Criados com amor e carinho, como se fossem bicinhos de estimação, um casal de garnizés estão prestes a deixar o lar onde viveram por quase três anos, após notificação da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), à família, na Vila Popular, em Campo Grande.
Desesperada pelo medo de perder os companheiros, a técnica em agropecuária, Kelly Cristina Benites, de 36 anos, os recebeu na pior fase da vida e teve neles a cura contra a depressão.
O galo Ilho e a galinha Carmen chegaram à vida de Kelly em um dos momentos mais difíceis, quando ela lutava contra a depressão. Foram eles que deram animo e encheram a vida dela de amor, auxiliando na recuperação emocional.
“Eles me salvaram. Eu estava em um momento muito escuro da minha vida e criei os dois com todo amor, como pets mesmo. Eles atendem pelo nome, vêm no colo, fazem parte da nossa família. É impossível imaginar a casa sem eles”, desabafa Kelly.
A notificação recebida pela família estabelece o prazo até o dia 22 de junho para a retirada dos animais. Caso contrário, Kelly poderá ser multada.
O aviso abalou o emocional da técnica, dos três filhos, o pai e a avó, que moram com ela.
“Quando eles vieram aqui e disseram que eu teria que doar, eu chorei muito, minha filha de 8 anos chorou, minha avó também. A gente tem medo de entregar para alguém que vá comer eles ou deixar em algum lugar onde fiquem doentes. Eles são muito bem cuidados, são parte de nós”, relata, emocionada.
Kelly também questiona a seletividade das denúncias, já que há terrenos abandonados e sujos ao lado de sua residência que não recebem o mesmo tipo de fiscalização e outras casas na mesma região que criam galinhas na área urbana.
“Não é justo tirar eles de nós, sendo que são tão bem tratados, tiveram uma utilidade imensa na minha vida, não sei como vai ser quando eles precisarem realmente partir”, diz.
Veja a nota da Sesau:
A Secretaria Municipal de Saúde (SESAU) reforça que o cumprimento das leis é responsabilidade do serviço público e tem como finalidade regular comportamentos, proteger direitos e garantir que todos os indivíduos sejam tratados de forma justa e equitativa. O Código Sanitário do Município, instituído pela Lei n.º 148, de dezembro de 2009, estabelece a proibição da criação de galináceos no perímetro urbano. À época de sua criação — e ainda hoje — a norma visa a prevenção da leishmaniose visceral, uma vez que o mosquito transmissor da doença (flebótomo) tem predileção por áreas de criação desses animais, o que contribui para o aumento de casos registrados. A flexibilização deliberada dessa legislação configura prevaricação e fere os princípios da ética e da legalidade no serviço público, comprometendo a confiança da população nas instituições. Diante de casos específicos e excepcionais, orienta-se buscar apoio jurídico para a tutela dos galináceos como animais de companhia, com a devida responsabilidade do tutor, garantindo vacinação, vermifugação e controle de acesso a outros animais — medida especialmente relevante no atual cenário de alerta para a gripe aviária. A SESAU reitera seu compromisso com a saúde pública e com o cumprimento das normas sanitárias em vigor.
* Matéria editada às 9h07 de 10/6/25 para acréscimo da posição da Sesau