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06/09/2017 07:00

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Diagnosticada com infecção de ouvido, criança morre de meningite na Capital

Pais acusam hospital de negligência no atendimento a menino de 4 anos

Moisés  Eduardo R. Silva Santos era uma criança iluminada. Por onde passava, as covinhas no rosto do menino chamavam a atenção de quem recebia seu sorriso. Nascido em Aquidauana, o garoto moravam com os pais e a irmã de 8 anos em um clube da cidade.

Na quinta-feira de 24 de agosto, o cansaço e a moleza fizeram Moisés dormir na sala de aula. O ato chamou a atenção da professora, que alertou os pais do comportamento diferente da criança, mas ao chegar em casa, ele brincou e seguiu a rotina com a irmã.

Foi então, na tarde de segunda-feira  (28), que iniciou a triste história da família. Com febre e dores no ouvido, Moisés foi levado pelo pai, Danilo Silva Santos, até o Posto de Saúde do Bairro São Francisco para consulta médica. O clínico geral diagnosticou a criança com otite (infecção de ouvido) e orientou encaminhá-la para o Hospital Regional de Aquidauana caso a febre não baixasse.

No dia seguinte, com mais dores, vômitos e febre de 38,9 graus, os pais levaram a criança até o Hospital Regional. Após triagem, ele foi consultado novamente por um clínico geral. O pai questionou o atendimento e solicitou a presença de um pediatra, que lhe foi negado. 

Segundo a mãe da vítima, Jucimara Rodrigues da Luz, o médico afirmou que “não poderia fazer nada” e que a família deveria esperar ao menos 15 dias, tempo para o tratamento contra a otite fazer efeito.

 Em casa, Moises, com apenas 4 anos, se revirava de dor. O ouvido inflamado não permitia que ele ouvisse vozes e nem falasse. No dia 30 de agosto, a criança não apresentava sinais motores e foi levada às pressas para o Hospital com uma febre beirando os 40 graus. O pai então suplicou ao estabelecimento a consulta com um pediatra, mas o que obteve foi um clínico geral, que receitou uma injeção de Benzetacil para estabilizar o quadro enfermiço do garoto. Os pais afirmam que, em nenhum momento, fizeram exames na vítima.


Foi às 4h de sexta-feira (1) que Moisés deu um suspiro de dor enquanto dormia ao lado da mãe. Ao acender as luzes, a mulher encontrou o filho espumando pela boca e sem reação no olhar. A família encaminhou a criança às pressas novamente para o Regional.  O coraçãozinho não aguentou e teve uma parada, acompanhada pela febre de 39.6 graus. 

Visto o estado crítico da criança, ele foi levado para a Santa Casa de Campo Grande onde, na mesma manhã, foi atendido por uma pediatra que diagnosticou Meningite Bacteriana. Conforme o pai, a médica ficou em choque ao ver o estado gravíssimo em que o garoto chegou na Santa Casa. Ele foi submetido a uma cirurgia para retirada de líquido no cérebro e ficou internado na Ala Vermelha.

Foram 24 horas de sofrimento e semblantes entristecidos até a última parada cardíaca do menino de 4 anos. Pelos corredores, enfermeiros e médicos sensibilizavam-se com a dor de uma família que tratava uma criança enferma com remédios para otite. Ele paralisou os braços, o pescoço, a fala e, por último, o coração. Às 9h15 do último sábado (2), Danilo e Jucimara deram adeus ao pequeno que foi gerado com zelo e amor. 

Na residência onde a criança morava, os pais guardam com carinho os brinquedos preferidos e a mochila da escola. 

“Meu filho iluminava onde chegava. Todo mundo queria pegar ele no colo e ele poderia estar em meus braços se tivesse sido atendido por um pediatra e diagnosticado a meningite logo no começo.”

Danilo ainda lembra que em uma das visitas ao Hospital, ficou sabendo que havia uma médica pediatra no local e implorou para que chamassem a especialista.  

“Ela estava de plantão, eu sabia. Me confirmaram a presença dela, mas não deixaram meu filho passar por uma consulta, mandaram ele com 4 aninhos para um clínico geral, mesmo com febre alta durante toda a semana”.

Os olhos se enchem de lágrimas quando a mãe relembra a dor que o menino passou durante os dias em que estava sendo medicado de forma errônea. É com a voz embargada que ela diz que não quer que outras mães passem pelo sofrimento de perder um filho devido uma falha de atendimento do Hospital.

“Não quero processar, não quero dinheiro, não quero nada deles. Eu só quero que o meu caso sirva de alerta para outras mães que possam ter o atendimento com um pediatra negado.”

Já para o pai, o que sobra é um sentimento de revolta. Ele relata que, após a morte da criança, recebeu inúmeros telefonemas e, inclusive, a visita do médico do Posto de Saúde.

“O médico do Posto não tem culpa porque ele não tem estrutura suficiente no local. Eu fiz conforme ele orientou, levei meu filho para o hospital quando a febre não baixou. Depois que aconteceu o pior, diversos secretários me ligaram, mas aí não adiantava mais nada. Quero que puxem o histórico do Moisés no hospital para verem quantas vezes levei ele lá durante a semana. Quando chegou na Santa Casa, eu perdi meu filho em menos de 24 horas.”

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