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Entrevistas

Há 30 anos como garçom, Geraldo conheceu muitos famosos e ajudou vários pedidos de casamento

Famoso pela simpatia e profissionalismo, mineiro é ídolo da clientela de restaurante tradicional de Campo Grande

06 novembro 2017 - 16h45Por Amanda Amaral

O riso fácil, a fala calma e certa timidez de Geraldo já indicam, em primeiro contato, que o sujeito é boa praça. Aos 55 anos de idade, ele completa exatamente três décadas como garçom no restaurante Cantina Romana, um dos endereços mais tradicionais de Campo Grande, cheio de orgulho e história pra contar.

Querido pelos clientes, o mineiro acompanhou as mudanças da cidade ao ritmo em que tomava cada vez mais gosto pela profissão e as amizades que cultivou. Em entrevista ao TopMídiaNews, ele relata algumas de suas memórias e lições que aprendeu, para poder dividir, ao longo dessa trajetória. Confira abaixo o bate-papo:

TopMídiaNews: Quando chegou a Mato Grosso do Sul e começou a trabalhar como garçom?

Geraldo: Sou do interior de Minas Gerais e me mudei para Mato Grosso do Sul ainda criança, com a família. Vim primeiro para a região do Bolsão, aí morei em Corumbá e, com 25 anos, decidi vir para Campo Grande. Por melhores chances de conseguir emprego, cidade maior é melhor né, Capital sempre vai ter mais oportunidades de crescer. Sou de família bem simples, não tive a oportunidade de fazer uma faculdade, por exemplo.

Trabalhava em um laboratório, mas queria aumentar a renda. Então, fiquei sabendo da vaga no restaurante pelo meu irmão, que já trabalhava lá, e pensei ‘por que não?’. Eu nunca tinha trabalhado como garçom, a ideia era conciliar com o trabalho da manhã, porque lá eu servia à noite, mas foi ficando pesado e vi que valia a pena ficar só no restaurante. Quando cheguei, a casa já tinha nove anos mais ou menos de funcionamento, já tinha certo nome, mas cresceu muito com o passar dos anos.

TopMídiaNews: E como surgiu essa relação forte de amizade com os clientes?

Geraldo: Ah, nesses trinta anos eu conheci muita gente. Aprendi o valor em se tratar todo mundo bem, porque você não sabe quem está ali, todos são iguais e só querem se sentir especiais num momento de lazer, bem estar com a família, amigos, ou companheiros de trabalho. Tudo o que você faz de bom retorna de alguma maneira.

Por exemplo, esses dias precisei resolver uma questão burocrática e me informaram que eu não tinha todos os documentos necessários, teria que voltar outro dia. No meio da conversa, se aproximou o chefe do lugar, que me conhecia, e de toda boa vontade falou que dava pra resolver minha questão ali na hora. Então, quer dizer, a gente não faz as coisas por interesse, faz de bem, consequentemente faz amizades.

(Foto:Wesley Ortiz)

TopMídiaNews: E na correria do dia a dia, já pensou em abandonar a profissão?

Geraldo: Olha, nunca pensei. Sempre tive muito gosto em servir, fazer o que faço, acho que me encontrei como garçom. Gosto de atender as pessoas, nunca quis trabalhar em uma sala fechada, sem contato com gente nova, e essa é só uma parte do meu trabalho. Gosto de ver as pessoas satisfeitas, me deixa mesmo muito feliz. É essa satisfação que acho que acaba transmitindo no resto, as pessoas se sentem bem.

TopMídiaNews: Que dicas costuma dar para os novatos?

Geraldo: Então, uma das coisas que sempre falo é o quanto é importante tratar as pessoas pelo nome. Uma coisa simples, não custa nada, é só chegar, perguntar e gravar o nome do cliente, para da próxima vez já tratar ele com menos formalidade, estabelecer uma confiança. Quando a pessoa se sente especial, é muito além da comida boa que vai fazer ela voltar para o restaurante, é porque ela se sente bem tratada no lugar. É muito trabalho ser garçom, realmente, mas compensa de muitas maneiras.

TopMídiaNews: Muita gente diferente deve ter passado pelo restaurante, mas você se recorda de alguns clientes importantes, famosos?

Geraldo: Nossa, foram muitos. Já servi o Chico Anysio, a Dercy Gonçalves, o Galvão Bueno, vários. Esses tempos, atendi o lutador Minotauro, fiquei um tempo conversando com ele, que falou que nós dois somos campeões, ele do MMA e eu dos garçons, por estar tanto tempo na profissão. Até chegou a brincar que queria estar no meu lugar, de poder ficar conversando com a clientela em pleno expediente (risos). Mas o pessoal todo sempre foi muito bacana, muito profissional. O lugar recebe muita gente famosa, porque é referência já aqui, cantores, atores de teatro, por aí vai.

Geraldo, à esquerda; Nelson Piquet ao centro e um colega do restaurante. (Foto: arquivo pessoal)

TopMídiaNews: Tem alguma história marcante pra contar?

Geraldo: Difícil é lembrar de alguma específica, mas com certeza muita coisa já aconteceu. Presenciei muitos pedidos de namoro, de casamento, sempre dou uma ajudinha. As pessoas costumam pedir pra mim sugestão de como fazer a surpresa, que geralmente vem na bandeja, né, eu quem entrego (risos). A aliança às vezes vem no meio da sobremesa, ou na taça, teve cliente que quase engoliu o negócio! (Risos).

Recentemente, encontrei com os filhos de um casal que, a primeira vez que os atendi, estavam namorando. Esse ano, servi o filho deles que estava para casar. O tempo passa, a gente acompanha famílias se formando, várias mudanças acontecendo, é bonito fazer parte disso de alguma maneira, as pessoas se lembrarem.

TopMídiaNews: Deu para aprender bastante coisa também sobre gastronomia ou o prazer de um bom vinho?

Geraldo: Ah sim, aprendi a indicar o que harmoniza com o que, o que combina com o paladar da pessoa naquele momento. Gosto muito de vinhos, é legal conhecer mesmo, mas aprender a cozinhar... Nunca foi meu forte. Gosto bastante de comer (risos), mas preparo mesmo é um peixe, não tanto massas, que é o forte lá no restaurante. De resto, a gente aprende na rotina, mas também precisa se atualizar, fazemos cursos, estudamos, isso também enriquece o profissional.

TopMídiaNews: O que mais lhe orgulha nessas três décadas e quais seus planos de vida daqui pra frente?

Geraldo: Aqui fiz meu lar, minha família, conquistei coisas como a minha casa e terrenos para aluguel, me mantenho bem. Vim do nada, conquistei tudo com muito trabalho, de dia e de noite. Hoje trabalho só pela noite, gosto muito, mas não sei se é pra sempre, exige muito da gente. Gosto muito de viajar, conheço o Nordeste todo, o Brasil é lindo, cheio de riquezas e coisas pra ver, não sou de guardar dinheiro. Vivo a vida, sabe? Quem sabe um dia, se me deixarem sair do restaurante, eu não encontre meu cantinho numa praia dessas? (risos).