Por todo canto de Campo Grande, o cenário tem se repetido: ruas esburacadas, manutenção improvisada e um crescente sentimento de abandono. Para quem depende do carro para trabalhar, como o motorista de aplicativo Paulo Sérgio, a situação passou há muito do incômodo, virando prejuízo constante, revolta acumulada e até inspiração musical.

“Há duas semanas gastei uma fortuna para arrumar o carro”, conta Paulo. “Tive que trocar amortecedores, kit de amortecedor, bandeja da suspensão… Se as ruas tivessem condições, talvez eu gastaria muito menos. Mas não é o que acontece.”

Com a chegada das chuvas, que intensificam ainda mais a degradação do asfalto, a buraqueira se multiplica e junto com ela, os custos de manutenção. Enquanto isso, impostos como IPTU e IPVA seguem chegando com rigor, mas sem oferecer o retorno esperado. “O retorno não vem, isso que mata a gente”, desabafa. “Cortaram pela metade o desconto do IPTU, o IPVA querem antecipar… e a gente não pode simplesmente se recusar a pagar.”

Foi ouvindo um programa de rádio que Paulo decidiu transformar a frustração em crítica musical. Inspirado por ouvintes que enviaram versos sobre os buracos da cidade, buscou aplicativos simples de criação musical e compôs o “Rap do Buraco”, uma denúncia rimada sobre a rotina de quem desvia ou cai em crateras todos os dias.

A letra, direta e ácida, reflete o sentimento de grande parte da população:

"Quando a chuva vem, o buraco aumenta,

A cidade grita, mas ninguém se lamenta.

O carro não aguenta, a dor é constante,

Enquanto a prefeitura vive distante."

E segue:

"Os pneus estouram, a estrada é um caos,

O mecânico sorri, contando seus reais.

Dentro do buraco, a vida floresce,

Mas o bolso do povo, esse nunca enriquece."

O rap viralizou entre amigos e passageiros, que se identificam com a crítica cotidiana.

Iluminação pública também virou música e reclamação

Além da buraqueira, Paulo relata outro problema recorrente: a falta de manutenção da iluminação pública. Na rua onde mora, duas lâmpadas estão queimadas há meses. “Já pedimos pelo 156, mas ninguém aparece. Todo mundo paga a taxa, mas nada acontece. Campo Grande não está fácil”

A indignação virou também mais uma composição a “música da iluminação pública”, como ele chama. O motorista admite que ainda está aprendendo a usar os aplicativos de criação, mas reforça que o principal é passar a mensagem.