Vocalista de uma banda de punk e hardcore em Campo Grande, o músico Enrique Gonçalves, 39 anos, repudiou a fala do novo presidente da Funarte, maestro Dante Mantovani, sobre o rock ativar o satanismo e o aborto. O roqueiro diz que é pura ignorância pensar assim e acredita que a mistura entre conservadorismo e a arte é perigosa.
Dante foi nomeado para a fundação no último dia 2 e causa polêmica com artistas ao fazer comentários sobre cultura e música em seu canal no Youtube.
''O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo'', criticou o dirigente.
Enrique garante que o titular da Funarte está totalmente equivocado.
''Cara, ele teria de estudar a história do rock antes de dizer isso'', explica. ''Basta dar um 'google' e ver que o rock é uma variante do blues que tocava nas igrejas'', detalhou o músico.
Enrique alerta para mistura de conservadorismo e arte. (Foto: Divulgação)
Gonçalves lembra que há muitos estilos dentro do rock n' roll e que realmente existem vertentes mais ''cabulosas'', mas que isso é somente uma parte do todo. Ele lembra que na Noruega existe uma vertente do rock que é considerada ''diabólica'', chamada de black metal, mas que mesmo assim foi reconhecida como parte da cultura popular do país.
Para o vocalista, as falas do dirigente são para atender um público mais conservador no país, mas isso vai na contramão de alguém que trata da coisa pública.
''Quando se mistura conservadorismo com arte é perigoso, quando é uma coisa de estado. Um órgão público tem que atender todas as artes, porque o estado é plural'', refletiu o músico.
O estudante de engenharia de hardware, de 22 anos, que curte rock n' roll, e que não quis se identificar, concorda com Enrique e ficou espantado ao ouvir as declarações do dirigente. Ele também acredita que a fala tem conotação político-ideológica.
''Eu espero que seja isso mesmo, porque alguém pensar isso de verdade é um absurdo'', disse o acadêmico.