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Teliana lamenta ano sem WTA no Rio e cita desigualdade, enquanto Maria Esther vê evolução natural

Após 3 anos, Rio Open tira mulheres para priorizar homens. Diretor do torneio revela foco na chave masculina nos próximos anos a fim de atrair as principais estrelas do circuito

27 fevereiro 2017 - 11h16Por Globo Esporte

Pela primeira vez, o Rio Open não contou com a presença das mulheres, depois de três edições no saibro carioca. A mudança faz parte de uma estratégia da empresa organizadora do torneio, que usa a disputa masculina como carro-chefe em busca do crescimento do ATP 500 na América do Sul. Outro obstáculo foi o fato de a disputar bater no calendário com os Premiers do Oriente Médio, em Doha e Dubai, com a presença das estrelas do circuito. Sem conseguir atrair as principais tenistas do mundo, nem mesmo Maria Sharapova para um jogo de exibição, foi assinado um contrato de "lease" (empréstimo) com o WTA de Budapeste, na Hungria, que ganhou a data para 2017.

- Deve ter pesado o financeiro. Isso é o que mais pesou. O tênis feminino ainda precisa aparecer um pouco mais. Se comparar com o masculino ainda tem muita diferença. Aqui o tênis masculino atrai muito mais gente, era bom para nós, porque as pessoas nos viam, acompanhavam a nossa rotina também. Acho que é mais isso. Precisamos ter mais jogadoras, entre as melhores, mas isso é longo prazo, não vai acontecer já no ano que vem. Tem que apoiar um pouco mais o tênis feminino. Existe uma diferença de tratamento não só no tênis. Temos de buscar uma igualdade - analisou Teliana, semifinalista no Rio em 2014.

Rumo ao top 100, Teliana frisa importância de WTAs no Brasil

Número um do Brasil e 184 do mundo, a tenista de 29 anos já disputou todos os Grand Slams e foi a responsável por quebrar um jejum de quase três décadas sem títulos brasileiros de WTA, em 2015, quando sagrou-se campeã em Bogotá e em Florianópolis, chegando ao 43º lugar do ranking. A meta de Teliana é voltar ao top 100. Em busca de pontos, a alagoana de Santana do Ipanema tem conciliado torneios menores a outros maiores e citou algumas diferenças.

- Quero voltar ao top 100, é o foco principal. Mas não adianta ficar colocando números. O importante é ter bons resultados todas as semanas, é preciso ser regular. Acredito muito que posso voltar ao top 100. Se você for ver, muitas jogadoras que estão no top 100, jogam esses torneios menores. Não tem moleza. Não dá para comparar com os que joguei anteriormente, mas são jogos difíceis também. A estrutura é realmente diferente, para chegar nesses torneios maiores você precisa ralar. Mas muitos têm estrutura maravilhosa. Os 25 em Campinas e Curitiba foram ótimos. A fisioterapia da WTA são bons, vários a sua disposição, sempre treina com bolas nas condições que você vai jogar, só fica em hotel maravilhoso, não paga hospedagem. É um luxo que você conquista com o tempo. Nos torneios menores você está sempre gastando, ganha os torneios, mas teve muitas despesas e não sai do jeito que você gostaria - afirmou a alagoana.

Maria Esther Bueno vê mudança como evolução

Embora Teliana tenha lamentado a ausência da chave feminina no Rio de Janeiro, Maria Esther Bueno vê a mudança como uma evolução natural. Maria Esther e Teliana foram homenageadas no primeiro dia de disputas do Rio Open, ao lado de outras tenistas que marcaram a história do tênis brasileiro, como Niege Dias, Patrícia Medrado, Gisele Miró, Cláudia Monteiro e Andrea "Dadá" Vieira.

- Fiquei feliz pela homenagem, mas estou triste por não poder jogar, por não ter o WTA. Passaram todas as memórias dos outros anos, principalmente, de quando eu fiz semifinal aqui. Mas aconteceu. O bom é que ainda não venderam a data e pode ser que nos outros anos possamos voltar. Ainda temos esperança. Claro que ficamos tristes. Sabemos que é difícil jogar tênis, ainda mais para os brasileiros, que precisam sempre viajar. Não temos quase torneio nenhum, agora não temos os dois WTAs (Florianópolis também cancelou). É super triste. Segue a vida, é continuar viajando e jogando os torneios lá fora com a esperança de ter torneios no Brasil - lamentou Teliana.

Ex-tenista vê igualdade no top 100 entre homens

Melhor tenista do mundo em 1959, 1960, 1964 e 1966 e com 19 títulos de Grand Slams nas costas, sendo quatro no US Open e três em Wimbledon em simples, Maria Esther Bueno diz que a opção pelos homens tem o intuito de atrair a atenção do público. A ex-tenista ainda vê desigualdade entre gêneros e considera o top 100 masculino mais equilibrado do que o feminino.

- Não ter o torneio foi uma decisão que tomaram para concentrar no masculino. Não é que tenham deixado de lado o tênis feminino. A ATP estava focando mais no tênis masculino. Os melhores nomes lá de fora vêm para cá. É uma experiência e vamos ver o que acontece. São poucos nomes no feminino agora. As Irmãs Williams dominaram por vários anos, mas não estão mais com toda essa bola. Outros nomes estão chegando e estão perto. É uma espécie de troca de guarda, evolução. Aparecem muitos nomes jovens. No masculino, há uma igualdade entre o top 1 e o top 50. No feminino, não. Isso é uma coisa normal, uma evolução normal. O bom é que tem tido nomes diferentes e vencedoras diferentes - disse ex-jogadora, que ainda carrega na bagagem 11 troféus nas duplas e um nas mistas em Grand Slams, sendo eternizada no Hall da Fama da modalidade.

Os organizadores do Aberto do Rio tentaram trazer para a primeira edição, em 2014, a russa Vera Zvonareva, contudo, a tenista desistiu devido a uma lesão no ombro. No ano seguinte, contrataram a americana Madison Keys, atual número nove do ranking, que alegou ter outros planos para o início de temporada, sem dar maiores detalhes. Em 2016, acertaram com a canadense Eugenie Bouchard, na época, top 10 e atual 45º do mundo, porém, a jogadora decidiu não competir às vésperas da competição, citando o calendário e os treinos como impedimento.

- Eles que organizam. Deve ter pesado o financeiro. Isso é o que mais pesou, imagino. O tênis feminino ainda precisa aparecer um pouco mais. Se comparar com o masculino ainda tem muita diferença. Aqui o tênis masculino atrai muito mais gente, era bom para nós, porque as pessoas nos viam, acompanhavam a nossa rotina também. Acho que é mais isso. Precisamos ter mais jogadoras, entre as melhores, mas isso é longo prazo, não vai acontecer já no ano que vem. Tem que apoiar um pouco mais o tênis feminino - ressaltou Teliana.

Diretor priorizará masculino por três anos

Como os torneios no Brasil são escassos, o Rio Open é importante para a carreira não só de Teliana, como para outras tenistas do país, como Paula Gonçalves, Gabriela Cé, Bia Haddad e Laura Pigossi. No futuro, o Rio Open tem a inteção de voltar a realizar o torneio feminino.

- A nossa decisão é que pelos próximos três anos focaremos no masculino para tentar ver se conseguimos levar o evento ainda mais. A logística é melhor, os treinos… Infelizmente existe essa coisa dentro do circuito dos homens quererem ter mais tempo de quadra, enfim, é uma das coisas que a gente decidiu focar para ter uma avaliação melhor na ATP e aí poder realmente crescer de categoria - disse Luiz Procópio Carvalho, diretor do Rio Open.

Ao longo das três edições que contaram com a chave masculina e feminina, eram recorrentes as reclamações dos homens de terem de dividir as quadras de treino com as mulheres.

- É difícil para todo mundo. Os homens reclamavam e nós não gostávamos de dividir quadra. Ambos estavam sofrendo, mas isso acontece nos Grands Slams. Só não divide quadra, mas muitas vezes dividem são os top 10. Eles colocam outros clubes à disposição também, mas os tenistas estão acostumados. Tenistas estão sempre reclamando de alguma coisa (risos). Sabemos que precisamos de condições perfeitas para treinar, mas passamos por isso quase o ano inteiro. - Sinto bastante. Mas não dá para pensar só nos pontos. Poderia vir e perder na primeira rodada. Não é um torneio que vai definir nosso ano inteiro. Mas gostava muito de jogar aqui, pelo fato de jogar no Brasil ajudava, é calor, os gringos sofrem bastante e todo mundo se sente à vontade aqui, a Bia, a Gabriela, nos sentimos à vontade. A chance de somar pontos seria melhor - finalizou Teliana.