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Com alcunha de Laty GaGa, artista faz o público se questionar sobre os problemas das minorias

31 janeiro 2014 - 06h00Por Renan Gonzaga

Primeiramente devo explicar que Laty Gaga é diferente de Lady Gaga. O “ty” no lugar de “dy” vem do começo do seu nome, Thiago Moraes. Com alcunha que lembra o nome artístico de uma das maiores cantoras pops da atualidade, foi a forma que o jovem encontrou de atrair atenção para si ao mostrar para o público os problemas enfrentados pelas minorias.


Nascido em Campo Grande no ano de 1987, pertenceu desde o primeiro minuto de sua vida à classe média. Estudou nas melhores escolas e teve tudo do bom e do melhor à disposição. O que levava a crer que ele seria apenas mais um no meio de tantos que compõe a grande “massa de manobra”.


Mas conforme foi crescendo, descobriu na sua arte uma forma de contestar a moralidade, ou falta dela, que percebia no decorrer de seu amadurecimento. “Dentro de casa nunca houve tabus sobre o corpo, sobre política. Essas questões sociais sempre foram discutidas, então, nos outros lugares eu tento discutir também. Mas é claro que sou rechaçado”, explica.


(Foto: Renan Gonzaga)


A gente vive em um sistema capitalista que visa a competição, ser o melhor, ser branco, ser rico e do olho claro. Então, quem não tem essas condições, ou paga para ter ou é automaticamente excluído.”


No colégio católico onde estudou quando adolescente se via obrigado a rezar, mas ninguém o fazia praticar outras doutrinas, como o candomblé. E por não entender a diferença de uma religião para a outra, ou porque uma seria melhor que a outra, surgiu sua inquietude. “Se você questionar isso dentro da escola, você é visto como o próprio demônio”, afirma.


Durante o tempo em que estudou na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no curso de Artes Visuais, se envolveu em projetos artísticos com um grupo chamado Colisão. Ele bolou a ideia de apresentar uma intervenção teatral na própria UFMS, mostrou ao grupo e a partir daí começaram a se apresentar.


Em quatro anos fizeram algumas intervenções pelo Estado. “O embate era sempre isso, esse questionamentos com o status quo, opressor e oprimido”, relembra. E por conta dos temas abordados, de formas diferentes, acabou seguindo sempre a mesma linha performática: “Minha obra não consegue deixar de ser política.”


Durante performance, Thiago vela livro de Ernst Gombrich na antiga rodoviária. (Foto: Arquivo pessoal)


Realmente, um fator primordial de discriminação é o próprio poder, principalmente o político, onde os detentores passam a ilusão de que são melhores que os outros. Por isso, sua performance busca tratar das diferenças humanas, que não são aceitas e muito menos respeitadas, o que gera uma situação de desigualdade para todos.


Entre suas apresentações artísticas mais marcantes, ele relembra a intervenção que fez durante um projeto realizado na antiga rodoviária, chamado “Luz na Rodô”. Foi convidado a fazer uma performance, inspirada na Marina Abramovic, onde trabalhou a exaustão do corpo.


“Eu fui lá e fiquei velando durante 12 horas o Gombrich, que é a história da arte. Das oito da noite até as oito horas do outro dia. De manhã eu botei fogo no livro e joguei as cinzas dele no córrego. Foi interessante porque durante o evento as pessoas que passavam ali pensavam que era macumba.”


Até mesmo sua paixão pela Lady Gaga não fica de fora do engajamento político. Se vestindo como a cantora durante sua performance ele tenta quebrar paradigmas e convenções sociais. Segundo ele, os traços físicos e a própria sexualidade ainda são alvos de discriminação e preconceito, principalmente em uma época que se entende que traços “desqualificadores” são pertencentes e exclusivos das minorias.


Artista chama atenção também pelo seu visual. (Foto: Arquivo pessoal)


Com esse envolvimento, de estar em locais onde hoje é delimitado, Thiago acaba dando voz aos grupos sociais que são considerados inferiores, além de fazer o seu público pensar. “Aqui você deve fazer isso. Na cidade você deve se comportar desse jeito. Quando se tem tal idade você deve ser isso. Então, quando eu falo de espeço e lugar, é quando você tira ou desconstrói alguma coisa que gera questionamentos nas cabeças das pessoas. E eu acho que é isso que me motiva”, finaliza.