Leitor do TopMídiaNews, preocupado com a situação do Parque do Sóter, em Campo Grande, enviou imagens e vídeos falando sobre o que vem sendo feito no local, e que muitos acham incoerente: a derrubada de mata.
"Isso vem de um projeto de estabelecimento de um lago no Sóter, no ano 2008. Não fizeram nada até o ano de 2022, correto? Quatorze anos depois, naturalmente, árvores cresceram na área, fecharam a mata ciliar e, agora, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), sem fazer fiscalização, sem mandar ninguém lá para verificar a situação, deram essa autorização para um cara, e ele está desmatando a nascente do córrego Prosa", afirma o leitor.
Ele conclui, lamentando-se pelo fato: "Difícil agora, ou triste, é que a floresta já foi derrubada e não vai dar para reverter esse processo. Árvores foram mortas, e é muito triste, mesmo".
No entanto, a ação tem explicação. O biólogo José Milton Longo, responsável pela Delegacia Regional do CRBio-01 (Conselho Regional de Biologia) em Campo Grande, doutor em Ecologia e Conservação pela UFMS, explica:
"Já faz algum tempo que a gente tem apontado para essa questão do Sóter e a necessidade de recuperar, restaurar a função hidrológica que aquele lago tinha. Teve um assoreamento gigantesco, que entulhou todo o lago e ele perdeu a função hidrológica, isso representa um risco lá para baixo, quando o Sóter desce para se juntar com o Prosa, no Parque das Nações, porque ali tem todo aquele histórico de enchentes, e isso é uma medida mitigadora", explica.
Milton comenta, também, sobre as ações da prefeitura. "E o que eu soube é que a prefeitura tem projetos. Contratou uma empresa de engenharia e já tinha falado que isso tinha que ter obras de contenção de erosão, porque as águas preferenciais à parte de cima descem para o Sóter mesmo, não tem jeito, por isso que entulhou tudo."
O doutor em Ecologia fala, ainda, sobre medidas necessárias. "Agora tem que fazer um disciplinamento dessas águas, uma correção, fazendo um aprofundamento dessa área que era o lago, que era uma bacia de contenção e que, dado todo o tempo, cresceu uma vegetação em cima, e ótimo, tem que ter compensação, mesmo. São 1.300 árvores que vão ter que ser plantadas, 1.200, não sei quantas, mas em função da retirada dessas que estavam já colonizando a área".
E fala, também, sobre o resultado dessas medidas: "Ele volta a cumprir uma função ecológica, hidrológica e paisagística, porque era muito legal quando inaugurou o Sóter com aquele lago, que tinha essa função, além de ser a beleza cênica".
Longo ainda estabelece um paralelo entre o lago do Sóter e outra localidade da Capital que já passou por um processo de entulhamento. "Comparativamente, tem o lago do Rádio Clube, que era um lago que tinha a função de retenção de água de chuvas, de enchentes, e que na verdade, perdeu essa função hidrológica com o entulhamento, virou um 'brejão', assim como estão fadadas a virar essas áreas que têm como fundo de vale aceptor de corpos d'água".
José Milton cita, também, outro exemplo. "O Lago do Amor, por exemplo, se não tomarem atitudes corretivas de desassoreamento, teremos também a perda da função hidrológica e ecológica, porque vai deixar de ser um lago, vai virar um brejão. Ele vai se transformar em outro ambiente, em outra forma de lago que não é mais lago, tem outra função", pontua o ecologista.
O que diz a prefeitura?
Segundo Prefeitura, haverá compensação pela derrubada das árvores (Foto: Aurélio Miranda)
Segundo a assessoria da Prefeitura de Campo Grande, será realizada a recuperação do piscinão construído no Parque Sóter, que está assoreado e coberto pela vegetação. "Para isso serão retiradas 8.400 toneladas de areia e sedimentos, material suficiente para encher 700 caminhões. A bacia de amortecimento, construída há quase 20 anos, com o Parque, tem capacidade para reter até 10 milhões de litros da enxurrada escoada pelo sistema de drenagem do Bairro Mata do Jacinto."
Conforme o site da Prefeitura, com a falta de manutenção durante todos esses anos, houve assoreamento severo, que fez com que a bacia de amortecimento desaparecesse e fosse, ainda, recoberta pela vegetação.
O site diz, ainda, que "o desassoreamento é uma medida compensatória custeada pela empresa responsável por um empreendimento imobiliário. A manutenção foi licenciada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur), que autorizou a supressão de 44 árvores e determinou o plantio de 1.300 mudas como compensação."
Assista:
Leitores ficam preocupados com ação da Semadur na região do Parque do Sóter pic.twitter.com/LTKLYoaVTO
— TopMídia News (@topmidianews) December 5, 2022