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quinta, 28 de março de 2024 Campo Grande/MS
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Campo Grande

Vídeo: investigadores humilham escrivães em curso para policiais

Cântico diz que um ''policial amedronta até o capeta'', mas que o escrivão ''só tem carimbo e uma caneta''

09 março 2021 - 07h00Por Thiago de Souza

Vídeo que circula nas redes sociais mostra investigadores em formação na Academia da Polícia Civil de MS humilhando escrivães, parte da mesma corporação, em Campo Grande. Os alunos entoam cânticos que dizem que eles ‘’não são policiais’’ e que sua função seria a de menor importância dentro da força de segurança. 

Cerca de 60 profissionais aparecem enfileirados, repetindo ordens do que seria, aparentemente, o instrutor do curso de formação. As cenas são parecidas com a do filme Tropa de Elite 1, onde os alunos passam por sessões de humilhação para, em tese, se tornem resistentes às dificuldades. 

‘’Escrivão não é polícia... ele só sabe digitar’’, dizia o instrutor, sendo repetido pelos formandos. Em outros trechos, os gritos de guerra comparam a função de escrivão com as de investigador e agentes de polícia, sempre destacando que eles são menos importantes. Outro ponto da gravação diz que um agente da polícia ''amedronta até o capeta'', mas que os escrivães só tem ''o carimbo e a caneta''. 

O vídeo gerou críticas e acabou nas mãos do presidente da Associação dos Escrivães da Polícia Judiciária de MS, Paulo dos Santos, 60 anos. 

‘’Recebi o vídeo neste domingo. Na minha carreira, nunca vi nada igual. Uma falta de respeito extrema. Iniciativa reprovável’’, lamentou Santos. 

O dirigente acredita que a ideia dos gritos de guerra vexatórios e ofensivos tenha partido de uma pessoa e que esta repassou a outra, que por fim pôs em prática a falta de respeito com os colegas. 

''O trabalho do escrivão é um trabalho essencial, primordial. É por meio dele que se materializa todo o ocorrido no crime… se coloca no papel o fato e o direito daquilo que tem que ser feito... Em termos de função, é essencial, primordial para apuração do crime e para a essência da justiça...'', reflete Paulo. 

Punição

Paulo dos Santos revelou que, ainda no domingo, recebeu um áudio do diretor da Academia de Polícia Civil de MS, onde o diretor prometeu tomar providências sobre o caso. Santos acrescenta que, nesta segunda-feira (8), as primeiras medidas para apurar o caso já foram tomadas. 

‘’Já abriram procedimento administrativo junto à corregedoria da Polícia Civil para apurar os fatos. Estão sendo analisadas as pessoas envolvidas... no sentido de responsabilizá-los pelo atos".

Não conseguimos contato com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de MS, GianCarlo Miranda. No entanto, o TopMídiaNews teve acesso a um áudio atribuído ao vice-presidente do Sinpol, Pablo Rodrigo Pael. 

Pael, em resposta a Paulo Santos, disse que não compactua com o que chamou de ‘’brincadeira e mau gosto’’ e que esse tipo de situação só traz desunião à base da Polícia Civil. Ele acrescentou que o sindicato já recebeu reclamações e vai cobrar as autoridades competentes para tomar providências. 

Samba

Um áudio, que seria de um dos instrutores do curso, também circula pelo WhatsApp. Nele, um homem toca cavaquinho e, em forma de música, pede aos escrivães que não fiquem chateados com a brincadeira. 

‘’Foi só uma resenha, não leve a mal a tiragem... foi só brincadeira, não foi feita na maldade... lá laiá...laía’’. 

Entramos em contato com a assessoria da PCMS, para confirmar, se, de fato, houve instauração de um procedimento administrativo. No entano, não tivemos resposta até o momento.