“Saudade é muita, chega dói”, diz a dona de casa Marisilva Moreira, de 47 anos, mãe do menino Wesner Moreira da Silva, violentado em um lava-jato em Campo Grande. Após dois anos e seis meses da morte do filho, ela conta que a rotina da família não é mais a mesma.
“Tem coisa que não cozinho mais porque ele gostava, já tentei fazer e, chega na hora de comer, não desce. Ele gostava muito de mala assada, mexido, batata recheada, não tem como fazer e não lembrar dele e chorar, aí os meninos lembram o Wesner gostava de tal coisa, só consigo sentir dor e saudade”.
A mãe lembra que, quando o filho estava no hospital, ficou sete dias sem comer e beber água, devido aos aparelhos.
“Ficou 7 dias internado, sem comer e sem beber água, o médico perguntou o que ele ia fazer e ele disse que ia 'beber um oceano de água e comer uma panela de comida'. Eu ainda brinquei com ele, de que se ele bebesse tudo isso de água, não sobraria para a gente”, lembra com carinho.
(Foto: Wesley Ortiz)
Marisilva comenta que o filho já não estava mais contente no serviço, já tinha mudado o comportamento e estava mais distante.
“Ele fazia as contas para saber quanto tempo ainda teria que trabalhar, fazia as contas para tudo, até para saber quanto faltava para passar de ano. Ele não estava mais feliz lá, estava introspectivo”, comenta.
Ela reforça que brincadeiras ‘estúpidas’ faziam parte da rotina dos envolvidos, Thiago Giovanni Demarco Sena e William Henrique Larrea, 23 e 33 anos. Sendo que Wesner teria comido, na mesma semana, algo oferecido pelos assassinos e começou a passar mal.
“Era uma bala que estava doendo o estômago, foi na segunda isso, eu falei para o Willian: 'por que você fez isso com o Wesner?', falou que era bala e agora ele está lá com dor de estômago, aí ele: 'ah, tia, não foi nada não'”, lembra.
A dona de casa comenta que ainda falou para Willian não mexer com os filhos dela, pois eles eram seus tesouros. Ela reforça que, após quatro dias, o filho foi violentado.
“Sabia o que estavam fazendo, foi inveja, raiva, raiva de mim, porque na segunda aprontaram com meu filho e eu chamei a atenção deles”.
A maior alegria dela foi a decisão de que os assassinos serão levados a júri popular. Os desembargadores da 2ª Turma Criminal decidiram que há provas e indícios suficientes de autoria para os acusados serem levados a júri.
A data e as qualificadoras do crime devem ser definidas pelo juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Carlos Alberto Garcete. Não há prazo para essa nova determinação.
(Foto: Wesley Ortiz)
O crime
No dia 3 de fevereiro de 2017, Thiago Giovanni Demarco Sena e Willian Henrique Larrea seguraram Wesner e enfiaram a mangueira de um compressor no ânus da vítima.
O fato causou ferimentos graves no adolescente, que chegou a ficar uma semana internado em um hospital, mas não resistiu às complicações do ferimento e morreu.
A Justiça determinou que os acusados Willian Henrique Larrea e Thiago Giovani Demarco terão que pagar um valor mensal à família de Wesner no valor de R$ 636.