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Entrevistas

Na direção de presídio, Marco Aurélio defende ressocialização por meio de oficinas e cursos

Além de fabricar móveis em madeira, os internos também se profissionalizam em diversas áreas na Unidade Prisional de Aquidauana

27 novembro 2017 - 15h50Por Bruna Vasconcelos

Trabalhando no Sistema Penitenciário desde 2001, o diretor do Estabelecimento Penal de Aquidauana (EPA), Marco Aurélio Sales, vem ganhando destaque a nível estadual por incentivar e implantar cursos e oficinas para os detentos do município.

Natural de Ribeirão Preto (SP), Marco Aurélio assumiu o EPA em setembro do ano passado e decidiu dar ênfase aos trabalhos manuais a fim de regenerar e profissionalizar os detentos, priorizando a humanização das pessoas. Na sua gestão, já foram confeccionadas lajotas ecológicas, camas em madeiras (doadas ao Asilo São Francisco), além de mobiliário para a Unidade Prisional e Delegacia de Anastácio.

Em conversa com o TopMídiaNews ele conta porque acredita na ressocialização do preso por meio de atividades que beneficiem a sociedade. Confira:

TopMídiaNews: Quando iniciou no funcionalismo público?

Marco Aurélio: Minha carreira começou em 1999, eu fiz o curso para agente penitenciário e, no primeiro concurso que eu fiz, eu passei na CLT, só tinha contrato de dois anos. Depois em 2001 fiz outro concurso e passei para efetivado. São várias etapas, começa como agente, depois passa para Chefe de Equipe, Chefe de Segurança, depois passei para Chefe dos Internos e, no final do ano passado, assumi a direção.

TopMídiaNews: Como surgiu a ideia de dar ênfase às oficinas?

Marco Aurélio: Quando assumi já existia a fábrica de tijolos, mas não era aproveitado, aí surgiu a minha ideia de fazer lajota. Um dia, em reunião com o Juiz da Comarca de Aquidauana, ele me contou que queria calçar uma escola. Então eu dei a ideia da lajota ecológica, ele gostou do modelo, compramos a matriz e começamos a produção.

TopMídiaNews: Quando as atividades da sua Unidade Prisional começaram a fazer diferença para a sociedade?

Marco Aurélio: Aí surgiu a marcenaria. O delegado de Anastácio falou que tinha uma madeira apreendida lá e eu fiz o pedido ao juiz e consegui a madeira. Além de móveis para a Unidade, também fizemos uma doação de seis camas para o Asilo São Francisco, tudo com mão de obra de interno. Depois fizemos, com madeira também de doação, mesas e bancos para a Pestalozzi. 

TopMídiaNews: Quantos presos participam das ações?

Marco Aurélio: Hoje tenho 146 internos e 60 estão trabalhando. 

TopMídiaNews: Qual importância dos cursos?

Marco Aurélio: Além do interno ter um profissionalismo, uma habilidade a mais, muda o comportamento dele, muda tudo. Ocupa a mente com uma coisa útil. A situação de quem sai daqui sem um aperfeiçoamento desses, geralmente volta (ao mundo do crime). 

TopMídiaNews: Quais foram as melhorias que os internos apresentaram após começarem a trabalhar?

Marco Aurélio: Muitas, principalmente no pessoal que faz cursos. Já senti uma melhora grande. De junho pra cá já fiz cinco cursos, o interno se dedica mais às coisas que aprende. O de processamento de couro muita gente gostou porque é um trabalho que eles vão aproveitar lá fora, ele pode ganhar dinheiro e não se envolver mais no mundo do crime.

(Curso de processamento de couro)

TopMídiaNews: Como você se sente como profissional, fazendo essa mudança na vida de alguém que está sendo penificado?

Marco Aurélio: Me sinto honrado de fazer a diferença na vida de uma pessoa dessa. Tentar mudar a vida de alguém é muito importante. Eles me encontram lá fora e me cumprimentam, muitos me agradecem. É muito gratificante. Você vê que eles estão gostando da iniciativa e estão agradecendo de coração.

TopMídiaNews: E sobre as pessoas afirmarem que quem entra em uma cadeia sai pior?

Marco Aurélio: Muitos cometem crimes por causa das más companhias, dificuldades financeiras, às vezes a pessoa vai no fervor da hora, tem homicídio que você sabe que o cara fez no calor do momento. Sair pior daqui vai depender do caráter da pessoa. Acredito na regeneração do ser humano, se eu não acreditasse não estava fazendo esses cursos, esses trabalhos, e nem dando oportunidade para eles. Eles erraram, mas precisam ser tratados como humanos e não como animais.

TopMídiaNews: O que falta então nas penitenciárias brasileiras?

Marco Aurélio: No meu ponto de vista, o Sistema Carcerário Brasileiro tem um grande defeito: cadeias muito grandes. Essas cadeias só pioram a situação. Porque os internos não têm tanta oportunidade quanto em uma cadeia pequena. Nas Unidades pequenas você pode trabalhar melhor a pessoa. Na minha opinião, o meu presídio não tem diferencial pelo cursos, eu só dei mais ênfase para dar essa oportunidade para os internos quererem mudar de vida.