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18/11/2018 16:51

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Em Cuiabá, escavações em obra encontram piso do século 18

Prefeitura da cidade informou que vai concretar pedra; arqueólogos discordam e pedem preservação

Arqueólogos que trabalham nas escavações feitas durante a reforma da Escadaria do Beco Alto, no centro de Cuiabá (MT), descobriram a existência de um piso de quartzo branco do século XVIII no local. O destino da pedra, porém, tem gerado polêmica. Há quem discorde do projeto da Prefeitura para aterrar o quartzo.
 
A pedra foi encontrada entre as ruas Pedro Celestino e Ricardo Franco.  
 
Esta é mais uma obra contemplada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, que foi idealizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e é supervisionado pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano.
 
Segundo o secretário Juares Samaniego, o piso será recoberto por concreto com o objetivo de preservar a pedra.

“A ideia é manter a pedra por baixo do novo concreto que será depositado, mas com a devida proteção de um aterramento compacto. A pedra é inviável para utilização por conta das suas características”, afirmou.
O arqueólogo que monitora o trabalho de escavação, João Bosco Campos Peclat, acredita que o quartzo branco deve ser mantido intacto no local e preservado.
 
No entanto, o especialista revelou que o projeto de reforma da escadaria precisa ser repensado.
 
“Como eles estão trabalhando com escavação, retirada de sedimento, eles estão atingindo o nível arqueológico. Para a gente, seria melhor deixar lá intacto. Então, seria melhor uma alteração do projeto, repensar sobre esses bens”, explicou Peclat.
 
O arqueólogo ainda sugere que as pedras de quartzo que já foram removidas sejam encaminhadas para um museu.
 
Ele apontou que chegou a apresentar uma proposta arquitetônica para a Administração Municipal, a fim de tentar manter a memória histórica do piso. No entanto, a ideia não teve apoio.
 
“A gente apresentou para a Prefeitura um projeto arquitetônico que tem como fins preservar e criar um espaço onde as pessoas que vão visitar possam olhar e recordar um pouco desse grande piso”, disse.

Três séculos de história
 
De acordo com Peclat, toda a escadaria do Beco Alto era composta pelo quartzo branco, pois era uma característica arquitetônica da época.
 
“Em quase todo o Centro Histórico temos registro dele [piso de quartzo]. Esses pisos são comuns em cidades históricas, porque era uma forma de construção, era um padrão”, disse.
 
Conforme o arqueólogo, o quartzo era muito encontrado nos garimpos de ouro na baixada cuiabana. Com a abundância, os moradores da época perceberam o potencial da pedra para fazer as ruas da Capital.
 
“Para nós, da arqueologia, essa peça tem um grande valor, pois relembra o garimpo de ouro. Ele compunha as principais ruas do Centro de Cuiabá”, explicou Peclat.
 
O especialista ainda enfatizou o peso que o piso de quartzo tem na memória dos antigos cuiabanos.
 
“Quando você se depara com moradores que passaram por ali e acompanham a obra junto com a gente, você consegue identificar no relato deles a lembrança de se ver o piso. Alguns relatam que era escorregadio, que brincavam no local. Está fixado na memória do cuiabano, do antigo morador do Centro”, afirmou.
 
Obras de 300 anos
 
Inicialmente avaliada em R$ 202 mil, a reforma do Beco Alto teve início em novembro de 2017. Três meses depois, a obra foi paralisada, sendo retomada no final de outubro.
 
Segundo a Secretaria, a obra foi licitada em 2014 e tinha previsão de entrega no final de fevereiro deste ano.
 
Neste período, o custo da reforma sofreu reajuste de 30%, e hoje está estimada em torno de R$ 300 mil.
 
Agora, o órgão público afirmou que a reforma da Escadaria do Beco Alto será entregue em dois meses.

 

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