A técnica em necrópsia Inara Rodrigues de Souza, de 36 anos, viu sua vida mudar radicalmente após dar entrada no HRMS (Hospital Regional de MS Rosa Pedrossian) em abril deste ano. O que era para ser uma internação por suspeita de meningite acabou se transformando em um grande pesadelo que parece não ter mais fim: ela entrou na instituição andando e saiu em uma cadeira de rodas.
Cansada de não ter mais celeridade no seu caso, Inara acabou fazendo um desabafo em um grupo do Facebook. "No mês de abril desse ano eu passei muito mal, com crises fortes de enxaqueca , enrijecimento no pescoço, e dor de garganta. Fui internada com suspeita de minigite, o que foi descartado depois de dois dias. Para fazer um exame fizeram a punção liquórica mais de uma vez, me mandaram ficar duas horas sem me mecher, depois de um período de quatro horas, a enfermeira veio, me deixou no isolamento e pediu para que eu trocasse a roupa, colocasse a do hospital, foi aí que perdi equilíbrio e comecei a cair. Relatei para a enfermeira, o médico apareceu somente no outro dia, então eu disse 'doutor, algo está estranho, não consigo ficar em pé'. Ele virou as costas e saiu", diz o início do post que ela fez em um grupo no Facebook.
Em conversa com a reportagem do TopMídiaNews, Nara comenta que já entrou com processo contra a instituição. "Então, eu já dei entrada com advogado. O que mais me chateia é o tratamento, a indiginação é da demora para um consulta. Da última vez que eu internei e que me taxaram de maluca... cada vez que passa eu tô ficando pior, tanto por questão de infecção urinária, que é constante, as dores, que são terríveis", lamenta.
Ela explica que o que a incomoda é o descaso, como ela diz, de forma geral. "Eu fui procurar atendimento médico para ter uma situação melhor de vida, e isso é muito lento, o tratamento é péssimo, e a minha indignação é sobre isso, o tratamento médico que eu sofri e que acontece com várias pessoas todos os dias, todo dia tem um erro. É o descaso com que eles tratam as pessoas, isso é que é desumano, por isso que eu fiz aquele post, eu estou cansada".
Outra reclamação de Inara está relacionada aos atendimentos aos quais ela tem direito, via SUS (Sistema Único de Saúde). "Depois do que aconteceu, eles não me ajudam com fisioterapeuta, eu tenho direito a tudo, até medicação pela Saúde, e nem isso eles me ajudaram, eles me negaram", relata.
"Depois desse erro médico, que eles querem tapar o sol com a peneira, a minha saúde só foi piorando, eu não consigo fazer nada, não consigo tomar um banho sem ajuda, eu fico com essa sonda 24 horas porque paralisou a minha bexiga, e a minha vida acabou, né? Porque antes eu conseguia pilotar, dirigir, sair, fazer minhas coisas, agora não. Fora a dor dessa atrofia de ficar parada, de não fazer exercício, porque eu tenho direito à fisio. O SAD (Serviço de Atendimento Domiciliar) vem na casa... tudo isso eles me negaram."
E ainda tem os altos gastos. "Então, o meu descontentamento com tudo o que está acontecendo é isso, é sobre a falta de atendimento médico adequado, e a minha situação financeira, que apertou. Eu estou vivendo de ajuda para comprar fralda, que tem que ser antialérgica; a medicação dobrou de R$ 3 mil para R$ 6 mil, então o gasto está tremendo".
Buscando ajuda
Inara afirma que chegou a procurar a Avem MS (Associação das Vítimas de Erro Médico de Mato Grosso do Sul). "Meu tio é presidente dessa Associação das Vítimas de Erros Médicos, eu tenho pouco convívio com a família do meu pai. Ele até tentou arrumar uns advogados, mas a primeira coisa que o advogado falou foi que eu ia perder a causa, queria 50%. Primeiro, que se ele fosse perder a causa, ele não iria pedir metade do valor, né? Aí eu não dei entrada com os advogados do meu tio e ele não fez nada para me ajudar. Porque ele tinha que me ajudar e não ajudou", relembra.
O "desabafo" no Facebook foi um atp quase que de "desespero", a fim de tentar conseguir alguma ajuda em seu caso. "Infelizmente tive que ir atrás de outro advogado, que é conhecido e que está correndo, e a mídia vai me ajudar, proque chama a atenção deles, para que eles tomem uma posição para fazer alguma coisa, porque eles simplesmente viram as costas para a gente. Por que é que eu falo que ajuda? Depois daquela postagem - isso aconteceu em abril, então dá basicamente sete ou oito meses, não sei se estou certa na minha conta - me ligaram da Sesau, marcaram urologista para mim", explica.
O atendimento via telefone também é algo do qual Inara se queixa. "Tem quanto tempo que eu estou esperando urologista e só agora que marcaram? O rapaz que ligou para mim ligou com grosseria, me tratou super mal, ele falou 'presta atenção e anota direito!'. Ele me ligou já eram 10h da noite. A sorte é que minha mãe foi na ouvidoria e trocaram meu médico".
Inara lamenta sobre o tratamento recebido por uma das equipes médicas. "Mas o tratamento da equipe da neuro, depois que aconteceu isso, é de total descaso, com grosseria, com maus-tratos, e isso para mim - acho que qualquer pessoa - é muito difícil. Então eu acho que a mídia vai me ajudar, sim, a adiantar meu tratamento, porque nisso aí eles detonam a vida da pessoa, eu entrei andando no hospital e saí de cadeira de rodas, isso é um absurdo! Fora que eu vou ter que viver o resto da vida assim? Eu tenho 36 anos só, eles detonaram minha vida!"
Inara tinha uma vida perfeitamente normal e ativa antes do incidente (Foto: Arquivo pessoal)
Agilidade
As fisioterapeutas que a avaliaram disseram que ela precisa fazer fisio diariamente, o mais rápido possível, a fim de melhorar as chances de minimizar os danos e, além disso, há uma série de outras coisas que ela precisa para ter um tratamento adequado, mas não tem conseguido.
"Eu preciso de órtese porque meus pés agora pisam torto, eu preciso de uma cadeira especial, e eu não tenho condições, a doutora já fez o pedido e até agora, nada. Tudo isso eu tenho direito, o SUS tem que me dar, mas eles me negam. eu só quero um tratamento digno, uma cadeira de rodas decente e o apoio da fisioterapia. Agora eu sei que existe outro tipo de tratamento médico, algo mais avançado ao qual eu tenho direito, e eles me negaram."
Algo do qual Inara lamenta profundamente, é que toda essa situação transformou sua realidade e mudou sua história de forma irreversível: ela terá de usar sonda para o resto da vida. "A sonda de alívio ajuda para quem não é cadeirante, não é meu caso. Ou fico com essa de demorar, ou eu opero e coloco diretamente no rim. Tenho opções, mas nunca sem sonda. Parou a minha vida totalmente, eu que trabalhava para bancar minha casa e meus filhos não consigo mais", finaliza Inara.
O Hospital
Em contato com o Hospital Regional Rosa Pedrossian, a reportagem do TopMídiaNews obteve, da assessoria, a informação de que o HRMS não repassa informações de pacientes à imprensa, a fim de se preservar o sigilo médico/paciente.
"Quanto a conduta e o diagnóstico, trata-se de Ato Médico, e o HRMS respeita o Ato Médico, sendo ele, o médico, o responsável em atribuir a melhor conduta para cada caso individualmente. Toda conduta médica é previamente discutida com os pacientes."
A resposta da assessoria ainda afirma: "Reiteramos que todos os casos nos campos, administrativo e assistencial são pautados nos ditames éticos e legais vigentes para tomar as devidas providências. Como a paciente entrou com processo jurídico, nos colocamos a disposição das autoridades competentes para dirimir dúvidas do caso relatado. Quaisquer informações adicionais, a paciente deve procurar a ouvidoria do Hospital Regional para que possamos respondê-la de forma oficial."