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Sentir a dor do outro: conselheiros tutelares vivem junto o drama de crianças violadas

Servidores relatam situações de abandono, que afetam também a saúde de quem faz o atendimento a essas crianças

28 setembro 2019 - 07h00Por Nathalia Pelzl

Situações de vulnerabilidade social, violência e abusos são comuns na rotina de quem atua como conselheiro tutelar. A professora Janaine Pereira de Oliveira, 34 anos, sabe bem o que é isso.

Atuando há sete anos no ramo, ela conta que o impacto é grande e que, muitas vezes, é preciso buscar ajuda de psicólogos e psiquiatras para dar conta da carga emocional que o serviço exige.

“Diversas situações que já me comoveram, uma primeira situação foi logo no dia que assumi, já tive que fazer um acolhimento, cheguei à residência e o mato cobria as crianças. Estava um frio muito intenso e a mãe estava dando banho nas crianças, banho gelado fora da casa. A situação da casa era totalmente insalubre e precária, foi o primeiro impacto". 

(Foto: André de Abreu)

"Outras situações, como por exemplo, ter que pegar um bebê que estava sendo amamentado por uma mãe usuária, que estava com risco de vida. E nós tínhamos que a aplicar a medida de proteção de forma imediata, a mãe não queria entregar e o Corpo de Bombeiros já estava esperando para internar o bebê. Foram cenas chocantes, no primeiro momento você toma um choque muito grande”, relata.

Atualmente, ela conta que faz acompanhamento com psicólogos e psiquiatras. “Infelizmente não temos esse retorno, a gente fica a mercê porque, querendo ou não, a gente fica na ponta das violações de direito. Às vezes temos que comunicar abuso sexual aos pais que um próprio familiar está cometendo. É um impacto grande pra família e você está sendo o comunicante, é impactante”, pontua.

(Foto: André de Abreu)

O diretor do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes), órgão responsável pelos conselhos tutelares de Campo Grande, Celso José dos Santos, fala que, para auxiliar a diminuir o impacto emocional, os conselheiros titulares podem contar com o apoio dos suplentes.

“Quando o processo seletivo para conselheiro é aberto, sempre deixamos um suplente. Nós também estamos agora com processo seletivo para conselheiros, cinco vagas para titulares e 10 suplentes para cada conselho. Nós (CMDCA) fazemos o acompanhamento nos conselhos, para cuidar da parte de legislação deles, se estão precisando de algo”, analisa.

(Foto: André de Abreu)

Violência velada na ‘elite’

O Conselho Tutelar só pode atuar após denúncia, sendo assim, os casos mais frequentes acabam sendo registrados na classe baixa, no entanto, Janaine faz uma observação de violência velada.

“Existe na classe alta, muitas vezes são [violências] veladas, principalmente questões de violência e abusos sexuais. [As pessoas não denunciam] para não expor a imagem da família, sobrenome, tem todas essas questões culturais”, pontua.

Além disto, ela analisa as condições de vida das crianças que vivem nos pontos mais pobres da cidade.

“A maioria das vezes acontece na periferia? Acontece, até mesmo por causa da violência institucional, por falta de recursos como escolas, lazer... Os direitos previstos na Constituição são rompidos pelo próprio poder público quando elas não têm acesso ao lazer, educação de qualidade...”, finaliza.

(Foto: André de Abreu)

Denúncias

As denúncias podem ser feitas através dos seguintes canais:

Disque Denúncia Nacional – 100

Ministério Público – 127

Conselho Tutelar Centro – (67) 3314-4337

Conselho Tutelar Norte –  (67) 3314-6366

Conselho Tutelar Sul –  (67)3314-6367