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Entrevistas

05/02/2018 13:38

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Sonhador convicto e guerreiro até no nome, Ronilço incentiva leitura sem pedir nada em troca

Há 20 anos, psicólogo toca projetos em prol da educação e ganhou o reconhecimento nas ruas e de famosos

Para muita gente, Ronilço Guerreiro já é conhecido. Se você cruzou com ele nas ruas de Campo Grande, ou o viu em algum programa de televisão, provavelmente ele estava falando sobre ou próximo ao que mais ama: os livros. Psicólogo de formação, coach e palestrante, Guerreiro quis fazer da vida algo que transformasse as coisas para o bem, especialmente através da leitura, e há 20 anos leva projetos que a incentivam. 

Com o otimismo cristalino na fala, ele conta um pouco de sua trajetória e os sonhos que carrega consigo, em entrevista que você lê logo abaixo:

Qual a história que antecede a sua iniciativa nos projetos de leitura?

Venho de uma família muito humilde, de uma vida de trabalho e de luta. Sempre estudei em escola pública e fui apaixonado por histórias em quadrinhos, que foi até tema da minha tese de mestrado, o papel das HQs na alfabetização. Conheci o Maurício de Souza pessoalmente, a Mônica. Comecei a ganhar muitos livros, que não podiam ficar parados comigo, então comecei a entregar.

Eu montei uma creche, quando trabalhava como recepcionista do Hotel Campo Grande. Aí um amigo me disse, quando eu estava lendo um gibi no balcão, que existia uma gibiteca em Curitiba. Em um feriado, fui lá, fiquei um dia inteiro, e voltei com a ideia na cabeça de montar uma aqui. Gravei uma fita com pedido de ajuda e enviei a mensagem a 180 pessoas, somente 10 me responderam. Duas embaixadas, da França e da Itália, me ajudaram com equipamentos.

Comecei com 120 gibis, em 1995. Depois conseguimos apoio do governo e montamos o ponto de cultura, que agora não existe mais, não recebe mais nenhum centavo, temos ajuda de uma funcionária que a prefeitura cedeu. Bola pra frente, não desisti não!

Quais são essas iniciativas que conseguiu colocar em prática?

O projeto Livros Carentes, eu ganho e distribuo, porque livro parado não conta história. Nesse projeto eu fico na rua e a pessoa pode pegar ou trazer um livro, de graça. Eu tenho também a Gibiteca, com 25 mil livros, e a Gibicicleta. As bibliotecas também em todos os terminais de ônibus.

Os livros devem circular, têm que estar na mão do leitor. A Gibiteca tem 20 anos, esse projeto [Livros Carentes] tem sete, nos terminais tem cinco. Não é que as pessoas não gostam de ler, eu aprendi é que, às vezes, o livro certo não chega na mão das pessoas.

Como é o projeto nos terminais de ônibus e como surgiu essa ideia?

As pessoas colocam livros, levam, não pode ter desperdício, isso aqui é um apelo. Como que podem queimar livros, jogar fora? O empoderamento que você dá as pessoas com o conhecimento e cultura é enorme. Com frequência nos terminais há livros novos, as pessoas apoiam. Não tenho gasolina, quem paga o projeto é meu salário de professor, então comecei a postar nas redes pedidos por patrocínio.

Nos terminais quebra tudo, menos os estandes. Acredito que os espaços têm que ser livres, as pessoas gostam de se sentir incluídas, se isso acontecesse havia menos depredação. 

E como foi o contato com essas pessoas famosas, com a televisão?

Fui no programa ‘Esquenta!’, da Regina Casé, por duas vezes. Lá eu conheci o Fábio Porchat, que virou meu padrinho e me deu a gibicicleta, os estandes dos terminais de ônibus. A gibiteca é um prédio, com computadores para uso das crianças, que quem paga as despesas sou eu, com apoio de amigos.

Quais lembranças mais legais que te motivam a continuar?

Os projetos dão muito certo, nos terminais é uma loucura, já mudou muitas vidas. Por exemplo, uma senhora que pegou livros a caminho de um concurso que ia fazer, para um cargo na prefeitura. Um no terminal Bandeirantes, outro no Júlio de Castilho e, quando chegou no local da prova e a fez, percebeu que havia duas questões sobre o que tinha acabado de ler. Depois, me agradeceu no terminal.

Outra história aconteceu no terminal Morenão, tarde da noite, e passaram dois meninos, que normalmente qualquer teria preconceito pelas intenções deles se aproximando, naquela hora. Mas foi então que um falou pro outro, ‘mano, peguei um livro aqui semana passada e tirei oito na prova’, olha que reconhecimento.

Uma vez fiz uma campanha de arrecadar e distribuir todo tipo de livro, até bíblias, que vieram pela campanha de uma igreja. Uma senhora de 70 anos pegou uma bíblia no terminal Guaicurus e disse, lá no terminal Moreninhas, que não sabia ler. Entrou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e há dois anos está lendo.

Qual seu objetivo daqui pra frente?

O nome de todo o projeto é 'Vamos fazer de Campo Grande uma cidade de leitores'. Tenho duas bicicletas por enquanto, prontas, são lindas, vão ficar rodando. O próximo projeto é uma Kombiteca, que eu pedi pro Porchat, pra rodar nos bairros com os livros. O marketing de guerrilha, como se diz, é importante, porque tudo o que é diferente chama atenção, as pessoas gostam.

Nosso papel é provocar o amor pela leitura, tem tanta gente que distribui tristeza por aí. As pessoas não acreditam que só da educação e cultura a gente consegue mudar o país, mas muda. Isso aqui é meu sonho, eu amo viver assim. 

Saiba mais pelo telefone (67) 3365-0405 ou pelo site www.gibiteca.org.br.

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