Moradores que ocupam uma área pública na Rua Bororós, no Jardim Tijuca, em Campo Grande, denunciam ações violentas e desumanas por parte da prefeitura e das forças de segurança. A ocupação, que teve início na madrugada de quinta-feira (19), foi organizada por 46 famílias que alegam não ter condições de arcar com o alto custo de aluguel e que buscam um local digno para morar.
Desde o início, os terrenos foram repartidos entre os ocupantes e as primeiras estruturas começaram a ser erguidas com lona e madeira. Na sexta-feira (20), a GCM (Guarda Civil Metropolitana) esteve no local e orientou os moradores a não montarem barracos. Segundo os relatos, os ocupantes respeitaram a determinação por um tempo, mas voltaram a montar as estruturas no dia seguinte.
No sábado (21), a situação escalou. Moradores relatam que a GCM, junto da Polícia Militar e da Romu (Ronda Ostensiva Municipal), usou bombas de efeito moral e spray de pimenta contra as famílias. "Não queriam saber se tinha criança, não queriam saber se tinha idoso", conta Thiago de Jesus Ribeiro, 26 anos, serralheiro. "Uma criança de dois anos desmaiou, uma idosa também. Foi desumano".
Após a confusão, um acordo verbal teria sido firmado entre lideranças da ocupação e servidores da Emha (Agência Municipal de Habitação). O compromisso permitiria que os moradores permanecessem no local até esta segunda-feira (23), desde que não montassem barracos.
"Nos prometeram uma reunião para segunda-feira. Fomos até lá, mas não quiseram nos atender direito. Colocaram uma assistente social na nossa frente e só quiseram cadastrar as oito lideranças que estavam lá, e não o restante das famílias", afirma Thiago.
Na manhã desta terça-feira (24), a frustração veio com mais violência. De acordo com os relatos, moradores haviam conseguido uma autorização informal para erguer ao menos um barracão coletivo por conta do frio.
"Foi o que disseram lá na prefeitura, que poderíamos montar um barracão devido ao frio e esperar até quinta-feira por uma nova reunião", afirma Carol dos Santos, 36 anos, auxiliar de serviços gerais.
No entanto, ao final da construção, guardas municipais e funcionários da prefeitura apareceram no local, negaram qualquer acordo e destruíram o abrigo com uso de patrolas. "Passaram por cima dos materiais das pessoas, disseram que não tinha autorização nenhuma, que a gente não podia nem estar ali sentado. Deram 15 minutos para tirarmos o que tinha dentro, senão iriam usar a força novamente", denuncia Carol.
As famílias dizem estar sendo ajudadas por moradores do bairro. Muitas delas são compostas por trabalhadores com filhos, que não conseguem mais pagar aluguel.
"A prefeitura quer fazer parecer que somos usuários de drogas ou moradores de rua, mas isso é mentira. Somos pais e mães de família, trabalhadores, querendo apenas um lugar para viver com dignidade", ressalta uma das moradoras.
Até o momento, os moradores continuam na área, porém sem barracos ou construções. Eles cobram da prefeitura uma resposta sobre a situação habitacional das famílias. A prefeitura foi procurada pela reportagem a respeito do caso, mas não respondeu até a publicação desta matéria.