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Campo Grande

há 8 anos

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Fechamento do lixão deixa famílias sem comida e já atinge comércios

O fechamento do lixão, que é o 'ganha pão' da maioria dos ex-moradores da Cidade de Deus, já está causando impacto na vida das pessoas que moram nas proximidades da antiga favela, que era a maior de Campo Grande, localizada na região sul. Sem dinheiro para garantir itens básicos, os catadores estão sem comida e os comerciantes locais reclamam da queda nas vendas, em declínio no último mês.

Adilson Tavares, 49, depende totalmente do lixão. Com problemas de saúde, ele não está conseguindo dinheiro para comprar os medicamentos que necessita para sobreviver.

"Quando não consigo o remédio no posto, fico sem tomar. Está muito difícil nossa situação. Sem um emprego, não temos de onde tirar dinheiro", lamentou.

José Antônio, 58, mora com Adilson no mesmo barraco. Ambos possuem problemas de saúde e a única renda dos dois depende do lixão, problema este que está fazendo com que o catador perca noites de sono.

"Somos amigos, eu cuido dele e ele cuida de mim. Somos doentes e, com uma idade avançada, dependemos do lixão. Sou diabético e hipertenso, mas conseguia tirar mais ou menos R$ 100 reais por dia trabalhando com reciclagem. Agora estamos passando até fome por aqui", disse José.

O catador Miguel Araújo, 41, relata que a população está sofrendo com a briga entre a Solurb e a prefeitura. A população está vivendo de doações, mas muitas famílias ainda têm crianças pequenas que precisam de leite.

(Miguel lamenta não conseguir adquirir seu próprio alimento. Foto: Anna Gomes)

"A prefeitura deu uma cesta básica com um pacote de arroz, um pouco de feijão, óleo e um pacote de charque, mas em cada barraco mora bastante gente e o sacolão não deu para quase nada. Queremos trabalhar, queremos ir à luta pelo nosso sustento novamente", desabafou.

Mariano Mendonça, 58, trabalhou como catador por 18 anos. Cansado de passar necessidade nesses últimos dias, resolveu ir atrás de outro emprego, já que o lixão está fechado.

"Não estamos conseguindo dinheiro para comer, com muito esforço, consegui duas passagens de ônibus para eu ir até a Funsat (Fundação Social do Trabalho de Campo Grande) tentar arrumar um emprego. Cheguei lá e não tinha, gastei o que não podia à toa. Colocaram água, luz em nossos barracos, mas não temos emprego, como vamos pagar as contas quando chegarem?", ressaltou.

Osvaldo Savulha trabalha no lixão há 17 anos. Recém-separado da mulher, ele está morando de favor na casa de um amigo. Sem dinheiro para comprar alimentos, ele diz estar no fundo do poço.

 

 (Osvaldo diz que seua vida está no fundo do poço. Foto: Anna Gomes)

"Sempre trabalhei certinho, não gosto de dever as pessoas e agora estou com muita gente me cobrando. Me sinto muito mal, não sei se a vida pode ficar pior", diz o homem.

Eliane Souza Lopes, 35, Deise Campos, 21, e Claudia de Souza, 42, dependem da reciclagem para sobreviver e, em tempos difíceis como está acontecendo, uma vizinha tenta dar força para outra.

"Algumas pessoas fazem doações e é o que está nos salvando. Eles estão enterrando muito dinheiro que dava para sustentar todas as famílias", adiantou.

 

 (Catadoras tentam dar forças umas às outras. Foto: Anna Gomes)

 

O fechamento do lixão não está atingindo apenas os catadores. Sem dinheiro para fazer as compras, os comerciantes também estão sentindo na pele a queda nas vendas. O casal Valdenete e Francisco possui um mercado na região da favela há cerca de cinco anos e nunca sentiu tanto a falta de clientes no estabelecimento.

"Algumas pessoas têm uma falsa visão em relação ao pessoal que mora na favela. Tenho esse comércio e nunca me roubaram, são pessoas que trabalham e querem buscar seu sustendo como qualquer outro cidadão. Os catadores trabalhavam o dia todo, recebiam o dinheiro e, no final da tarde, estavam no mercado comprando alimentos para suas famílias, mas agora está tudo diferente, o mercado fica vazio", disse a comerciante.

 (Comerciante lamenta as quedas nas vendas. Foto: Anna Gomes)

Agnaldo Pereira, 48, tem uma lanchonete na região há pelo menos três anos e no seu estabelecimento também não está tendo clientes suficientes. Inclusive, Pereira já pensa até em fechar o comércio.

''Trabalho com comida, vendo espetinhos e salgados, alimentos que, nas condições que as famílias se encontram, são supérfluos perto do tradicional arroz e feijão. Não sei até quando vou continuar a manter isso daqui aberto", destacou.

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