A polêmica envolvendo a construção de um muro no residencial de luxo Nahima Park, fechando uma via pública nos altos da Avenida Afonso Pena, levanta questionamentos sobre o ‘poder do dinheiro’. O episódio causa frustração entre campo-grandensesm, que acreditam na impunidade por se tratar da moradia de pessoas de classe social alta. 

O condomínio possui 17 luxuosas casas que tiveram as vias cercadas, totalizando uma área verde pública de 4 mil metros quadrados, sendo denunciado judicialmente pela prefeitura da Capital no ano passado.   A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) esteve no local entre março e abril de 2015, constatando desrespeito à lei municipal nº 2.909/92, do Código Municipal de Polícia Administrativa. 

No primeiro momento, o juiz Fernando Paes de Campos, da 3ª Vara de Fazenda Pública e de Registros Públicos de Campo Grande, concedeu liminar para o município determinando a derrubada do muro. No entanto, a medida foi suspensa pelo desembargador Sérgio Fernandes Martins argumentando que a associação de moradores não havia sido ouvida antes de Campos dar a ordem liminar.  

O mototaxista João Carlos Gomes, 34 anos, acredita que se o condomínio fosse de moradias mais simples, nada teria sido construído. "Isso acontece porque são pessoas de classe alta, pessoas ricas, porque se fosse em um condomínio de pessoas pobres, nem meio muro teria sido construído porque alguém teria visto e já teria barrado".

João acredita que mesmo com processo judicial, o muro deve continuar em pé. "Eu sinceramente não acredito que ele será derrubado, é capaz até de ser considerado como parte do condomínio do que ser derrubado. Estamos falando de pessoas com muito dinheiro, ninguém consegue barrar isso", justifica.

Para o autônomo Augusto Cesar de Moraes, 42 anos, esse é apenas um exemplo de onde o ‘dinheiro leva’. "Esse é só mais um exemplo, só mais uma história que se prolonga. Neste caso da para perceber a nossa realidade, quem tem menos se ferra mais, quem tem mais sai na frente sempre, mesmo quando infringe a lei".

'Poderoso chefão'

A dona de casa Marilsa Lopes, 37 anos, diz que sempre soube que o dinheiro é o ‘poderoso chefão’ de todas as situações, mesmo quando a lei é contrariada. “Isso não é novidade para ninguém, o poderoso chefão é aquele que tem mais. Não adianta ter lei, quem tem dinheiro não respeita. Agora pega uma pessoa humilde, ele faz tudo certo, tem tudo em dia e, se por acaso deixar alguma coisa atrasar, é punido na hora”.

Para Salete dos Santos, 22 anos, aqueles que possuem menos poder aquisitivo já até se acostumaram com a dura realidade de viver em uma sociedade de limites 'meio termo'. "Nós vivemos em um país meio termo, meio duro para os pobres e escancarado para os ricos. Não existe a fala bonita de que todo mundo é igual, na verdade as pessoas se diferenciam pelo que carregam no bolso, se carregam muito, tem portas abertas em tudo, se não tem muito no bolso, até para caminhar pelas ruas tem que tomar cuidado".

Contrastes

O episódio é um contraste com o tratamento das famílias que moravam na Cidade de Deus, por exemplo. Enquanto a Justiça concede prazos e mais prazos para o condomínio regularizar a situação, os moradores foram removidos da favela, também por força de ação judicial, sem que houvesse infraestrutura nos outros bairros para receber a comunidade.

O que antes era uma favela, estruturada na medida do possível, se transformou em três favelas diferentes, com barracos construídos às pressas e nenhuma proteção quanto às forças da natureza como a chuva e o vento. Por outro lado, condomínio de luxo na área central mantém construção irregular e pode conseguir, na Justiça, o direito de incorporar área pública como parte da propriedade particular.