Do que é permitido falar na sala de aula? Sexualidade, drogas, violência, preconceito, diversidade cultural, morte? Estes temas por si só são exemplos de tabus, muitas vezes deixados de lado pelos professores e pelos próprios alunos, em um local onde deveria acontecer exatamente o contrário: A discussão.
Desde a década de 90, os chamados temas transversais, que compreendem ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural, são obrigatórios no currículo escolar, mas cada instituição de ensino pode optar pela forma de abordá-los em sala de aula.
Para o produtor cultural Givago Oliveira, o cinema é um boa opção para tratar dos temas transversais mais delicados. “É um direito de todo ser humano entender as diferentes linguagens das ciências. No Brasil, a linguagem cinematográfica é um direito que todos nós entendemos, mas não é uma realidade inserida dentro das escolas”, explica.
Givago é a mente por trás de um projeto que visa exatamente isto aqui em Campo Grande. O “Inventar com a Diferença” tem a intenção de formar professores da rede pública de ensino de todo o Brasil para realizar trabalhos com o audiovisual em sala de aula.
“Esse projeto vem de encontro com isso, de atender esse direito humano, que as pessoas possam entender o processo cinematográfico e que se utilizem desse entendimento, desse aprender o cinema dentro da escola, para discutir os direitos humanos, que é algo que já está em atraso a algum tempo”, afirma o produtor.
Para Givago, o cinema é um boa opção para tratar de temas delicados. (Foto: Renan Gonzaga)
Por mais que no Brasil seja tratado de forma superficial, o debate sobre temas transversais está bem avançado comparado a outros países. Em Portugal, por exemplo, o governo aprovou só em 2009 uma lei que obriga as instituições de ensino a implantarem a educação sexual nas salas de aulas. Os portugueses, não contentes, realizaram passeatas na tentativa de derrubar a obrigatoriedade. É mole?
A ação do “Inventar com a Diferença” tem intenção de aproximar crianças e adolescentes do universo temático do cinema e dos direitos humanos. É baseado em uma metodologia descentralizadora, onde todos os professores e alunos atuam de forma coletiva na realização e desenvolvimento das atividades.
Mas será que esta proposta, na prática, vai deixar os jovens instigados com a novidade? A pré-adolescente Sarah Dias, de 13 anos, afirma que sim. “Eu gosto de cinema, quando a professora passa filmes para a gente na sala todo mundo presta atenção. Vai ser legal aprender assim”, comenta a estudante da rede pública de ensino.
Já a mãe de Sarah, a costureira Maria Pereira, afirma que apesar de conversar sobre vários assuntos, as vezes não sabe como falar sobre tabus, como a sexualidade, com a jovem em casa. “Tomara que a escola da minha filha tenha um programa como esse, para tratar desses assuntos, assim ela vai poder tirar as dúvidas e me deixar mais tranquila”, conta.
Porém, Givago alerta que nenhum assunto é de responsabilidade apenas da escola, e sim um trabalho integrado de educação e orientação entre os professores, o cinema e a família. “É exatamente na diferença que a gente encontra o embate. Cada vez mais em uma sociedade que se mostra múltipla e heterogênea, a gente vê que na ideia da diferença que vem a crise. E inventar com diferença é tentar tirar um fruto bom daquilo que talvez fosse um problema”, finaliza.