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12/10/2013 13:00

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A primeira cigana a conquistar uma cadeira na Academia de Letras

Cigana

Luna, uma caricata cigana, maquiagem com traços fortes, batom avermelhado, o cabelo tinha estilo marcante, as pulseiras faziam barulho e nas mãos ela carregava um leque para amenizar o calor e expulsar as más energias caso surgissem. A escolha foi despir de preconceito para poder entender o modo de vida e um pouco da cultura cigana. Luna é uma personagem influente nesse universo aqui no Estado.

Ciganidade é uma raça
De imediato ela disse que os
gadjes, os não ciganos e estrangeiros, precisam saber que a ciganidade não é uma opção, eles fazem parte de um povo, são uma raça, a maioria das pessoas acham que isso é uma filosofia de vida ou uma religião que se pode entrar e sair a hora que quiser. “Ser cigano é muito mais do que ter o sangue cigano, é também ter a consciência do que você é e honrar isso. Eu sou cigana desde que nasci, mas eu estou cigana desde que assumi minhas origens plenamente e publicamente aos vinte anos. Antes disso eu não assumia pelo medo das agressões que fatalmente acontecem por conta do preconceito da sociedade”, conta Luna.

Nascida em Campo Grande, Luna é filha de uma cigana francesa que se casou com um cigano brasileiro. Ambos sofreram muito por causa do preconceito, que era maior nos tempos da ditadura. “O fato de ser cigano faz com que as pessoas achem que você esteja mentindo, que queira te roubar, enganar e ludibriar. E na verdade é bem o contrário, nós somos muito mais passados para trás do que os nãos ciganos. Infelizmente ficou na cultura mundial e mesmo que eu seja uma pessoa digna e honesta só o fato de ser uma cigana faz com que eu fique mal visto sem precisar ter feito absolutamente nada”.

Poucas pessoas procuram conhecer a história de vida de uma pessoa cigana. Poucas têm acesso ao fato de que nós tivemos um Presidente da República cigano, que foi o Juscelino Kubitschek e um dos maiores nomes da literatura brasileira, Clarice Lispector também foi uma cigana. Ambos tiveram medo e não se assumiram pelo preconceito que era mais intenso na época da ditadura.

Registrada no cartório como Vaneska, que também é um nome cigano, ela teve que optar a usar outro nome que foi dado pela família do seu pai que era filho de espanhol, Luna é um nome dessa linhagem flamenca. “Eu uso o nome cigano da família do meu pai para me assumir como cigana. Quando não me assumia como cigana usava o outro mesmo sabendo que também é um nome cigano. Antes de me assumir eu negava com veemência ter sangue cigano, não por vergonha, mas por medo de terminar como meus pais terminaram”.

Cultura cigana
Bailarina e professora de dança flamenca, Luna tem seu foco de trabalho voltado para o resgate da cultura cigana através da dança. “O meu trabalho sempre foi pautado nesse resgate das danças típicas, folclóricas, tanto para os ciganos e ciganas que perderam o contato com a cultura, mas também para os não ciganos”, comenta Luna que dá aulas no grupo Esmeralda.

Há três anos Luna foi convidada pela líder nacional dos ciganos, a cigana Miriam Stanescon pra ir até Brasília participar da Conferência de Igualdade Racial representando o povo cigano de Mato Grosso do Sul justamente por conta da sua história de trabalho na cultura no Estado. E a partir desse momento surgiu a Associação Sul-Mato-Grossense de Cultura e Etnia Cigana (Asumasec) que é uma ONG na qual é presidente. “Comecei um trabalho político de ir atrás de justiça pelo meu povo, quero uma política pública para ciganos assim como há para os negros, índios, homossexuais, mulheres e idosos. Nós temos necessidades muito específicas principalmente para os que vivem na estrada como a família de minha mãe que ainda é totalmente nômade e mora em barracas”.


Preconceito
“Eu tenho direitos conquistados me assumindo como gadjes, carteira de identidade e CPF, mas, em alguns Estados se eu for eu não entro, não sou bem recebida”, declara Luna que ainda relata que quando vai ao banco vestida como uma não cigana o tratamento é excelente mas, quando está vestida como cigana vários seguranças ficam por perto pensando que ela está ali para roubar. Ela tem a desconfortável necessidade de escolher como se vestir para poder fazer as coisas do dia-a-dia. “Não é fácil nada disso, porém eu prefiro uma vida difícil e verdadeira que ter uma vida fácil, porém falsa. Porque quando eu não me assumia como cigana, minha vida era muito simples e pelo fato de sermos ser uma minoria nunca conseguimos honrar nada”.

De personalidade forte, Luna conta que não aguentaria mais ficar calada vendo as injustiças que são acometidas contra seu povo. “Como diz a lei do nosso povo, continue a caminhar, não podemos ficar parados. Eu tenho esperança de que as coisas melhorem. Eu sei que o preconceito não vai acabar, mas, acredito que podemos avançar em muitas coisas. Eu sou simplesmente uma cigana que se assume e sou feliz assim. Gostem ou não, não posso mudar, pois, minha essência é essa”.

Academia Brasileira de Leras
Foi lutando pelos direitos de teu povo que Luna conquistou sua entrada na Academia de Letras do Brasil onde é Presidente da Academia Cigana de Letras. “Hoje eu participo de conferências e faço minha parte lutando pelo minha raça. Sou a única cigana brasileira e da América Latina que tem o título de imortal na Academia”, conta cheia de entusiasmo e diz que o objetivo inicial é montar uma biblioteca cigana nômade pra percorrer escolas, fazer um projeto de valorização do escritor cigano e o resgate das obras verdadeiras sobre os ciganos.

Ela mostrou que ser cigano significa nascer e viver com menos direitos e em desvantagens. É necessária uma mudança cultural, aquela que permita a todas as minorias uma democracia verdadeira. E dotada de muita força de vontade e orgulho pelo sangue cigano Luna pretende seguir em busca do que o ser humano impede que o povo de sua raça tenha, o direito de viver. 

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