Há pouco mais de dois anos, o haitiano Fanel Guerrier, 38, chegava ao Brasil. Após deixar sua terra, encontrou em Campo Grande um emprego e condições de sustento, mas a dura decisão o afastou das duas filhas, Mileidy, de sete anos, e Miphaélla, nove, que tenta reencontrar com a ajuda de uma campanha de arrecadação de fundos nas redes sociais.
Primeiro, ele conta sua história. Com quase nenhum dinheiro no bolso, dificuldades em entender o português – apesar de falar o crioulo, língua com similaridades de fala e escrita – e apenas a vontade de garantir dias melhores para si e a família, pois a situação política e econômica no Haiti era delicada, ele deixou a família no país da América Central até encontrar seu objetivo. Antes, morou por 14 anos na República Dominicana, chegou a tentar uma chance de trabalho na Bolívia, mas em 2014 começou os planos para a vinda ao Brasil, com a ajuda do cunhado, que já vivia na capital de Mato Grosso do Sul.
“A situação no país estava difícil, o desemprego muito grande. Meu cunhado chegou há cinco anos, viu que valia a pena, tomou gosto pelo lugar”, diz Fanel. Com a ajuda dos pais, foi até o Equador em 2015, de onde pegou um ônibus para o Brasil, entrando pelo Acre, para então, muitas horas depois, chegar a Campo Grande. Quando chegou, foi direto fazer sua carteira de trabalho e começou a busca por uma oportunidade, começando pela construção civil.
Hoje, com emprego fixo como estoquista e o documento assinado, está em situação regularizada no país e paga todas as despesas e aluguel das filhas e o da casa em que vive com a esposa, Rosemene Joseph, 31, que conseguiu vir ao Brasil em 2016. Ela trabalha com serviços gerais de uma empresa e chora muito com saudade das meninas, pois contato é mantido por telefone apenas, ainda que diariamente.
Fanel explica que, para o reencontro acontecer, com a vinda delas para o Brasil, o custo é muito alto. Elas precisam adquirir visto e passagens, trâmite que, ao todo, deve custar aproximadamente R$ 15 mil. No total, são quatro bilhetes, já que a mãe Rosemene tem de ir buscar as crianças. “Elas têm muita vontade de vir, ficam ansiosas, porque eu conto como é, como pode ser a vida delas. Aqui gosto de tudo, todo mundo é ‘boa pessoa’, nunca tive nenhum problema, todos falam comigo com carinho, fiz amigos”, conta.
Apesar de ter feito de Campo Grande seu novo lar, a saudade do Haiti nunca vai deixar de existir. “Eu não vou falar que nunca vou voltar. Minha família está lá, é o meu país, mas para morar... Infelizmente é difícil. Lá, quando saí, estava tudo muito instável e devagar, um mês você tinha serviço e no outro não”, lamenta, relembrando que a situação ficou ainda mais complicada após o terremoto que assolou o país, em 2010.
O gerente da empresa Saldão Pisos e Revestimentos, onde Fanel trabalha e que o ajudou na elaboração da campanha, Willian Velasque, 28, fala sobre o colega. “Ele é muito esforçado, aprendeu a falar português rapidamente, é um cara querido. Ficamos sensibilizados com essa situação e estamos fazendo uma campanha de arrecadação de dinheiro para ajudá-los, pois sabemos que o custo é muito alto só para eles”, conta.
Ajuda
Quem puder contribuir com qualquer quantia pode fazer depósito na conta poupança da Caixa Econômica Federal em nome de Fanel Guerrier (CPF 703.298.622-60):
Agência 2112
Conta n. 4133-1, operação: 013