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Gestante é chutada na barriga durante briga; mulher acusa liderança de omissão

Em contrapartida, liderança do novo cacique culpa a Funai

22 março 2018 - 19h00Por Bruna Vasconcelos

O impasse entre caciques na Aldeia Lagoinha, em Aquidauana, terminou em pancadaria na tarde de segunda-feira (19), durante reunião na escola Reginaldo Miguel. Tamires Barros, moradora da comunidade e grávida 4 meses, acabou agredida com um chute na barriga e precisou ser encaminhada para o hospital. A denúncia foi feita hoje ao TopMídiaNews.

O cabo de guerra entre os caciques Orlando e Loudemir teve início quando após a eleição de cacique, há cerca de um ano, Loudemir venceu o rival nas urnas. Com o passar do tempo, a comunidade teria mudado de opinião e decidiu eleger o pastor Orlando como o novo líder. A partir daí, a Funai não teria aceitado a nova eleição e uma briga entre os dois candidatos foi traçada.

Na segunda-feira, as portas da escola indígena foram abertas para emitir declarações e transferências. Um desentendimento entre os defensores do ex-cacique e os partidários do pastor chamou a atenção da comunidade e um verdadeiro caos se formou na instituição.

Tamires Barros decidiu ir até o local com o marido após ouvir os gritos de casa. A mulher, que está grávida de 4 meses, ficou no meio da confusão até ser abordada pela suposta agressora. Tamires contou que ficou surpresa quando Elineide Paes chegou com berros de ordem afirmando que a mulher não poderia estar lá porque “não era indígena”. Ainda de acordo com a gestante, ela teria retrucado dizendo que poderia participar da reunião pois é moradora da aldeia e quem não deveria estar no local era Elineide.

“Elineide é esposa do atual coordenador da escola, mas não é moradora da aldeia. Ela é professora e muita agressiva. Depois de mandar eu ir embora, começou a falar que era melhor que eu porque tinha estudo, mas eu prefiro não ter estudo e ter caráter”.

Com o bate-boca, a suposta agressora teria dado um chute nas pernas da gestante. Neste momento, a comunidade interviu e segurou a mulher, mas ela teria conseguido se soltar e partiu pra cima da Tamires dando um segundo chute, desta vez na barriga.

A jovem precisou ser encaminhada para o hospital onde passou por exames de sangue que comprovaram a gravidez. Dois ultrassons foram necessários para garantir que mãe e bebê estivessem saudáveis. 

Tamires procurou a Delegacia Civil de Aquidauana e registrou um boletim de ocorrência por agressão. Os investigadores teriam informado que esta não é a primeira vez que um caso de briga é lavrado contra a esposa do coordenador.

Moradores da Aldeia Lagoinha procuraram a reportagem do TopMídiaNews e afirmaram que, se a briga entre os caciques não cessar, coisas piores podem acontecer. A comunidade também confirmou que os envolvidos na briga generalizada na escola estavam armados com facas e não aceitavam a mudança de líder.

“As pessoas que fazem parte da liderança do ex-cacique (como a agressora) ficaram omissas quando ela me chutou. Ela já foi com a intenção de brigar porque estava usando bota de salto alto e o pessoal estava armado. Depois de ser chutada eu fiquei quieta no meu canto chorando. Agora o médico pediu que eu passasse a gravidez em repouso.”

“A culpa é da Funai”

Toda a desordem que esta assolando a Aldeia Lagoinha tem apenas um responsável: a Funai. Isto é o que afirma a atual liderança do cacique Orlando Moreira. Para os líderes, a comunidade indígena tem o direito de eleger e tirar as pessoas do poder, não competindo à Funai na escolha. Ainda conforme os atuais comandantes, a Funai não acatar a decisão da troca de caciques é um afronto aos indígenas .  

“O povo elege, o povo tira. Essa agressora nem mora na aldeia, elas estava na escola brigando por vagas na instituição para a família dela. Falo com toda a certeza quando culpo a Funai pela briga que se tornou aqui. A Polícia Militar chegou a ser acionada e falo sem medo de errar que a culpa é do Paulo Rios, atual coordenador da Funai. Ele não quer que o cacique que escolhemos assuma o cargo por questões políticas.”, afirma um dos líderes.

A reportagem teve acesso ao documento emitido pela Fundação onde garante que não é atribuição da Fundação Nacional do Índio fornecer declarações de reconhecimento de lideranças tribais.