Os vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande estiveram, na manhã desta quarta-feira (23), na Escola Agrícola Arnaldo Figueiredo, fazendo uma blitz para averiguar as denúncias feitas por pais de alunos. Na última terça-feira (22), eles relataram o abandono e descaso com a instituição na atual administração municipal.
No local, o presidente da Casa de Leis, João Rocha, do PSDB, tomou conhecimento sobre o caso envolvendo desde a venda de animais, falta de profissionais técnicos e até a roçada feita no local de forma emergencial pela prefeitura, em função da presença dos parlamentares e da imprensa que estariam hoje visitando a escola.
De início, o presidente foi até à bovinocultura para conhecer a estrutura em que ficam, além dos bois, cavalos. Lá, a diretora da escola relatou ao presidente João Rocha, que os alunos realizam a prática, prevista na grade curricular, diariamente. No entanto pais e alunos denunciaram que esta seria a primeira vez que alguns estudantes iam ao local, incluindo a própria diretora da unidade.
Em conversa com o presidente, a diretora explicou que o médico veterinário da escola foi um dos demitidos do quadro da Seleta. "Nós estamos há dois meses sem um veterinário, mas o senhor saber que não há necessidade de um médico quando há 67 cabeças de gado e 40 de suínos", relatou. Ela ainda contou que outro veterinário atende de forma voluntária no local, pelo menos uma vez na semana, sendo suficiente para o atendimento aos animais.
Alunos durante 'aula prática' no setor da bovinocultura.
Os pais denunciaram que cabeças de gado, aves e porcos foram vendidos a pedido da prefeitura, mas que, no entanto, o dinheiro não teria sido revertido para melhorias da escola. A venda de animais foi um dos pontos questionados por Francisco Duarte de Almeida, membro da Comissão de Pais e Alunos da Escola, durante o uso da tribuna na terça, na Câmara.
“A prática agrícola praticamente se acabou na escola. É lamentável. Colocamos eles lá para acabar com o êxodo rural, mas a direção quer fazer da escola uma escola urbana. Não existe mais um peixe lá, nem um frango, não tem mais o canavial, nem o mandiocal que havia antes. O pomar está abandonado. Estão vendendo o gado, se desfazendo dos bens públicos. A situação da escola é extremamente grave, o patrimônio público está sendo dilapidado, a escola está deixando de cumprir o seu dever, de formar técnicos agrícolas”, lamentou.
Ainda durante a visita, a diretora afirmou que a escola enfrenta um problema com a falta de profissionais, pois só conta com dois técnicos agrícolas, sendo insuficiente para cuidar de toda escola. Os pais também denunciaram a falta de combustível para as máquinas, que estão paradas há meses na escola e sem uso. E, em outro ponto visitado, por exemplo, reservado a minhocultura, não havia minhocas.
A dona Ivonete Boldori, de 40 anos, mãe do aluno que estuda na escola há seis anos, relata que o local está abandonado. "As professoras relatam que falta recurso para a escola, mas venderam gado, porco, para onde foi o dinheiro? Se a situação da escola está tão precária, para onde foi esse dinheiro? A merenda é algo ruim, tem arroz, feijão e só. Às vezes uma mistura, chegou, inclusive, a ter uma carne muito ruim".
Segundo o presidente João Rocha, o reflexo da escola, é o que acontece na cidade. "São necessidades básicas que não são atendidas. Não há planejamento, as ações acontecem de forma esporádicas. Não é a maneira que a gente entende que se deva cuidar de uma escola", relata.
Após a inspeção, o presidente explicou que será feito um relatório sobre a situação da escola. "Nós estamos registrando, fotografando e escrevendo, logo depois, vamos tomar as providências que forem necessárias. Se for necessário encaminhar para o Executivo vamos fazer, ou para o Judiciário ou para o MPE".
Denúncia
O parlamentar ainda relatou que, além de uma equipe ter sido encaminhada de forma emergencial para fazer a roçada da escola, que não era feita há meses, os trabalhadores encaminhados pela prefeitura usaram os ônibus escolares.
"Logo que chegamos aqui, vimos os trabalhadores da Seintrha, chegando em ônibus escolares. Ou seja, dá pra ver o tamanho da desorganização e do afogadilho".
Equipes da Seinthra na limpeza da escola.
O vereador ainda comentou sobre a limpeza do local. "O matagal é a mesma técnica que já havíamos registrado, manda gente para arrumar, mas tudo de última hora", finaliza. Pais denunciaram que os alunos eram colocados para fazer a limpeza do local.
Prefeitura
Em nota, a assessoria de imprensa da prefeitura contestas as informações e relata questões políticas. "Não existe nada. A escola é bem cuidada, desenvolve excelentes projetos, estão em nosso site, os alunos têm toda a infraestrutura necessária ao bom aprendizado". E emenda: "Esse pai tem motivação política, é ligado ao diretor anterior e, com o apoio do prefeito ao Marquinhos Trad, ele está reforçando suas 'falsas' denúncias com medo de que não troque a diretora".
Sobre o transporte de funcionários da Seintrha em um ônibus escolar, a assessoria não quis comentar.