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Ciência e Tecnologia

Programa de Doação de Corpos da UFMS será implantado este ano

Com a ausência de recepção de cadáveres para os estudos anatômicos há 12 anos, a UFMS inicia programa

20 março 2018 - 18h29Por UFMS
Programa de Doação de Corpos da UFMS será implantado este ano

Por sua natureza tridimensional, fidelidade da estrutura real e pela humanização implícita em seu manuseio, o uso dos cadáveres é um diferencial na formação dos profissionais da área da saúde.

Com a ausência de recepção de cadáveres para os estudos anatômicos, há 12 anos, a UFMS inicia o “Programa de Doação de Corpos”, que não só refletirá na melhoria da qualificação dos profissionais de saúde formados na Instituição, como também irá contribuir para o aumento do acervo do Museu de Anatomia, implantado em 2009.

Já aprovado pelo Comitê de Ética, o programa de extensão aguarda análise jurídica e definição dos termos do contrato que deverá ser assinado em cartório pelos doadores, com reconhecimento de firma, e com testemunhas, para que se cumpra a legislação.

Para isso, será criado um link vinculado ao site da UFMS, onde o doador poderá fazer download dos formulários exigidos.

“O corpo do falecido pertence aos parentes diretos em primeiro grau e essas pessoas precisam saber da intenção do doador, já legalmente reconhecida, para que a doação seja cumprida no momento do óbito. Esse corpo terá uma tramitação diferente, o registro de óbito será específico”, explica a professora Jussara Peixoto Ennes, responsável pelo setor de Anatomia Humana da UFMS.

Assim que o programa estiver instituído, ainda esse ano segundo a professora, será realizada campanha para que as pessoas saibam o que devem fazer na hora de doar. A Instituição já registrou a procura de algumas pessoas interessadas, mas até então não havia um instrumento legal para receber as doações futuras dos corpos.

“Acredito que a procura será grande. Desde que começamos a desenvolver as bases para implantação do Programa de Doação de Corpos da UFMS, em 2009, sistematicamente somos procurados por pessoas que desejam doar seus corpos pós-morte para estudo. Acho que a procura vai suprir as nossas necessidades e poderemos até direcionar cadáveres para outras instituições da cidade e quem sabe até do Estado”, enfatiza a professora.

O setor de Anatomia Humana está preparado para o recebimento dos corpos, já contando com nova câmera fria e arquivo.

Acervo

Com o aumento do número de cursos e do número de alunos nas áreas de saúde, boa parte do atual acervo acaba sendo usado mais para contemplação, em vista do grande desgaste das peças no manuseio constante. As dissecações estão sendo feitas apenas pelos professores orientando alunos em projetos.

“O acervo é o mesmo desde que a Universidade existe, claro que foram incorporadas peças, mas ele está limitado há 12 anos”, expõe Jussara.

Lei Federal determina que os corpos de pessoas indigentes sejam encaminhados para as escolas que tenham os cursos de Medicina, mas há cerca de uma década, dificuldades no cumprimento dessa lei resultaram na crise de aporte de corpos não reclamados às instituições de ensino em todo o país.

Segundo a professora, essa não é uma questão local, mas outros estados conseguiram contornar essa situação por meio de programa de doação de corpos.

“Nos países do Hemisfério Norte não existem problemas com falta de corpos porque também possuem programas. Eles já migraram do uso de cadáveres para outros recursos como modelos, mesas anatômicas de alta tecnologia, softwares, entre outros, que dispensavam o cadáver. Mas fizeram uma pesquisa longitudinal com relação ao erro médico e descobriram que um dos fatores que estava relacionado a esses erros era o ensino de anatomia sem cadáveres. Então retomaram o uso da anatomia clássica, da dissecação, voltando a ter a carga horária proporcionada por essa técnica”, expõe Jussara.

Essas discussões também ocorreram no Brasil, mas os exemplos de outros fizeram com que fosse resgatada essa questão da anatomia no ensino e na diminuição de erro médico.  A professora destaca que nem sobre o aspecto técnico, nem sobre o humanístico, há como substituir o corpo humano nas aulas de anatomia.

“O cadáver provém de uma pessoa, o aluno toca em um órgão verdadeiro. E o fato de estar humildemente se submetendo para contribuir para o aprendizado desse aluno desenvolve nele uma visão humanizada, que nenhum outro recurso pode substituir. Além disso, para a pesquisa não há condições de descobrir estruturas ou identificar as variações anatômicas se não houver um número x de exemplares de seres humanos para se verificar. São estudos que só podemos realizar com os cadáveres”, afirma.

O próprio Museu de Anatomia da UFMS poderia ter mais peças se houvesse um aporte maior decadáveres. Hoje, o acervo perene tem aproximadamente 50 peças. “Em função de não termos muito recursos para colocarmos mais peças, que poderiam estar expostas nesse acervo, fazemos ações, com mostras expandidas”.

No ano passado, no Projeto de Extensão “Museu de Anatomia em Estações de Ciência”, a Anatomia Humana apresentou o Sistema Locomotor, o Sistema Nervoso e a Anatomia Regional de Cabeça e Pescoço, juntamente com a participação de outras coleções requintadas do INBIO, como a da Zoologia e da Anatomia Veterinária. Este ano estão previstos os Sistemas Circulatório e Nervoso.

“Vamos modificando o conteúdo para apresentar o que temos de mais precioso e requintado para a comunidade, material esse que merece e que tem recebido todo o nosso cuidado”, completa Jussara.