A+ A-

quinta, 25 de abril de 2024

Busca

quinta, 25 de abril de 2024

Link WhatsApp

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp Top Mídia News
Campo Grande

05/03/2019 17:18

A+ A-

Cacique da aldeia Marçal de Souza diz que prefeitura suspendeu cobrança de IPTU

Erros em cálculos teriam motivado a interrupção no pagamento do tributo, nunca antes cobrado dos índios

O cacique Daniel da Silva, 37, da aldeia indígena Marçal de Souza, no bairro Tiradentes, em Campo Grande, negou que a comunidade composta por ao menos mil indígenas da etnia terena, queira agora vender suas casas para "quem quiser", já que receberam carnês para o pagamento do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano).

Desde sua criação, duas décadas atrás, a prefeitura não cobrava qualquer tributo dos indígenas. As famílias que lá moram pagam, sim, pela água, esgoto e energia elétrica.

A aldeia Marçal de Souza é a primeira construída no meio urbano do país. Vinte e três anos atrás a prefeitura começou a construir 135 unidades habitacionais que passaram a ser habitadas por índios vindos para a Capital das aldeias situadas nas cidades de Miranda e Aquidauana e que moravam de aluguéis ou nem sequer lugar para viver tinham (saiba mais logo abaixo).

Reportagem publicada no sábado passado (3) pelo TopMídiaNews narrou que alguns índios queixaram-se do valor cobrado de IPTU e já que tinham de quitar o tributo queriam os mesmos direitos dos não-índios, um deles o de negociar seus imóveis com quem quiserem.

Por regra, as casas das aldeias só podem ser vendidas para famílias índias. Para o cacique, o que pensa alguns indígenas não representa o desejo de toda a comunidade. A reportagem ouviu moradores da aldeia.

 

Memorial da Cultura Indígena, que recebeu o nome da fundadora, Enir Terena (Foto:Wesley Ortiz)

Daniel atua na aldeia como o chefe da área e é dele a missão de representar os interesses das famílias. Ele sustentou na tarde desta terça-feira (6), que até hoje 99% dos donos dos imóveis construídos na aldeia urbana nunca haviam recebido carnê o pagaram IPTU.

Em dezembro passado, contudo, as famílias começaram a receber o tributo e os valores cobrados eram diferenciados um do outro.

"Teve família que recebeu o carnê no valor de R$ 30; já outros, de R$ 2 mil. Isso, sim, estamos cobrando. Se formos pagar, que seja um preço justo", afirmou o cacique.

Daniel disse que buscou explicações da prefeitura e, já no dia 2 de janeiro deste ano, o assunto passou a ser debatido.

Ele afirmou também que o próprio município admitiu erros nos cálculos do IPTU e que a cobrança, ao menos por enquanto, está suspensa.

O cacique contou que o fato de a prefeitura cobrar IPTU das famílias indígenas é "inédito"    . Embora isso, ele afirmou que os índios estão dispostos a pagar o imposto desde que de "maneira justa".

Para ele, "não tem como uma família pagar R$ 2 mil pelo tributo e, outra, R$ 30. Isso é injusto. Isso, sim, protestamos".

Daniel argumentou que depois do manifesto dos indígenas, até por meio das redes sociais, ele procurou e foi atendido por representantes da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), Sefin (Secretaria Municipal de Finanças e Planejamento) e ainda pela Secretaria Municipal dos Direitos Humanos por meio da coordenação de assuntos indígenas.

Além da suspensão da cobrança e revisão dos cálculos do IPTU, revelou o cacique, a prefeitura está pesquisando se o tributo deve ou não ser pago.

Por se tratar de uma aldeia indígena, teoricamente o imposto não deveria ser cobrado. Mas, segundo o cacique, o assunto tem sido motivo de discussão pelo município.

REDE SOCIAL

Rodrigo Soares Costa, 35, que iniciou o manifesto por achar alto o valor do imposto, recorreu as redes sociais. O IPTU dele foi avaliado pela prefeitura em R$ 1.945,00.

"Não acho justo isso, tenho amigos que moram em lugares mais caros e que vão pagar R$ 400", comparou ele.

Aldeia Marçal de Souza foi construída no bairro Tiradentes, em Campo Grande (Foto:Wesley Ortiz)

HISTÓRICO

De acordo com o cacique Daniel, um dos filhos de Enir da Silva Bezerra, a Enir Terena, primeira mulher a ocupar função de cacique em MS, fundadora da aldeia (ela morreu em junho de 2016), em 1973, há 45 anos, a prefeitura de Campo Grande doou uma área para a Funai (Fundação Nacional do Índio).

A ideia, à época, era construir no local, ocupado hoje pela aldeia urbana, a Casa do Índio, o que não aconteceu. Ocorre que no início dos anos 1990, a área foi invadida por um grupo de sem-teto não-índio.
Enir Terena, então, reagiu e pediu ajuda da prefeitura e também convocou os índios para seguirem para a área.

Acionado, o então prefeito da cidade, André Puccinelli (MDB), concordou em construir a aldeia para os índios, desde que o imóvel fosse devolvido ao município. E isso foi feito. A prefeitura comprou os materiais para a construção e as famílias pagavam pelo imóvel uma mensalidade equivalente a 10% do salário mínimo.

Dos 135 imóveis erguidos, 84 foram escriturados e têm como donos as famílias indígenas. Restam, ainda, 50. Com o tempo, familiares dos terena que entraram primeiro na aldeia construíram pequenos cômodos  nos fundos dos imóveis, que já somam em torno de 200.

Loading

Carregando Comentários...

Veja também

Ver Mais notícias
GOVERNO MS DENGUE ABRIL 2024