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06/06/2023 09:45

Como perder a sensualidade em uma hora, estrelando The Weeknd

The Idol promete crítica ao sistema, mas traz o puro suco do fetichismo masculino sobre corpos femininos

The Idol, exibido pela HBO, só apresentou um episódio, mas eu acho que já pode encerrar por aí. Espero ter que mudar de opinião e dizer que não entendi a crítica no começo, mas não sinto que perderei algo se abandonar a série agora.

Eu nunca presto atenção na crítica especializada e sou totalmente a favor de produções sem nenhum significado oculto, além do entretenimento pelo entretenimento. Também não me incomodo nenhum um pouco com sexo e um nude artístico. Só não esperava um 'soft porn' (pornô de leve) mascarado de crítica a Hollywood.

Adoro ouvir The Weeknd e tenho consciência de que as letras são pesadas. Aquele flerte com a perversão em um vocal doce e um ritmo de festa. Assim como Lana Del Rey canta devassidão com voz de choro, Abel brinca com a imaginação como quem embala uma canção de amor. E isso não é exclusividade gringa, afinal temos Kid Abelha, Skank, Rita Lee...

Agora, entre o flerte e a fofoca musical - como a música dedicada à Selena Gomez, com quem Abel teve um breve affair -, eu nunca pesquisei sobre The Weeknd antes. Talvez devesse (ou não). Ele conseguiu transformar uma história que prometia um olhar feminino sobre a venda dos nossos corpos em um grande fetiche para homens heterossexuais (o famoso 'hetero cis').

Certeza que a série foi inspirada em 'Take My Breath' (com legenda)

Vi gente comparando a 50 Tons de Cinza e até considerei uma ofensa aos livros e filmes, que minimamente pensam no que uma mulher gostaria de ver. A qualidade é baixíssima e só assisti ao primeiro filme da série do rapaz Gray, mas a comparação esdrúxula tem esse papel mesmo: mostrar quão fundo caímos no abismo.

O começo de The Idol faz sentido. Um close no rosto de Lily-Rose Depp performando várias emoções diferentes. Achei que eu que estava confusa com as expressões faciais que não pareciam ser tão variáveis assim, mas vi depoimentos como o meu, então, se eu estiver errada, não serei a única. Mas a proposta é legal. A equipe de produção lidando com o vazamento de um nude da cantora enquanto ela faz um ensaio para o próximo álbum. Todo mundo no modo contenção de danos e aguardando o trabalho acabar para dar a notícia desoladora à protagonista. Uma boa construção, inclusive a nudez. Faz sentido o corpo e a sensualidade como moeda. Até mesmo há um diálogo sobre a ética da situação: preservar a saúde mental da artista ou vender seu colapso como algo sexy?

Mas The Weeknd entra em cena como o dono de uma boate badalada - que depois será apresentado como líder de uma seita escusa, provavelmente alguma referência à Cientologia - e não há mais volta para o cognitivo. Primeiro que eu esperava uma construção de como foi a vida de Milley Cirus ou Britney Spears, o que não teve. Segundo que Abel não é um maluco tóxico aleatório, que existe mesmo, inclusive longe do glamour das telas. Ele é o cantor. Nada mais. Eu não fico confusa entre a Lady Gaga atriz e a cantora. Abel é apenas The Weeknd tentando um cabelo esquisito. Na minha cabeça, eu me perguntava: "a Miley Cirus namorou o The Weeknd, por isso teve a era "não sou mais a Hanna Montana"?".

Bom, como boa leiga, fui pesquisar. Eis que a bomba é pior do que imaginei. A primeira diretora, Amy Seimetz, foi chutada da série pela perspectiva "feminina demais". Entrou Sam Levinson que, bem, estragou Euphoria na segunda temporada - Barbie Ferreira, entendemos porque você brigou e foi boicotada. Juntou com The Weeknd e eles fizeram algo visualmente muito bonito, mas nojento na essência.

Temos na tela todos os fetiches da mente de vossos mentores, sem qualquer ponderação feminina. Me senti desconfortável pela atriz, mesmo sendo nepobaby (termo para filhos de famosos que ganham papéis de destaque apenas por existirem/terem pais de sucesso. No caso, a atriz Lily-Rose Depp é filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis).

Os rumores dos bastidores deixam tudo mais bizarro. Aparentemente queriam filmar a protagonista levando um ovo na vagina. Se quebrasse, ela não seria estuprada, oh que decepção!!! Vadia eu aceito numa boa, mas galinha só se for a pintadinha pra divertir a criançada. Fetiche existe, alguns são bons, mostrá-los não é errado, mas temos que aceitar que há pessoas que sabem fazer isso bem feito e outras não. E, ênfase, estupro não é fetiche, é crime!

Depois de lançarmos campanhas do #metoo contra abusos de atrizes em cena e nos bastidores, lutarmos por salários equitativos, apesar de ser uma profissão que o valor do pagamento não é exatamente proporcional ao talento, vamos ladeira abaixo com esse olhar masculino sobre a denúncia da venda do corpo feminino.

Ah, mas a atriz concordou com tudo! Ela não tem direito sobre o próprio corpo? De se mostrar nesse trabalho? Tem, obrigada feminismo. Infelizmente, assim como os 'red pills' estragaram Matrix, o feminismo tem suas próprias contradições. Defendo o direito da atriz de participar de uma série fetichista, mas sinto pena de que, aparentemente, ela não tenha consciência disso - ou não se importe. Assim como muitos outros que a defenderão.

Minha crítica é a algo do gênero ser normalizado porque há mulheres que defendem. Paulo Freire disse que o sonho do oprimido é ser opressor e eu acrescento que a consciência de classe, gênero, sexualidade, não nasce com o ser humano. É preciso estudar, refletir e reavaliar o tempo todo.

Algo positivo tiro disso: o fandom de Blackpink parece bem preocupado com o hate (críticas/comentários de ódio) que Jennie Kim, do grupo, vai sofrer por participar dessa bomba. A geração k-pop traz um pouquinho de esperança já que os fãs separam a profissional do papel que ela assumiu. Mais que isso, compreendem que, mesmo que Jennie Kim possa pensar diferente da direção, ela também pode estar amarrada a contratos e decisões empresariais. O slogan traz que a série veio do esgoto. Bom, por mim, já pode voltar de onde veio.

The Idol critica o que há de ruim na indústria fazendo algo pior

* Este artigo não reflete a opinião do TopMídiaNews

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