um “tema pesado” discutido em um grupo de mães – Mamães Caçam Promoções – no whatsapp que reúne nada menos do que 256 mulheres.

Maria, 36 anos, dois filhos biológicos e uma filha adotiva

Aos 15 anos, Maria já era mãe, chamada de biscate e “vagabunda” porque engravidou adolescente. “Mas ninguém sabia, ninguém sabia. Eu nem sabia, achava que era obrigada a aceitar. E fui mãe nova, casei nova para fugir. Eu só tinha sete anos, eu não sabia de nada ainda. E só descobri o que realmente acontecia quando eu tinha uns 12 anos. No interior, a gente não era assim, para frente como dizem hoje. Mas aquilo foi se tornando cada vez mais nojento. Ele era meu pai e fazia aquelas coisas comigo. Pegava em mim, em partes que ninguém poderia, como ele mesmo dizia, mas só ele”, conta com o olhos banhados em lágrimas.

O assunto fluiu após contar porque acolheu uma menina de 12 anos. “Eu soube que ela sofria abuso. Eu também sofri. Daí, queriam que eu levasse para a casa do meu pai. Não, eu dei um grito. Não! Foi um grito de libertação também. Porque tive que me abrir com a família, mas no fundo acredito que nunca mais vou ter liberdade”.

Com a filha biológica, de 12 anos, ela conversa e explica. “Não pode tocar, não confie mesmo em ninguém. Só eu sei o que posso proteger ela. Porque, nem meu pai e minha mãe me protegeram, não vou deixar acontecer isso com ela, eu sou capaz de matar”.

Lia, 22 anos, mãe de duas crianças “de colo”

“Eu acho que nem consigo falar disso, porque era muito ruim. Meu tio fazia aquilo e falava que eu ia morrer se contasse. Depois falava que eu gostava. Mas eu só tinha 9, 10 anos, nem sabia o que era gostar ou não daquilo. Mas lembro desde muito pequena ele mexendo em mim. Ninguém nunca acreditou, nunca, em casa, não acreditavam. Eu casei cedo para fugir”, conta sobre o casamento.

Lia explica que nem dá tão certo, mas pelo menos o marido respeita quando ela não quer que a toque. “Somos imaturos, eu acho, mas ele sabe que eu não consigo. Sexo dói às vezes.

"É ruim, me deixa revoltada, com nojo. Ele quando fazia aqui, dizia que não ia me machucar, e fazia as coisas na boca, no corpo, dizia que ia me deixar moça ainda, mas como moça? Ele tirou minha inocência”.

Sem nomes, 31 anos, uma filha de dois anos "que não vai no colo de ninguém"

“Que eu começo a me lembrar... tinha uns 9, 10 anos...”, diz ela, aos 31 anos, sem nem querer dar nome direito. “Não sei dar certeza se antes disso não acontecia. Era um tio irmão da minha mãe, lá no Rio de Janeiro. Hoje enfrento problemas para me relacionar com as pessoas, estar em lugar público, me expor, ansiedade enfim... um trauma muito grande não consigo esquecer”, conta com lágrimas nas palavras, de quem não esquece o que aconteceu, mas que sente um pavor imenso de nominar.

Como muitas vítimas, mais uma que não denunciou. A liberdade veio só esse ano. “Não denunciei porque era criança, consegui contar esse ano pra minha mãe e meu marido, com a intenção de proteger a minha filha. Tive que falar quem é  e pedi pra não deixar nem chegar perto, tamanho o pavor.

“Não deixo minha filha ir no colo de homens e até dos avós eu evito, quem dirá gente estranha. Eu morro de medo que aconteça isso com ela”, confessa entre pedidos de não exposição. “Ele era acima de qualquer suspeita. Minha mãe mesmo dizia. Ela disse que desconfiava mas por ser ele uma pessoa de "boa reputação " ela evitou falar sobre e disse que agora é tarde demais. Jogar isso na família seria uma destruição total, e não vou mexer com isso, para me preservar”.

Em grupo, mulheres se ajudam a buscar “liberdade”

Fundadora do grupo de mães, Rafaela disse que ficou um nó na garganta. “Ao ler cada relato de estupros, dificuldades, violência...a pobreza tal como é...”, diz ela com as reticências de quem sabe o quanto é importante falar da dor. “A cada vez que leio essas mamães, fico coração partido. Quão frágeis e guerreiras essas mulheres são, e é importante falar disso, propagar, orientar”.

Ela elogia a atitude de abrir o espaço para traumas tão grandes. “Isso não é só acalentar almas machucadas, mas também levar informações pra que outras pessoas nao passem por isso”, sugere.

Quando termina a conversa com Rafaela, uma outra mulher procura a reportagem. “Eu ainda não consigo falar, quem sabe um dia. Um dia eu vou tirar essa dor do meu peito”.

Abuso sexual de crianças e adolescentes é crime, denúncie

O TOPMIDIA abre o espaço para vocês. E informa: qualquer violação pode ser denunciada anonimamente pelo Disque 100, procurando o Conselho Tutelar mais próximo ou mesmo a DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente). 

Precisa encontrar o Conselho Tutelar de sua Região? 
Aqui listamos os endereços e contatos dos três CT's de Campo Grande/MS:

CONSELHO TUTELAR SUL
Avenida Arquiteto Vila Nova Artigas S/N  - Bairro Aero Rancho
Telefone: 67-3314-6367 e 3314-6370
Celular de Plantão (após 17:30): 98405-9530

CONSELHO TUTELAR NORTE
Travessa São João Bosco Nº 49 - Bairro  Monte Castelo
Telefone: 67-3314-6366 e 3314-6371
Celular de Plantão: 98405-9529

CONSELHO TUTELAR CENTRO
Rua Sebastião Lima Nº 1297 - Bairro Monte Líbano
Telefone: 67-3314-4337 e 3313-5027
Celular de Plantão: 98469-1183

O TOPMIDIA abre o espaço para vocês. E informa: qualquer violação pode ser denunciada anonimamente pelo Disque 100, procurando o Conselho Tutelar mais próximo ou mesmo a DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente). 

 

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