Ele tem apenas 18 anos e já coleciona os primeiros lugares da principal feira de ciência e tecnologia do mundo, a Intel International Science and Engineering Fair (Intel Insef), realizada no Arizona.
Luiz Fernando da Silva Borges, nascido e criado em Aquidauana, é reconhecido mundialmente pelos projetos em engenharia biomédica, na categoria cérebro-máquina, e foi homenageado com um asteroide batizado com seu nome. Atualmente, o cientista pantaneiro desenvolve um projeto para comunicação de pacientes em coma e estado vegetativo, o Hermes Braindeck.
Em conversa com a reportagem do TopMídiaNews, Luiz Fernando contou sobre a vida acadêmica, profissional e a paixão pela área pouco incentivada no Brasil.
Nascido em um bairro violento de Aquidauana e filho de mãe professora, o jovem foi criado dentro de casa assistindo canais educativos. A infância é resumida entre a escola e documentários sobre a vida de cientistas. Com 8 anos, ele tomou conhecimento da Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace), onde estudantes podiam expor os trabalhos acadêmicos.
“Coloquei como objetivo participar dessa feira porque o que passava na propaganda era similar ao que eu fazia em casa, desmontar brinquedos com chave de fenda e mexer com fios, motores e luzes”.
Primeiros passos
Sem o apoio escolar na época, em 2013, ele ingressou no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) com o intuito de desenvolver pesquisas científicas. Durante as primeiras aulas, se interessou por uma máquina de xerox de DNA. Luiz Fernando uniu os conhecimentos em informática e, com R$ 950, criou o projeto capaz de comprovar paternidade por meio da mudança de temperaturas. No ano seguinte chegou até a Febrace e levou o 4º lugar na área de engenharia. Em 2015, foi agraciado com o 1º lugar e conseguiu a credencial para a Intel International Science and Engineering Fair.
Em paralelo, o cientista criava um novo método de controle de próteses na área de pesquisa de interface cérebro-máquina. Com o processamento de dados, na primeira parte do estudo, ele descobriu como extrair sinais cerebrais e transmitir para o computador por meio de um programa de inteligência artificial.
“Hoje em dia o sistema de prótese é muito arcaico, ele só funciona abrindo e fechando a mão. Eu descobri uma maneira melhor de captar atividade muscular do corpo de pessoas amputadas e enviar para o computador. Muito mais preciso. Precisão suficiente para digitar um teclado e tocar piano.”
A segunda parte foi a restauração da sensibilidade tátil. Vestindo uma “manga”, ele treinou o cérebro da pessoa amputada para que ela sentisse as vibrações nas extremidades do membro que não existia mais.
Com esse software, o estudante levou os primeiros lugares na área de Engenharia Biomédica da Feira no Arizona e conseguiu premiações históricas para o Brasil. Recebeu também o prêmio do Memorial de Philip V. Streich e foi até Londres para participar de um fórum científico para jovens, promovido pelo Colégio Imperial. Além disso, teve um asteroide batizado com seu nome.
Reconhecimento
Com 17 anos e uma carreira brilhante sem ao menos ter entrado no mercado de trabalho, o aluno participou no ano passado de um evento sobre inovação e foi abordado por um investidor-anjo.
“Eu tinha uma ideia em mente, mas não tinha condições financeiras já que todos meus projetos foram bancados pelos familiares. Em parceira com o investidor, criamos uma Startup e comecei a desenvolver um aparelho capaz de extrair atividades elétricas do cérebro de pessoas que estão em coma ou estado vegetativo”.
Batizado de Hermes Braindeck, o dispositivo consiste em uma touca capaz de captar o pensamento da pessoa, convertendo em palavras, sem o uso da visão. O paciente usa um fone de ouvido onde são dadas instruções e, se ele estiver escutando, o aparelho detecta e estabelece um grau de comunicação entre a pessoa e o ambiente exterior.
Para ser implantado nos hospitais, o software precisa ser aprovado pelo Comitê de Ética de Brasília. Luiz Fernando conta que a legislação que rege a pesquisa médica no Brasil exige um protocolo avaliado se poderá ser testado ou não.
A Santa Casa de Campo Grande assinou um termo de consentimento para que a fase clínica seja realizada no local. Assim que testado em pacientes em coma, qualquer pessoa do país poderá solicitar o serviço.
Inspiração
O cientista afirma que a principal motivação deste estudo foi a bisavó que, em 2008, entrou em estado de coma e não conseguia se comunicar com os familiares.
“Minha bisavó tinha algumas feições e demonstrava tristeza. Algumas pessoas entram neste estado e vão para a morte, como ela. Elas não têm a dignidade de dizer suas ultimas palavras, estão presas a uma prisão exatamente do tamanho do seu corpo. Então se você tem uma tecnologia para pelo menos dar dignidade pra essas pessoas, por que não fazer?”