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Casa onde Manoel de Barros viveu por 40 anos é colocada à venda em Campo Grande

Neto quer vender imóvel diante de uma condição: que local vire museu

08 maio 2021 - 15h15Por Nathalia Pelzl

O poeta Manoel de Barros é reconhecido pela inteligência e poesias. 

Mesmo depois de sua morte, a Casa da Poesia, sobrado onde Manoel morou por mais de 40 anos e escreveu a maioria dos 28 livros, é alvo de curiosidade. 

Agora, o neto dele divulgou que pretende vender o imóvel por R$ 3 milhões, no entanto, a venda só será concluída mediante uma condição: que o local se transforme em museu. 

O local, conhecido como refúgio do poeta pantaneiro, abriga sua mobília, as obras de arte, os utensílios domésticos e a biblioteca, que reúne cerca de 1,3 mil volumes. 

O imóvel mantém intacto o escritório em que o autor escreveu a maior parte de seus livros – vinte dedicados à poesia, quatro à prosa poética e quatro às crianças. 

Conforme divulgado pela família, Manoel acordava religiosamente às cinco da manhã, fazia uma caminhada, tomava guaraná em pó e, perto das sete horas, seguia para escritório, que segue intacto, “o lugar de ser inútil”, como gostava de chamar o gabinete. 

Ali ficava e só deixava o refúgio pouco antes do almoço. 

No gabinete, o literato recebia apenas os amigos muito próximos. Políticos, intelectuais, professores, estudantes e fãs que o visitavam regularmente ficavam restritos à sala.

Foi também na sala que, em julho de 2013, o autor se tornou membro da Academia Sul-mato-grossense de Letras. Ele ocupava a cadeira número 1 da instituição.

A cerimônia de posse decorreu sem pompa nem discursos. Àquela altura, o poeta – que morreria em novembro de 2014, com 97 anos – já se encontrava bastante debilitado.

A ideia de vender o sobrado partiu de Silvestre de Barros, um dos sete netos de Manoel.

O engenheiro florestal herdou a casa em dezembro de 2020, após a morte da avó, Stella. Na divisão dos bens, a artista plástica Martha de Barros – filha do escritor – ficou com todos os direitos autorais do pai, uma vez que os dois irmãos dela haviam morrido. 

O mais velho sofreu um AVC letal em 2013. Já o caçula não resistiu a um acidente aéreo.

Em 2007, ele pilotava um monomotor que colidiu com uma vaca num campo de pouso rural. O bicho atravessou a pista enquanto o aviãozinho aterrissava. 

Localizada no Jardim dos Estados, bairro rico de Campo Grande, a residência em estilo modernista possui três quartos e um pequeno quintal. 

Entre as obras de arte que abriga, destacam-se uma série de pinturas naif e peças do artesanato pantaneiro. O próprio Manoel desenhou e ajudou a construir o sobrado.

“A propriedade está exatamente do jeito que o poeta a deixou. Até o copo em que ele costumava beber uísque nos fins de tarde continua no mesmo lugar”, diz Pedro Spíndola, amigo do escritor por mais de três décadas. 

Responsável pelo projeto do futuro museu, o jornalista é o maior colecionador de pertences do literato. 

“Vou ceder tudo para o comprador do sobrado”, promete. 

O acervo agrega livros, manuscritos, ilustrações, filmagens, gravações e aproximadamente trezentas fotos de Manoel, tiradas por Spíndola. 

O jornalista estima que o novo proprietário da casa gastará pelo menos três anos para adaptar o imóvel e convertê-lo num museu, com livraria, sala de reunião, miniauditório, cafeteria e espaço expositivo. 

O governo de Mato Grosso do Sul e a prefeitura de Campo Grande estão na mira do vendedor, além de universidades, institutos culturais e empresas
privadas.