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Entrevistas

13/03/2017 16:55

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‘Qualidade de vida não deve ser temida’: Cirurgião esclarece mitos e verdades sobre bariátrica

Com 30 anos de profissão, Dr. Wilson Cantero tira dúvidas a respeito do procedimento que ainda é considerado polêmico para muitos

Método conhecido para perda de peso, a cirurgia bariátrica ainda é alvo de muitas questões controversas, por vezes sem embasamento científico. Para tirar dúvidas dos leitores do TopMídiaNews, conversamos com o médico Wilson Cantero, especializado nesse tipo de cirurgia e formado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em 1987, com mestrado na Escola Paulista de Medicina e doutorado também na UFMS.

Em uma conversa informal e informativa, o médico explica alguns pontos sobre o assunto:

Em termos simples, o que é a cirurgia bariátrica e para quem ela é indicada?

Fazendo um breve histórico, essa cirurgia surgiu na década de 50 nos Estados Unidos e desde então vem se aperfeiçoando. Ao longo do tempo várias técnicas foram testadas, algumas ficaram e outras não, por conta dos efeitos colaterais que causavam. Os estudos e pesquisas avançaram e chegamos hoje a basicamente dois tipos diferentes de cirurgia, que se conceituam como o ‘bypass gástrico’ e a ‘sleeve’, que é uma técnica que chamamos de restritiva, ou seja, só reduz a quantidade de alimentos que pode ser ingerida. São feitos pequenos ‘furinhos’, não se faz mais grandes cortes e em torno de 24 a 48h o paciente já pode retornar para se recuperar em casa.

Hoje os protocolos exigem que ela seja indicada para pessoas que tenham, ao menos, 30% a mais do peso considerado normal, com ou sem as chamadas comorbidades. As comorbidades são doenças que aparecem ou pioram com a obesidade, por exemplo, a pressão alta, diabetes, apneia do sono, doenças articulares ou ortopédicas, como lesões nos joelhos, quadril e coluna, entre outras.

O paciente tem que respeitar algumas regras para entrar na possibilidade de se realizar uma cirurgia. Na maioria dos casos, tem que ter mais de cinco anos de obesidade mórbida, não pode ser portador de doenças clínicas ou psiquiátricas que contraindiquem a cirurgia, não pode ter vícios em substâncias lícitas ou ilícitas, como o álcool e drogas. Também é preciso que se esteja na faixa entre 16 e 75 anos na rede privada, e até os 100 anos pelo Sistema Único de Saúde, como preconiza o Ministério da Saúde.

E como são classificados esses níveis de obesidade?

São três níveis. A do grau dois já é chamada de obesidade severa e a grau três de mórbida, quando o índice de massa corpórea (IMC), que é uma das maneiras de se calcular o grau de obesidade de uma pessoa utilizando a altura e o peso, atinge níveis máximos.

Geralmente, é indicada somente como última alternativa, ou seja, para o paciente que já esgotou outras tentativas de emagrecimento?

Na verdade, a cirurgia foi criada para como a última medida na escala. Deve-se, acima de tudo, tentar o tratamento clínico de todas as maneiras, de maneira dietética, medicamentosa, através de atividades físicas, uso de balão intragástrico, por aí vai. Quando há insucesso nesses tratamentos, após dois anos, aí você indica o procedimento cirúrgico.

O tratamento psicológico pré e pós operatório é fundamental em todos os casos? Quais as etapas de avaliação?

Em relação à avaliação psicológica, talvez ela seja a mais importante de todas. Se o paciente não estiver equilibrado, ele não pode continuar. Isso é parte do que chamamos de equipe multidisciplinar. Não basta só o cirurgião, é preciso uma preparação antes de cerca 30 a 40 dias, onde se passa por avaliações psicológicas e psiquiátricas, endocrinológica, anestésica, cardiológica e nutricional. Por vezes, se adiciona profissionais ortopedistas e outras ciências e, no geral, o paciente só vai pra sala de cirurgia após passar por todo esse processo, depois que forem emitidos todos os laudos que comprovem a necessidade do procedimento.

Quais são os principais mitos e receios de quem lhe procura?

O grande medo de quem pretende realizar uma cirurgia de grande porte é, sem dúvida, o de morrer. Todos temem a complicação, mas os índices de mortalidade na bariátrica juram em torno de 1 a 1,5%, são baixíssimos os níveis de complicação grave.  Os mitos vêm de pessoas com conceitos deturpados, geralmente com informações que encontram na internet, como a desnutrição, mas hoje isso é muito raro.

Que cuidados o paciente deve ter no pós-operatório? É necessária a complementação nutricional?

A pessoa tem de passar por uma dieta líquida, depois pastosa, até chegar na sólida, um mês depois. Como a cirurgia é por vídeo, dependendo a pessoa pode voltar ao trabalho que não exija grandes esforços do corpo quinze dias após a operação, voltar a dirigir, fazendo atividades físicas leves. O acompanhamento nutricional também é importantíssimo, com uma dieta rica elaborada por um profissional.  

É indicada a realização de cirurgia plástica após grande perda de peso ou esta é uma medida apenas estética, conforme a escolha de cada paciente?

Geralmente essa é a última etapa do paciente, que são chamadas as cirurgias reconstrutivas, procedimentos que retiram o excesso de pele do paciente. Algumas pessoas, por praticarem atividades físicas acentuadas e obedecer a sequência de acompanhamento, não precisam. Outros, que chegam a perder 60, 70 quilos dentro de um ano, tendem a retirar esse tecido excedente.

E o que é o dumping, termo conhecido entre quem já realizou a cirurgia bariátrica?

É uma atividade que ocorre geralmente após procedimento específico de by pass intestinal, na qual você tem uma ativação do sistema vagal, parte do sistema nervoso. Acontece quando há ingestão de grandes quantidades de alimentos gordurosos ou carboidratos, como o açúcar, há um escape muito rápido de líquido no intestino. E isso dá a sensação como se a pessoa tivesse perdido uma grande quantidade de líquido muito rápido, resultando em queda de pressão, sudorese, taquicardia, mal estar, sonolência, mas tudo isso é passageiro e não causa nenhum dano.

No caso de mulheres que pretendem engravidar, qual é a orientação?

Mulheres em idade fértil são orientadas a não engravidarem durante o período de emagrecimento. O indicado é que haja a gravides somente após um ano, um ano e meio após a operação, quando o peso já está estabilizado.

Para finalizar, como funcionam as alternativas para realização desse procedimento pela rede pública em Mato Grosso do Sul?

Hoje, nenhum serviço no Estado está fazendo o procedimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Até o ano de 2013, fazíamos dentro do Hospital Universitário, havia uma equipe completa. Por problemas diversos, esse programa foi fechado na unidade e agora estamos voltando a fazer tratativas para reativar esse serviço.

Com a grande vantagem agora que o Ministério da Saúde autorizou o procedimento menos agressivo, com padrão ‘ouro’, por vídeo. Campo Grande é uma das Capitais com mais obesos do país e há uma grande fila de espera. A intenção é de que em até seis meses a cirurgia bariátrica volte a ser realizada no HU, pois é um direito da população, se trata de saúde pública, qualidade de vida. 

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