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20/07/2018 16:45

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Após morte de turista, Beach Park usa calculadora e pergunta peso de visitantes

O parque esperava aumentar em 15% o faturamento com a nova atração Vainkará

O funcionário do Beach Park pergunta rapidamente ao ver que a pessoa que acessa o brinquedo Vaikuntudo está sozinha: “Se junte a eles três, precisamos de quatro por boia”. Com o aceno positivo, faz a pergunta seguinte com a calculadora nas mãos: “por favor, qual o peso de vocês?“. A soma dá 306, e o acesso é liberado.

O novo protocolo, segundo funcionários, de somar em uma calculadora o peso dos clientes do parque que acessam os brinquedos com limite de peso foi adotado depois da morte do radialista Ricardo José Hilário Silva, na segunda-feira (16). O acidente ocorreu em um toboágua recém-inaugurado do Beach Park, o maior parque aquático da América Latina, localizado em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza.

O Vainkará estava funcionando havia apenas dois dias e fica em uma estrutura anexa ao Vaikuntudo, mas está fechado após a morte. O Vaikuntudo, porém, funcionou normalmente na quarta (18) e na quinta (19) -terça (17) o parque ficou fechado, algo raro em julho, alta temporada, quando está aberto todos os dias do mês. A reportagem conversou com funcionários e turistas sem se identificar, se apresentando também como um banhista.

A principal tese da investigação da morte de Silva é que havia sobrepeso na boia, o que a fez virar dentro de um dos túneis do brinquedo. Ele bateu a cabeça e morreu no local. “Devem chegar balanças, mas é complicado porque muitas pessoas não aceitam falar o peso. Hoje mesmo um casal se irritou porque perguntei quanto a mulher pesava”, disse um funcionário, que pediu anonimato.

O uso da calculadora pode ser impreciso. Primeiro que as pessoas podem simplesmente mentir, ou mesmo não saber exatamente o peso –  desta forma o “olhômetro’ voltaria a ser a solução. Segundo que o cálculo é feito no primeiro acesso ao brinquedo, e durante a fila, que pode demorar mais de uma hora em dias de parque cheio, as pessoas podem trocar os grupos montados inicialmente para dividir a boia, o que pode gerar também o descontrole no peso final.

“Eu iria se estivesse aberto”, disse uma senhora que aguardava na fila, sobre o Vainkará -assim como a maioria dos banhistas, ela não quis revelar o nome. Mesmo com apenas dois dias do acidente, as pessoas se aglomeravam nas filas dos brinquedos radicais do Beach Park em um dia sem uma nuvem no céu no litoral cearense, nesta quinta.

Da fila do Vaikuntudo era possível ver detalhes do Vainkará, brinquedo que demorou mais de dois anos para ser projetado pela empresa canadense ProSlide. Do estilo tornado, prometia em uma descida de 90 graus a sensação de gravidade zero e era a aposta do parque em um setor que precisa da renovação constante das atrações.

“Eles tinham que colocar câmeras nos túneis do toboágua”, disse um turista de Belo Horizonte, acompanhado da mulher e duas filhas. Nas conversas na espera das filas, versões de que o homem que morreu passou mal e por isso bateu a cabeça, ou que não seguiu as orientações e soltou as mãos da boia apareciam com frequência, mas ninguém sabia dizer onde ouviu tal informação.

De qualquer forma, no momento de sentar na boia para descer no Vaikuntudo, com estrutura semelhante ao Vainkará, a principal orientação do funcionário do parque era justamente não soltar as mãos da boia em hipótese alguma.

Não existe mais qualquer menção ao Vainkará no parque. O nome pomposo que ficava na piscina onde ocorria a queda final pelos túneis foi retirado. No mapa na entrada, o número 18, que se refere ao brinquedo, diz apenas que uma nova atração está prestes a estrear. O nome não aparece.

As classificações dos brinquedos são apresentadas como radicais, os mais empolgantes, moderados, com frio na barriga menor, e os família, para crianças menores.  O Insano, um toboágua de 41 metros e considerado o mais radical de todos, abriu normalmente aos meio-dia, uma hora depois do parque, com sua apresentação diária com dois funcionários fazendo brincadeiras a um público que senta em uma mini-arquibancada para ver o primeiro corajoso a descer.

No meio do roteiro, a palavra destacada chamou atenção: “o Insano é muito seguro”. As pessoas, porém, pareciam não se importar e queriam ver o brinquedo funcionando.

O Beach Park não comentou o fato de estar usando calculadora para identificar o peso dos clientes em alguns brinquedos, mas informou que “o parque aguarda o resultado da perícia e reforça que está colaborando com os órgãos responsáveis na apuração.

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