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'Renunciar seria admissão de culpa. Se quiserem, me derrubem', diz Temer a jornal

O inquérito contra Temer tem como base as delações dos donos da JBS, Joesley e Wesley

22 maio 2017 - 10h43Por G1
'Renunciar seria admissão de culpa. Se quiserem, me derrubem', diz Temer a jornal

O presidente Michel Temer disse que seria "admissão de culpa" renunciar ao mandato. "Se quiserem, me derrubem", afirmou o peemedebista em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" publicada nesta segunda-feira (22).

Alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de suspeita de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa, Temer enfrenta a maior crise política de seu mandato. Neste fim de semana, a Ordem dos Advogados do Brasil decidiu apresentar pedido de impeachment ao Congresso, onde a oposição já lidera um movimento pela saída do presidente. Além disso, informou o colunista do G1 Gerson Camarotti, os articuladores políticos do governo foram avisados que parte da base aliada quer a renúncia do peemedebista.

O inquérito contra Temer tem como base as delações dos donos da JBS, Joesley e Wesley. Joesley gravou uma conversa com o presidente numa reunião em 7 de março na residência oficial do Palácio do Jaburu. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a conversa indica "anuência" de Temer ao pagamento de propina mensal, por Joesley, para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba pela Operação Lava Jato.

O presidente afirmou que a regra que ele próprio estabeleceu, de afastar ministro que virar réu, não vale para ele. “Não, porque eu sou chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros não será a linha de corte para o presidente”.

Conversa foi induzida

Temer afirmou que "num primeiro momento" não sabia que Joesley Batista era investigado, embora a JBS tenha sido alvo de três operações recentes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal – a Cui Bono?, a Sespis e a Greenfield.

Para Temer, a gravação de Joesley foi uma tentativa de induzir uma conversa. “Tenho demonstrado com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma conversa. Insistem sempre no ponto que avalizei um pagamento para o ex-deputado Eduardo Cunha, quando não querem tomar como resposta o que dei a uma frase dele em que ele dizia: ‘olhe, tenho mantido boa relação com o Cunha’. [Eu disse] ‘mantenha isso’”, disse referindo-se a parte da ‘boa relação’.

O presidente negou que tenha prevaricado [deixado de agir] ao ouvir um empresário dentro de casa relatando crimes – no encontro, Joesley disse que vinha usando juízes e um procurador da República em seu benefício.

Sobre o encontro ter ocorrido fora da agenda oficial, à noite, o presidente afirmou ser tratar um hábito que não é ilegal. “Não é ilegal porque não é da minha postura ao longo do tempo. Talvez eu tenha de tomar mais cuidado. Bastava ter um detector de metal para saber se ele tinha alguma coisa ou não, e não me gravaria."

Perguntado sobre qual era sua culpa no caso, Temer respondeu ser a "ingenuidade". "Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento."

Montagem

Temer foi questionado sobre seu assessor, Rodrigo Rocha Loures, que foi filmado com uma mala com R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS. No encontro no Alvorada, dias antes, Temer havia dito que Joesley podia tratar de "tudo" com Rocha Loures.

O presidente indica que houve uma montagem desses fatos.

"Vou esclarecer direitinho. Primeiro, tudo foi montado. Ele [Joesley] teve treinamento de 15 dias [para fazer a delação], vocês que deram [refere-se à Folha], para gravar, fazer a delação, como encaminhar a conversa", disse Temer. "O que [Joesley] fez? A primeira coisa, orientaram ou ele tomou a deliberação 'Grave alguém graúdo'. Depois, como foi mencionado o nome do Rodrigo, certamente disseram: 'Vá atrás do Rodrigo'. E aí o Rodrigo certamente foi induzido, foi seduzido por ofertas milaborantes e irreais".

Temer admitiu que Rocha Loures "errou, evidentemente" e que receber R$ 500 mil não é um gesto "aprovável", mas disse não se sentir traído, e considerou o o assesso como alguém "de muito boa índole". O presidente argumentou que ao dizer "tudo", se referia a matérias administrativas, e ressalta que os problemas da JBS no BNDES e no Cade que supostamente seriam resolvidos por intermédio de Rocha Loures, não o foram.
Temer desviou do assunto quando perguntado sobre áudios de executivos dizendo que ele pediu caixa 2 em 2010, 2012 e 2016.

Perda de apoio

O presidente falou sobre a perda de apoio. Na quinta-feira (18), o ministro da Cultura, Roberto Freire (PPS) deixou o cargo. No sábado, o PSB decidiu deixar a base governista e pedir a renúncia de Temer – o ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, do partido, permanece no cargo.

“O PSB eu não perdi agora, foi antes, em razão da Previdência. No PPS, o Roberto Freire veio me explicar que tinha dificuldades. Eu agradeci, mas o Raul Jungmann, que é do PPS, está conosco”, argumentou Temer. Já o PSDB – principal partido da base aliada – vai manter a fidelidade até "31/12 de 2018", disse Temer.

O presidente afirmou que a crise não afetará o plano do governo em aprovar reformas. “Eu vou revelar força política precisamente ao longo dessas próximas semanas com a votação de matérias importantes. Tenho absoluta convicção de que consigo. É que criou-se um clima que vai ser um desastre, de que o Temer está perdido. Eu não estou perdido”.

Temer disse acreditar que o caso não irá afetar o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode resultar na cassação do mandato do presidente. “Acho que não. Os ministros se pautam não pelo que acontece na política, mas pelo que passa na vida jurídica”.
Por fim, o presidente se declarou surpreso pela decisão da OAB de pedir o impeachment.