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Campo Grande

15/10/2018 19:00

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Memória viva: professora de História conta criação de MS com biografia dos pais

No dia dos professores, peça teatral relembra importância do ensino de História nas escolas

Elisandra Padilha Rodrigues, professora de História da escola estadual Dona Consuelo Muller, em Campo Grande, achou um envolvente caminho para contar a história da divisão de Mato Grosso, cisão que originou a criação de Mato Grosso do Sul, em 11 de outubro de 1977.

Ela escreveu, no ano passado, uma peça teatral em que narra a separação dos dois estados inspirada na infância e no que aprendeu em casa, longe dos livros e das escolas.

Para produzir a obra, Elisandra recorreu a resenhas históricas, mas realçou a divisão essencialmente na perspectiva das famílias humildes.

Então, ela sustentou a peça historiando a vida dos pais, que vivenciaram a criação de MS.

Nelson Rodrigues, investigador da Polícia Civil aposentado, hoje com 80 anos de idade, e Zeni Padilha Rodrigues, 72, viraram os personagens principais da encenação, interpretados pelos alunos de Elisandra.

Até o calendário alcançar o dia 11 de outubro de 1977, a peça da professora conta o histórico do golpe de 1964, disse que o pai foi o primeiro vigilante das Lojas Americanas, o primeiro “shopping” de Campo Grande, e o que a imprensa noticiava sobre a divisão. “Vi no teatro uma forma lúdica de contar a criação de MS”, disse a professora.

A obra “O Grande Couro da Onça” – couro da onça, termo usado pela professora de História Alisolete Weingartner, que tem livros produzidos sobre o assunto em questão – começa com o diálogo de Zé (o policial aposentado Nelson) e João (Cícero Padilha, irmão de Zeni, que se chama Maria na encenação).

Os três estavam num baile. Na peça, para retratar partes do processo de divisão Elisandra invoca o canto de astros musicais como  The Animal, Chico Buarque, Renato Russo, Cazuza e Zé Ramalho.

Quanto à mudança de regime, em 1964, Maria e João ouvem no rádio as razões pelas quais caiu à época João Goulart, presidente do Brasil.

CAFÉ DA MANHÃ

O assunto é comentado logo no café da manhã, a partir de uma fala de Demóstenes Martins numa emissora de rádio, então prefeito de Campo Grande.

Em dado trecho da obra, Zé e Maria ouvem, logo cedo pelo rádio, como informa na peça: “ontem, o Brasil dormiu com medo dos invasores de terra, dos sequestradores, da guerrilha. E acordou com a paz do céu, que só o regime militar pode dar ao país, com o comando do general Castelo Branco [então presidente do regime militar]”.

Maria torce o nariz assim que termina o comentário no rádio. Ou seja, já desconfia do que vinha pela frente.

Daí em diante, na peça “O Grande Couro da Onça”, a professora fala da infância, do pai, mãe e dois irmãos – Lucinéia, hoje também policial civil e Adriano, administrador rural e ela, a professora. Sempre confrontando o instante político e a difícil vida financeira da família.

Noutro trecho, Zé comenta com Maria que a gerente das Lojas Americanas disse a ele que o “consumismo” era o que ia “dar um jeito” na economia brasileira.

A professora recorda um dia em que Maria corre até a vizinha que tinha telefone para falar com o marido. Na ligação, ela diz que a filha pequena, a policial, está com febre por querer um chocolate que viu, mas não tinha dinheiro para comprar.

Maria orienta o marido a pegar o chocolate como “vale” antes do pagamento e o casal inicia uma discussão pelo assunto.

A LEITOA

Quando o tema da divisão esquenta, lá por maio de 1977, o casal trava um bem-humorado diálogo, embora abordando assunto sério para a população da época.

Maria e João começam a pensar como seria a separação. E se dividissem o território bem no meio do imóvel deles, como fariam com o chiqueiro em que criavam uma “leitoa para o Natal?”.

Ou se o banheiro construído “fora da casa” ficasse no meio da demarcação dos dois estados?

A professora conta ainda a importância da divisão no olhar de políticos daqui. Viam a separação como um ganho econômico e político para Mato Grosso do Sul.

E chega o dia. Pelo rádio, o casal fica sabendo que por lei Mato Grosso já não é um estado só. A peça termina com o hino do novo MS.

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