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Inferno

01/02/2019 07:00

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Acordar com chutes? Ovadas? Moradores de rua relatam humilhações do dia a dia na Capital

'Rapazes que querem se divertir jogam ovos na gente, extintor de incêndio, chutam a gente nas calçadas', relata um dos moradores

Moradores de rua atendidos pela Casa de Apoio São Francisco relatam o que vivem diariamente nas ruas de Campo Grande e clamam apenas por respeito. Com medo de se identificar, os andarilhos conversaram com o TopMídiaNews e descrevem como é a vida daquele que não tem um lar para se abrigar, utilizando álcool e drogas como refúgio.

Um dos moradores destaca que aqueles que caminham sem rumo pelas avenidas são excluídos da sociedade e acabam se alimento do lixo descartado pela sociedade. “Sofrimento na rua é bem diferente de uma vida normal na sociedade. Do meu ponto de vista, para quem mora na rua, somos os excluídos da sociedade, é um mundo paralelo. Eu sofri muito, morei debaixo de todas as pontes de Campo Grande, comi do lixo várias vezes. O que a rua tem a oferecer são oportunidades ruins como álcool, droga”, diz o morador anônimo.

Ele afirma que o álcool e a droga aliviam o sofrimento daqueles que são abandonados pela família. “Não tem oportunidade de emprego, a pessoa não tem família porque é abandonada. Claro, ela errou, mas todo ser humano merece uma segunda chance. Quando eu estava na rua, eu não pensava em nada além da droga e álcool, porque era o que amenizava meu sofrimento. Isso me atormentava muito. As culpas que eu carregava também".

"Hoje eu consegui ser ressocializado, consegui mudar a minha vida, quem está de fora sempre vê mais. Mas quem está na rua sabe o sofrimento, quem nunca morou na rua nunca vai saber como é, sofrimento é constante. A pessoa anda suja, é excluída, são pessoas que não tem favorecimento nenhum. A minha história de vida foi muito sofrida. Para quem mora na rua, a história começa dentro de casa com algo ruim, ninguém vai para rua por acaso. Hoje em dia, eu dou graças a Deus que consegui ressocializar”, completa.

Um interno de 32 anos da Casa São Francisco relembra que começou a ser morador de rua aos 14 anos, após a mãe se casar. “Eu tinha um padrasto que vivia com minha mãe. Ele falou um dia que casou com minha mãe e não comigo. Eu peguei mochila e fui para a rua. Aprendi a usar crack, maconha, fazer tudo que não presta. Roubar, porque ninguém me dava uma chance".

"Até hoje vivo na rua, ninguém me dá apoio. Aqui na Casa eu consegui apoio, mas na rua ninguém dá chance. A polícia bate na gente, leva dinheiro que temos, ninguém vê a realidade por que cada um deita no seu lençol, na sua coberta, quando passa por nós ainda fecham o vidro do carro. Existem coisas piores, isso é só um resumo”, relata o homem.

Outro andarilho conta que já foi agredido enquanto dormia na rua. “Passo discriminação, às vezes, dormindo, jogam água, ovo, garrafa... Polícia chega e bate. Não roubamos, estamos dormindo, muitos moram na rua e não roubam, outros sim, mas tem alguns que não. Tem que procurar lugar longe da rua, passa rapaz para se divertir e joga água, já jogaram extintor de incêndio”.

Alguns já perderam a esperança de dias melhores. “Morador de rua cansado de ser humilhado, jogado para as traças, apanho na rua, polícia me bate, às vezes sem fazer nada. Eu respeito as pessoas, peço sim e não roubo, estou em situação crítica. Quero ver que autoridade competente dá essa força para a gente não apanhar”.

Apoio maior

Segundo a presidente da Casa de Apoio São Francisco, Maria Luíza Serrou, 75 anos, o lar atende 40 internos que sonham em ter uma vida melhor e oferece apoio para outros 40 andarilhos. Ela pede que a população que não pode ajudar, tenha respeito por aqueles que moram na rua.

“Eu peço que as pessoas tenham respeito, precisamos respeitar o próximo seja ele quem for. É um absurdo os relatos que ouvimos, as pessoas jogam ovos, extintor de incêndio, batem neles. Precisamos ter respeito e pensar no próximo, cada um tem uma história, cada um mostra um motivo por estar ali. Se todo mundo respeitar, talvez eles não se revoltem tanto”, diz a presidente.

A Casa São Francisco oferece acolhimento para aqueles que pedem ajuda para ressocialização e oferece também, almoço para moradores que desejam continuar nas ruas. “Abrimos os portões ás 10 horas, oferecemos um espaço para eles lavarem roupa, tomar banho. Depois, às 12 horas, fechamos os portões e serviços o almoço para eles”.

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