Esta sexta-feira (19) o dia foi de muito trabalho para as centenas de famílias do bairro Vila Popular, que sofreram com a enchente ocasionada pela forte tempestade que se caiu durante a tarde de ontem (18), em Campo Grande. Algumas famílias não vão ter o que comemorar no Natal, já que a água levou quase 100% dos seus pertences.
Após serem surpreendidos com a água que entrou sem pedir licença nos imóveis que ficam na Rua Radiomaia, às margens do Córrego Imbirussu, Nelsi Barbosa, 64 anos, teve apenas tempo de pegar alguns pertences e os animais de estimação, ficando abrigada em uma escada rente ao telhado da residência. "Minha amiga ligou, e me perguntou se a água não havia entrado em casa, eu estava costurando uma barra de calça, quando olhei para a porta vi a água entrando", conta.
Segundo o marido da costureira, Vicente Barbosa, 59, que trabalha como motorista em uma empresa, no momento do alagamento ele estava trabalhando, quando ligou em casa e foi avisado do que estava acontecendo. "Sempre ligo para avisar a esposa da minha rota, ontem não foi diferente, somente pelo fato da chuva forte que acabou destruindo tudo", lamenta.
Para os moradores, esse não é um problema novo, mas que se arrasta há algum tempo. "A água vem de 20 quilômetros até chegar aqui e fazer o estrago. Sem falar que no frigorífico existe uma represa, o que acaba dificultando o escoamento da água, aqui o povo que se lasque", desabafa Vicente.
A indignação é tamanha já que muitos perderam 100% das suas coisas, tanto que Vicente convocou as autoridades para comparecerem no local e tentar solucionar o problema. "A vontade que dá quando colocamos a mão na cabeça após vermos que perdemos tudo, é pegar nossos chefes de estado e arrastar eles na rua, porque eles fizeram aqui um serviço sem patrão", diz, indignado.
Com isso a alegria do Natal de muitos na região foi literalmente por água a baixo, como no caso do encarregado do frigorífico, Geraldo Pereira dos Santos, 47, que perdeu todas as carnes que havia comprado para a ceia. "Agora é pedir a Deus, porque só ele saberá o que fazer. Sobrou pouco do que eu havia na minha casa, nem a geladeira vai salvar", desabafa.
No local onde Geraldo mora, uma "mini vila", existem outras oito famílias que também perderam tudo, e hoje apenas restou lama e água para tirar dos pertences. Sidinei Rodrigues, que trabalha como agente de bagagem no aeroporto, falou que a água chegou na metade do muro, e que só o seu veículo dá para recuperar, e mesmo assim ficou todo encharcado.
Ajuda - Com o caos na noite de ontem (18), o Corpo de Bombeiros foi acionado, assom como a prefeitura, através da SAS (Secretaria de Assistência Social), e distribuíram kits com colchões para as famílias. Uma força tarefa foi montada para dar comida para as pessoas na Escola Municipal Frederico Soares. De acordo com a diretora Regina Célia de Almeida, não houve a necessidade das pessoas dormirem na escola, até porque a preocupação deles era conseguir recuperar alguma coisa. "Eles vieram fizemos uma comida e servimos. Essa não foi uma das piores chuvas que tivemos, mas infelizmente eles perderam algumas coisas. A prefeitura auxiliou dando comida e colchões", contou.
Em 2006 uma outra forte chuva pegou os moradores da região, conforme informou a diretora. Na ocasião, milhares de famílias tiveram que passar três dias na escola, porque havia perdido tudo e não tinham como retornar para suas casa. "Ontem não precisou, foi bem rápido o atendimento a essa famílias, mas sempre que podemos estamos atendendo a comunidade", afirma.
Levantamento - Pela manhã Secretaria de Assistência Social foi até o local para conferir os estragos e contabilizar quantas famílias vão precisar de assistência. A responsável pela pasta, Janete Lins, e o coordenador de Assuntos Comunitários, Elvis Rangel, juntamente com uma equipe de assistentes sociais, realizando levantamento da situação e tomar as medidas emergenciais cabíveis. "O prefeito Gilmar Olarte (PP) já esta com os técnicos verificando o que pode ser feito. O secretário de Obras já passou por aqui para ver onde está o problema, então até o meio da tarde vamos realizar uma coletiva para falar quais os procedimentos que serão tomados", disse Rangel.
Agora é esperar que uma solução seja tomada, tendo em vista que todos os secretários necessários para atender as demandas da região estiveram no local. Quando questionado pela reportagem sobre um possível ressarcimento a essas famílias, Elvis não se comprometeu e disse que o prefeito vai saber o que fazer na hora certa . "Vamos amenizar o estrago causado pela chuva".