A família do soldado Dhiogo Melo Rodrigues, jovem de 19 anos encontrado morto nas dependências do CMO (Comando Militar do Oeste), em Campo Grande, na tarde de segunda-feira (27), pede justiça e alega que jovem passava por sofrimento psicológico, fato ignorado durante serviço no exército.
Em nota de repúdio enviada ao TopMídiaNews pelo irmão do jovem, Thiago Melo Rodrigues, a família explica que Dhiogo havia ingressado há apenas três meses no Exército Brasileiro, e desde o início, apresentava sinais de forte abalo emocional, e declarou a família que não queria mais servir. Entretanto, ele não obteve auxilio ou tratamento adequado dentro do Exército.
“Mesmo diante dessas manifestações, não houve acolhimento nem encaminhamento adequado, sendo mantido em serviço ativo e armado, o que evidencia grave falha no acompanhamento psicológico dos recrutas”.
Dhiogo foi encontrado ferido por um tiro de fuzil, arma usada durante serviços de guarda nas instalações. Segundo informações do Exército, o jovem era lotado na Base de Administração e Apoio do Comando Militar e no momento do incidente estava sozinho em um posto de serviço do aquartelamento do Forte Pantanal.
Ainda conforme a família, o CMO teria removido o corpo do local sem a realização da perícia, o que iria contra procedimentos básicos de apuração, e que houve tentativa de encaminhar o corpo ao SVO (Serviço de Verificação de Óbito), o que impossibilitaria a investigação sobre as causas da morte. A própria família precisou interceder e garantir o envio ao IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) para a necropsia completa.
O CMO informou que faz ‘testes psicológicos periódicos’, o que a família rebate, já que nenhum laudo foi apresentado ou documentos que comprovassem capacidade psicológica para manuseio de armamento.
“Relatos de diversos recrutas que serviam no mesmo pelotão apontam práticas recorrentes de maus-tratos e pressão psicológica, o que reforça a suspeita de um ambiente de violência institucional e negligência com a saúde mental dos jovens sob tutela do Exército”, diz a família de Dhiogo.
“Esta família, devastada pela dor, repudia a omissão e o descaso das autoridades militares diante de uma vida interrompida de forma tão brutal. Exigimos transparência nas investigações, acesso integral aos laudos, e a responsabilização dos superiores por eventuais falhas e abusos que possam ter contribuído para a tragédia. Não se trata apenas da morte de um soldado, mas da perda irreparável de um filho, de um irmão e de um jovem que tinha toda uma vida pela frente — vítima de um sistema que deveria protegê-lo, não destruí-lo”, finaliza.
A reportagem entrou em contato com o CMO, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.
Mãe não se conforma
Conforme apurado pela reportagem, a mãe da vítima, Christiane Melo dos Santos da Silva, de 57 anos, relatou os momentos de terror e pressão vividos pelo filho no quartel, além de graves situações de capacitismo.
“Meu filho reclamava muito. Voltou da formatura sujo, ralado e machucado. Sempre fechado e com medo das consequências que poderia sofrer se falasse algo interno. Inúmeras vezes relatei ao comandante, ao tenente, a quem eu encontrava nas dependências do quartel — e sempre debochavam! Até de autista zombavam que ele era, pois diziam que não levava jeito para o operacional”.
Christiane relatou que chegou a pedir que mudassem o filho de setor, mas mesmo assim não foi prestado nenhum tipo de assistência. “Que o colocassem em algo de tecnologia, de logística, onde não colocasse sua integridade física em risco. Era notório o jeito desengonçado do meu filho — alto, magro, de comunicação difícil, metódico. Mesmo assim, nunca lhe foi prestado nenhum tipo de socorro psicológico”.
O celular do jovem também foi confiscado, o que ela acredita ser uma tentativa de mascarar o caso. Num misto de emoção e indignação, a mãe precisou enterrar o filho no dia do próprio aniversário.
“Fiquei mais de duas horas com o corpo dentro de um saco esperando liberar, descaso total. Hoje, o que me resta é a dor e a indignação diante da omissão e da falta de humanidade com meu filho”.










