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Polícia

Com titular baleado, prefeito interino de Paranhos diz que cidade não é o 'Velho Oeste'

Luciano Rodrigues afirmou que no município é possível 'dormir com as portas abertas'

20 junho 2018 - 11h14Por Celso Bejarano e Rodson Williams

“Paranhos não é o ‘velho oeste’ [expressão aplicada quando aponta-se um lugar violento]”, disse na manhã desta quarta-feira (20), em Campo Grande, Luciano Rodrigues, do DEM, o prefeito interino de Paranhos, cidade sul-mato-grossense situada a 463 quilômetros de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai. 

Luciano é vice-prefeito da cidade e só assumiu a administração municipal nesta semana porque o prefeito Dirceu Bettoni, do PSDB, foi baleado na quinta-feira passada (14), por um pistoleiro, já capturado, que havia recebido R$ 20 mil para efetuar o crime. Por sorte, o tucano sobreviveu ao ataque, mas ainda está internado.

“Lá [em Paranhos] a gente pode dormir com as portas abertas e a chave da ignição do carro”, disse Luciano, que na manhã de hoje participa de evento com o governador Reinaldo Azambuja, do PSDB, em Campo Grande.

A declaração do vice-prefeito soa como um desprezo aos últimos episódios policiais ocorridos no município fronteiríço.

De acordo com as investigações acerca do atentado contra Bettoni, o crime teria sido motivado por alguma discórdia envolvendo o prefeito e um fazendeiro, brasileiro, que mora no território paraguaio. Bettoni teria negociado terras no estado vizinho e não recebido o dinheiro pela venda da área.

Três dias depois do atentado, um homem de nacionalidade paraguaia que mora em Paranhos foi até a delegacia da cidade prestar depoimento acerca do crime contra o prefeito. Depois de conversar com os investigadores do atentado, a umas quatro quadras do prédio da delegacia, a testemunha foi fuzilada e morreu.

“Não existe esse clima de medo na cidade. Lá não é um velho oeste. O que ocorreu com o prefeito [Bettoni]  foi uma situação pontual. Pela investigação, o crime tem a ver com terras no Paraguai”,  disse o prefeito interino, que conclui o raciocínio com uma expressão enigmática: “negócio ruim não se procura, se acha”.

A imprensa que noticia casos de violência na região de Paranhos informou nos últimos dias que parte da população anda armada por temer a onda de violência na cidade, que tem em torno de 13 mil habitantes.

CRIMES

Assassinatos em plena luz do dia em Paranhos recheiam páginas policiais em jornais há tempos e de maneira continuada.

Em agosto do ano passado, por exemplo, morreu assassinado na cidade Santacruz Tavares, que era conhecido em Paranhos como Toni. Pistoleiro entrou na casa e atirou contra a vítima. Em fevereiro do ano anterior, em 2016, o irmão de Toni, Saturnino Tavares, também foi morto a bala em Paranhos.

Março do ano passado, foi a vez de Josimar Marcos Maciel, o Brinquinho, morto a tiros em frente da namorada. No bolso da vítima, a polícia achou de carregador de arma, isto é, ele sabia que poderia a qualquer momento enfrentar um confronto mortal.

Em junho de 2016, morreu fuzilado  no centro da cidade o policial civil Aquiles Chiquin Júnior. E, conforme as investigações, o policial teria sido assassinado por vingança. Um ano antes, em outubro de 2015, cinco pessoas quem estava numa padaria da cidade morreram baleadas. A chacina teria a ver com quadrilha de traficantes e os policiais seriam parentes de um dos matadores.

Numa sucinta checagem na página eletrônica do Tribunal de Justiça nota-se que a maioria dos crimes ocorridos na faixa de fronteira fica impune. Normalmente, os bandidos fogem para o território vizinho e lá se escondem.