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Sucursal Pantanal

Sem ponto eletrônico, médico do CEM de cidade em MS trabalha 'quando quer'

Administração diz que, por ele ser concursado, única coisa que pode fazer é descontar da folha de pagamento

16 dezembro 2017 - 15h15Por Bruna Vasconcelos

Se marcar uma consulta com um especialista no Centro de Especialidades Médicas pode demorar semanas e até meses, a situação fica ainda mais preocupante quando o médico falta constantemente sem dar satisfações. Esse é um dos problemas que a população de Anastácio vem sofrendo quando precisa se consultar com o único cardiologista do local.

Pelo menos uma vez na semana o especialista não comparece ao local, mesmo com número mínimo de pacientes para atender por dia. O relato foi feito por servidores que precisam encaixar os pacientes em outros dias e procurar saber o porquê da falta. Ainda conforme os funcionários, são raras as vezes que o profissional avisa antecipadamente ou apresenta algum atestado. A situação já se arrasta por anos e tem gerado transtorno às pessoas que madrugam para comparecer a consulta, sempre marcada entre as 6h e 7h.

“Alguns pacientes vêm da zona rural e chegam aqui às 5h. Teoricamente, ele precisa atender 10 pessoas por dia, mas se no prontuário só tem, digamos, duas, a hora que ele fecha a porta do consultório, ninguém mais pode pedir cadastramento ainda que ele esteja em horário de trabalho”.

Exemplo foi no dia 30 de outubro, quando dez pacientes aguardavam ser chamados e foram informados que o médico não compareceu no Centro e também não atendia o celular. Ainda de acordo com quem trabalha no CEM, ele é o único profissional da saúde que não assina o livro ponto. As desculpas, segundo os servidores, são as mais criativas possíveis.

No dia 30, o cardiologista informou que não foi trabalhar, pois não atendia no mesmo dia em que o psiquiatra e seus assistidos estivessem no ambiente. Além disso, falta de energia em casa, dificuldades em abrir o portão e falta de lugar para estacionar nas redondezas também já foram justificativas usadas pelo profissional.

Outra situação que revoltou os funcionários teria sido durante a assinatura das férias do médico. Informado que deveria comparecer na Secretaria de Saúde para assinar o documento, ele teria se recusado a ir até o local. Para “evitar dor de cabeça”, um servidor da prefeitura teria levado o papel até seu consultório particular.

Superiores já foram informados

A reportagem conversou com Everton Constâncio, coordenador do CEM, que confirmou estar ciente de todas as ocorrências em relação ao cardiologista. 

“Assumi o Centro faz um mês. Nunca existiu a cultura de se cobrar médico no município. Eu quem implantei o ponto e ainda existe a dificuldade do médico de aceitar ordens, por questão cultural. Nem todas as justificativas dele são plausíveis então todas as faltas eu mando para o RH descontar da folha de pagamento. Nunca fechamos os olhos, mas, neste momento, o desconto é a forma como encontramos para penalizar o servidor, que é concursado.”

Everton ainda conta que ligou pessoalmente para o médico na segunda-feira perguntando o motivo da ausência. Ele teria dito que havia comunicado à secretária, mas em conversa com a mulher, não “teria sido bem assim”.

“Eu sempre tento falar o real motivo para os pacientes e encaixá-los para a próxima semana. Quando ele falta, sempre tentamos nos organizar. Nós entendemos que por ser funcionário público, ele pode faltar, desde que não receba.”

Mudanças estão sendo estruturadas

O Centro de Especialidades Médicas deve passar por mudanças a partir de janeiro do próximo ano. Atualmente o local abre às 6h, por conta do cardiologista que às 7h atende no presídio, e passará a abrir uma hora mais tarde. Pontos eletrônicos também devem ser instalados para um melhor controle dos funcionários.

“Vamos readequar a classe médica para atender melhor a população. Essas mudanças serão realizadas a pedido da secretária de Saúde”, finaliza Everton.