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Polícia

11/06/2018 13:17

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Fuzilado com mais de 20 tiros, PM aposentado foi preso em 1982 suspeito de assaltar e matar

Dias depois de 'preso e torturado', militar foi solto, tido como inocente e recuperou patente

Fuzilado na manhã desta segunda-feira (11), em Campo Grande, o sargento aposentado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Ilson Martins de Figueiredo, 62, movia, desde o ano passado, em 2017, uma ação indenizatória contra o Estado, em que pedia em torno de R$ 200 mil. Em agosto de 1982, Figueiredo, então cabo da PM, dois soldados e outro cabo, foram presos suspeitos de assaltar um posto de gasolina, uma casa lotérica e de matar duas pessoas.

Quinze dias depois das prisões, contudo, um homem foi capturado pela Polícia Civil e confessou os crimes, antes atribuídos aos militares em questão. Daí o sargento, que a partir de 2015 passou a chefiar o departamento de segurança da Assembleia Legislativa, foi posto em liberdade.

Ocorre que em março de 2015, Figueiredo e a família viajavam e, numa barreira policial, foram parados. Havia no cadastro do Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional), onde consta a relação de pessoas encrencadas judicialmente, o nome do militar.

E, de acordo com o processo de ação indenizatória, assinado pelos advogados Elenice Pereira Carrile e Jorge Luiz Martins Pereira, o Sigo mencionava o processo contra Figueiredo “em aberto”, ou seja, como se ele ainda respondesse pelo crime de 1982.

À época, o jornal impresso de Campo Grande, o Diário da Serra, já extinto, noticiou a prisão de Figueiredo:

“Dois cabos e dois soldados da Polícia Militar são os autores dos assaltos a mão armada ao Posto Imbirussu [Jardim Leblon], de onde levaram trinta mil cruzeiros, casa Lotérica localizada na rua 14 de julho, proximidades do prédio do Comando de Policiamento da Capital, levando a quantia de Cr$ 300 mil cruzeiros”.

De acordo com o jornal, a informação foi repassada à imprensa, na época, pelo coronel José Maria de Paula Pardo, então comandante da PM de MS.  

Pela reportagem, foram detidos, além de Ilson Figueiredo, os soldados Leonildo Pereira da Silva, Edson José Fernandes, e o então cabo da PM, Fernando Pachal.

De acordo com o processo que pede a indenização, “o autor [Ilson  Figueiredo], quanto seus colegas de farda, foram execrados e humilhados publicamente, inclusive sendo atribuídos aos mesmos dois assassinatos".

Ainda segundo o processo “em consequência, tanto o autor quanto seus colegas citados, foram sumária e arbitrariamente expulsos e excluídos da Polícia Militar, permanecendo todos presos, sofrendo todo tipo de pressão, inclusive físicas para confessar o que não haviam cometido”.

Três semanas depois de detidos, a Polícia Civil prendeu um certo José Alcebíades, conhecido como pastor e que seria um latrocida [matava para roubar] e que confessou os crimes que tinham levado os militares para a prisão.

(Ilson Figueiredo seguia pela Avenida Guaicurus, quando foi atingido por ao menos 20 tiros (Foto: Anna Gomes)

ESPANCADOS

O mesmo jornal, Diário da Serra, divulgou: “os quatro ex-policiais militares que foram excluídos por serem considerados pelo Comando Geral da Corporação, os responsáveis pelos assaltos a mão armada a um posto de gasolina e uma casa lotérica da Capital, cerca de três semanas atrás, tiveram a sua prisão preventiva revogada na tarde da última quarta-feira pelo Juiz da 4ª Vara Criminal Aleixo Paraguassu, a pedido do próprio delegado Licínio Moreira de Almeida, justamente o que presidiu o inquérito e pediu a preventiva". 

Seguiu a reportagem: "os advogados dos quatro estão tão revoltados quanto eles e denunciaram arbitrariedade do Comando Geral da PM em ter expulsado os policiais somente baseado em falsos indícios e meras coincidências. Se queixam ainda do espancamento que sofreram os quatro no 1º Batalhão da Polícia Militar. Pelos seus próprios companheiros, para assumirem a culpa e envolvimento nos assaltos”.

No processo não consta se houve investigação acerca do suposto espancamento.

Ilson Figueiredo, conforme o processo, conseguiu retornar à corporação e lá ficou por ao menos 12 anos, até aposentar-se, em 1997, depois de 22 anos de PM.

“Somente após muito tempo e luta que o autor foi reconduzido ao posto que ocupava, junto aos quadros da Polícia Militar, retornando à sua atividade, onde permaneceu até sua aposentadoria. Quando da revogação da prisão do autor [Figueiredo], também foi determinado pelo juiz à época que não constassem quaisquer registros, anotações, restrições sobre tais fatos na ficha pessoal e dossiê do autor e dos demais policiais citados acima”.

Ainda assim, em 2015, 35 anos depois das acusações contra Ilson Figueiredo, o histórico das supostas ações criminais, de 1982, constava nos registros policiais.

“O referido registro é ilegal, um verdadeiro atentado contra a pessoa do autor, sua honra, intimidade e cidadania, causando-lhe graves constrangimentos, humilhações e danos à sua honra e pessoa, de forma injusta e ilegal”, escreveram seus advogados.

“... e em consequência [fichado injustamente, segundo os advogados], requer a procedência da ação para condenar o requerido ao pagamento ao autor de valor de indenização por danos morais, em montante suficiência a inibir novas condutas do requerido, bem como, amenizar a dor, humilhação, sofrimento imposto e causado ao autor, considerando a gravidade do fato, a condição pessoal do autor, extensão e gravidade dos danos, fixando o valor com base na doutrina e jurisprudência sobre o tema em montante não inferior ao equivalente a 200 (duzentas) vezes o valor do salário mínimo vigente [em torno de R$ 190 mil].

O CRIME

Ilson Figueiredo foi executado nesta manhã com mais de 20 tiros disparados de um fuzil, na Avenida Guaicurus, no Jardim Moema. 

Ele dirigia uma camionete Sportage de cor branca, quando teria sido cercado por uma caminhonete Toro de cor vermelha, onde os ocupantes dispararam vários disparos contra o policial, que perdeu o controle do carro e bateu contra o muro de uma empresa. Logo depois, o veículo supostamente o usado pelos atiradores, foi localizado em  chamas, noutra região da cidade, a Lagoa Dourada. Figueiredo tentou reagir ao ataque e pegou sua arma, dentro do carro, mas não conseguiu atirar nem sequer uma vez.

Carro usado por atiradores foi achado queimado logo depois do crime (Foto: Anna Gomes)

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