Existe dia para saudade? Existe. Hoje, trinta de janeiro. Alguém quis marcar, destacar no calendário, mas isso, para quem sente, pouca importa. Saudade, na verdade, não tem data e nem sempre faz sorrir. É mais uns daqueles sentimentos que não pedem licença. Chega de mansinho, se aloja no coração e faz um estrago, para o bem ou para o mal.
Saudade é a falta do namorado, namorada, do amigo que mora longe, dos pais, de alguém ou de algum lugar. É a recordação que tira um sorriso, mas que também derruba lágrimas.
Para a educadora física Clarice Pinheiro, de 34 anos, essas sete letras amontoadas formam mais uma palavra dura. Uma lembrança triste, que vem todos os dias, a toda hora, independente do dia estipulado.
Saudade, neste caso, é tristeza, apesar dos bons momentos que sempre vem à cabeça. Clarice perdeu o pai há três anos. Um infarto o levou. Na época, com 31 anos, ela já era órfã de mãe.
“Antes de falecer, ele ficou cinco anos doente, teve diabetes e foi perdendo a visão. No final ele estava dependente da gente”, relata. Hoje ela se lembra de todos os momentos bons que viveu ao lado do pai. Logo, ele representa a perda, a falta e amor que se misturando formam o conceito da palavra em sua cabeça.
A mulher sofreu, ainda sofre com tudo isso, mas se agarrava às lembranças para recordar e superar as perdas. É contraditório, mas esse sentimento chamado saudade, esse que gente acha que entende, leva qualquer um do riso ao choro em um só momento.
Dona Maria acredita que a maturidade faz o conceito de saudade mudar. (Foto: Renan Gonzaga)
A dona de casa Maria Neide Alves, de 63 anos, sabe bem o que isso. Entende o sofrimento de Clarice porque, assim como ela, se agarra às lembranças a mãe, que se foi há 4 anos, para conviver com a dor.
“Não tem mais aquela reunião na casa da mãe. Eram em todas as festividades como natal, aniversário, domingo. A família era grande e ficava todo mundo junto. Agora não, a gente se reúne, mas sempre fica faltando”, disse.
Maria acredita que a maturidade faz o conceito de saudade mudar, porque na juventude é comum sentir falta de um namorado ou de um amigo que foi morar longe, mas depois de adulto as prioridades mudam.
Pelo lado positivo, sem relação alguma com a morte, seu filho que mora em Florianópolis, por exemplo, é o motivo dos seus pensamentos mais distantes.
“A gente criou, curtiu a gravidez, viu crescer, almeja tudo de bom, e se fica doente a gente sofre junto”, explica a aposentada. E para matar a saudade a solução que ela encontrou foi ligar todo dia, para ouvir um pouco da sua voz e ficar mais calma.
É por isso que, apesar da marca no calendário, pouco importa a data. Saudade, de fato, não tem dia.