Celebrado hoje (15), o dia do professor chega mais uma vez, como um lembrete - necessário - de valorização dos profissionais que nos ensinaram a ler, escrever, desenhar e, também, a desenvolver nossas habilidades artísticas. É o que faz o professor Maurício Kemp nas aulas de violão, guitarra, viola caipira, contrabaixo e cavaquinho, além de inglês, que ele também leciona.
A música entrou cedo na vida de Maurício. Na primeira oportunidade, o professor deu início às aulas para aprimorar o conhecimento e, posteriormente, ele se tornou o mestre. "Comecei a dar aulas particulares de violão e guitarra em 1986, depois, em 1991, comecei a dar aulas de inglês; em 1997 comecei a dar aulas de violão e guitarra em um conservatório em Mogi Guaçu- SP e, em 2006, vim para Campo Grande e comecei a dar aulas de violão, guitarra, viola caipira, contrabaixo e cavaquinho em uma escola daqui, até que em 2012 montei com a Marianinha (esposa de Maurício) nossa escola, Gig Musical", relembra.
Gratidão aos mestres
O professor comenta que, para ele, o ato de passar o conhecimento adiante é muito gratificante. "Não entendo pessoas que renegam seus mestres. Eu até hoje tenho contato com meus professores de guitarra, e faço questão de ligar para eles periodicamente e lembrá-los da importância que tiveram na minha vida. O bom professor tem o poder de moldar a vida de algumas pessoas. Quando eu era adolescente, uma professora de inglês que eu tinha no ensino médio me conseguiu uma bolsa em uma escola particular e, quase 40 anos depois, eu a encontrei no Facebook e a agradeci imensamente pela bolsa. Com certeza, minha vida seria diferente se eu não tivesse acesso a essa bolsa. Choramos bastante e ela ficou super feliz", relata.
Maurício conta que tem ex-alunos, em Campo Grande, que já montaram suas próprias escolas de música, alunos que já tocavam em bandas famosas e que, vez por outra, o procuravam para tirar dúvidas, e ex-alunos que começaram do zero e atualmente têm bandas famosas.
Histórias para contar
É claro que, ao longo de praticamente quatro décadas, é perfeitamente normal que se tenha muitas histórias para contar. Com professores não é diferente e, com Maurício, muito menos: algumas situações o marcaram. "Tem todo tipo de história. Muitas vezes, o professor acaba sendo um modelo seguido em áreas fora da matéria ensinada. Agimos como terapeutas, conselheiros e, algumas vezes, como um 'paizão' para algumas pessoas. Tenho vários alunos que me chamam de 'paizão'", comenta.
E as histórias são, além de interessantes, bonitas e, às vezes, podem começar de forma engraçada. "Teve um aluno que fez uma redação sobre mim na escola; tem alunos que me contam seus problemas, de maneira que eu consiga trazer alguma harmonia com os pais... por atender toda faixa etária, as histórias variam muito. Tem alunos que sempre sonharam em tocar algum instrumento, e, quando conseguem tocar a primeira música, choram na sala. Teve um aluno que o pai esqueceu de vir buscar, e eu levei o guri para casa, minha esposa fez um jantar para a gente, comemos e ficamos assistindo shows até o pai vir buscá-lo, 1h da madrugada. Hoje somos grandes amigos."
Embora seja dono de uma escola de música particular, o músico deixa claro que não se trata de uma troca meramente comercial: há amor envolvido. "Aliás, uma coisa muito frequente, que fazemos a maior questão, são os alunos que viram amigos, temos muitos casos assim."
Há, também, situações emocionantes e inspiradoras que tocam o coração. "Outro caso é o de um senhor de 66 anos, que começou a fazer aulas de violão e canto conosco e, três anos depois, gravou suas músicas para fazer um CD. Atualmente tenho um aluno de 88 anos que sempre sonhou em tocar violão e, agora, três meses depois, ele já toca algumas músicas."
Maurício, aluno (ao centro) e Mariana, esposa de Maurício (à direita). Foto: Arquivo pessoal
Relevância
O professor comenta que, por vezes, não se dá conta do impacto que sua atividade tem em outras pessoas, no que tange à emoção de saber tocar um instrumento. "Uma coisa que me emociona são pessoas que chegam e dizem achar bonito tocar violão. Muitas vezes, para a gente, o ato de tocar um instrumento é tão natural, que acabamos esquecendo que a maioria das pessoas não faz isso. Então, acho uma coisa realmente muito linda quando alguém me lembra de como é maravilhoso tocar um instrumento", dispara, emocionado.
Entretanto, Maurício entende o grau de relevância de sua profissão dentro da sociedade, da formação de indivíduos, e a seriedade com que deve ser tratada. "O educador, enquanto formador de opinião, tem a obrigação de estar constantemente analisando seu comportamento para se adaptar às novas gerações de alunos e ser o mais idôneo e profissional possível", pontua Kemp.
Lições que o mestre aprendeu
Quando perguntado sobre a maior lição aprendida com professor, o guitarrista afirma não saber, mas o que relata em seguida deixa claro que o principal aprendizado foi entender que cada aluno é um universo. "Não sei a maior [lição], mas ao longo desses quase 40 anos dedicados ao ensino, fui aprimorando meus métodos de maneira que o ensino ficasse cada vez mais fácil para o outro entender, absorver e colocar em prática. Aprendi também que cada aluno é único, singular. Cada um aprende em um ritmo diferente... o que é assimilado facilmente por uns, é penoso para outros, e vice-versa. Por isso, fiz questão de desenvolver um método que seja personalizado. Cada um precisa aprender o tipo de música que gosta, na velocidade que lhe é natural, precisamos respeitar isso. Mas até hoje aprendo alguma coisa todo dia", conclui.