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Polícia

Mulher trans denuncia agressão, tentativa de estupro e roubo

Ela ainda aguarda uma resposta da Justiça, quando foi impedida de usar o banheiro feminino há 10 anos atrás

08 dezembro 2018 - 10h31Por Da redação / G1

A Polícia Civil investiga a agressão a Amanda dos Santos Fialho, de 48 anos, em Florianópolis-SC. Ela conta que foi estrangulada, espancada, levou um "mata-leão" e posteriormente foi atropelada em Canasvieiras. Segundo ela, dois homens a roubaram e tentaram abusar sexualmente, mas ao "descobrirem" que ela é uma mulher trans, a agrediram violentamente. Ninguém foi preso até o momento.

A atriz e costureira registrou o boletim de ocorrência na quarta-feira (5), na Delegacia de Proteção a Criança, ao Adolescente e a Mulher (Dpcami) da capital, mesmo dia em que prestou o exame de corpo delito. O caso, no entanto, ocorreu em 25 de novembro.

Conforme o delegado Flávio Lima e Silva Júnior, a ocorrência foi registrada como tentativa de estupro e roubo."Foi determinado à equipe de investigação dessa delegacia que atue no caso. O fato ocorreu há alguns dias, o que dificulta a apuração, mas está sendo investigado", disse.

Ama, como se identifica artisticamente em apresentações teatrais, conta que registrou o boletim tardiamente por não conseguir levantar da cama até então. "Fiquei muito machucada, quando saí do hospital me deram apenas dipirona. Lesões no rosto, pescoço, lateral de quadril. Eles me apagaram", conta.

Ela relata que na noite do dia 25 de novembro estava na orla da praia de Canasvieiras aguardando o marido, que é vendedor de camisetas, buscar produtos na casa de um amigo. "Eu fui até a beira-mar, entrei um pouquinho na água, os pés, quando eles me abordaram e me levaram para um lugar ermo", conta.

"Foi uma tentativa de feminicídio. Eles me estrangularam e tentaram abusar sexualmente, passando a mão em mim. Eles me roubaram e depois que viram meu cartão do Setuf (cartão de ônibus) com nome masculino, foi pior. Até então estavam mexendo com uma mulher. Depois falaram "esse traveco aqui", "é um viado", "tem que matar viado" e me apagaram", disse.

Ela conta que nunca tinha visto os homens antes. Depois do espancamento, recorda ter caminhado em uma avenida do bairro até um carro bater nela e ter desmaiado. Ama suspeita terem sido os mesmos agressores.

A vítima diz que foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Canasvieiras e depois para o Hospital Celso Ramos. "Eu fiquei inconsciente, três dias no ambulatório. Não conseguia lembrar de ninguém", afirma.

Posteriormente, o hospital conseguiu identificar o endereço da casa da mãe dela, para onde foi encaminhada. Por dias, ficou sem conseguir enxergar pelas pancadas no olho direito. Da bolsa, foram levados o celular, cartões e dinheiro, como registrado no boletim de ocorrência.

"Não quero que me aceitem, mas que me deixem em paz. Eu sou humana. Amanda é uma mulher que merece ter respeito", afirma.

Ataque em posto e ação contra shopping

Ela ainda aguarda uma resposta da Justiça por um preconceito sofrido em um shopping em Florianópolis, há 10 anos atrás, quando foi impedida de usar o banheiro feminino. A ação foi levada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e levantou a questão do direito de transexuais usarem banheiros conforme sua identidade de gênero. O caso está em grau de recurso.

Amanda também participa de audiências de outro episódio, ocorrido em 2017 em um posto de combustíveis na capital catarinense. "Fui atacada com água sanitária, pura. Tudo isso porque um frentista achou que eu estaria mostrando um pênis. Qual pênis?", afirma. A ação por indenização por dano moral tramita na primeira instância do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC).