Mais de 100 famílias acabaram com os planos da Prefeitura de Campo Grande e criaram uma nova favela nos terrenos próximos ao Jardim Noroeste, região leste de Campo Grande. Em 2011, durante a gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho (PMDB), a Capital chegou a ser considerada a primeira do país sem favelas, mas encerra 2014 somando mais um ocupação irregular em suas estatísticas.
O plano da prefeitura era de que os terrenos, localizados atrás do residencial Serraville, fossem destinados para realocação das 450 famílias que atualmente vivem nos barracos da Cidade de Deus, considerada a maior favela da Capital. Porém, os moradores não aceitaram a mudança alegando que o terreno abrigaria apenas 120 famílias, além de os próprios moradores do Noroeste serem contra a mudança.
Apesar de muitas famílias levantarem o barraco desde está segunda-feira (01), a diarista Andrieli Umbelino, 26 anos, está no local desde a semana passada. "Tenho três filhos e estava dividindo uma casa de duas peças com a minha mãe para não precisar pagar aluguel, pois estou desempregada", explica.
Andrieli tem três filhos e não pode mais pagar o aluguel de R$ 300 depois que perdeu o emprego. (Foto: Deivid Correia)
A diarista afirma possui cadastro na Emha (Agência Municipal de Habitação), mas que ao perder o emprego em que recebia um salário mínimo, não pode mais arcar com o aluguel de R$ 300. Desde então, a alternativa foi a ocupação.
De acordo com o armador de ferragens, Denis Henrique de Souza, 24 anos, a ocupação foi definida após saberem que as famílias da Cidade de Deus não se mudariam para o local. "A intenção não é invadir, mas que a prefeitura nos viabilize a compra destes terrenos em boletos com parcelas de R$ 100", explica.
A preferência dos terrenos foram para famílias sem condições de pagar o aluguel. (Foto: Deivid Correia)
Conforme ele, inicialmente, a intenção era ocupar apenas um quadro, mas a inúmeras famílias necessitadas apareceram no local. "A maioria é casado, tem filho e não tem condições de manter o aluguel", afirma. Denis, assim como outras famílias do local, há três anos aguarda ser sorteado para receber moradia por meio da Emha.
Mais de 100 famílias já ocupam o terreno atrás do Jardim Noroeste. (Foto: Deivid Correia)
Era uma vez... a Capital quase sem favelas
Em 2011, a redução no número de favelas em Campo Grande foi motivo para propaganda da gestão do então prefeito, Nelson Trad Filho (PMDB). O índice divulgado na época era de que antes da gestão do PMDB, iniciada em 1997 com André Puccinelli, havia 178 favelas na Capital.
Mães solteiras estão entre as que mais recorrem a ocupações. (Foto: Deivid Correia)
O prefeito Nelsinho Trad disse que herdou de Puccinelli apenas 16 e, seguramente, em 2012 Campo Grande não teria nenhuma favela. Dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontavam que Mato Grosso do Sul tinha a segunda menor proporção de favelas do país, com 0,25% de domicílios, ficando atrás apenas de Goiás, que tem 0,13% de ocupação irregular.
O levantamento classificava 879 domicílios do Estado como irregulares, para o total de 763.696 residências. Eles estavam distribuídos em 8 aglomerados, sendo 5 em Corumbá e 3 em Campo Grande.