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Cidades

Na esperança de conquistar o sonho da casa própria, 80 famílias ocupam área da Capital

Todas as famílias já possuem inscrição na Emha há mais de dez anos, mas ainda não foram contempladas com as casas

14 setembro 2016 - 17h05Por Anna Gomes

Com a esperança de conquistar a tão sonhada casa própria, cerca de 80 famílias ocupam três áreas públicas entre as Ruas Manduba e Panonia, no Jardim Montevidéu, região norte de Campo Grande. A ocupação já dura três dias e é coordenada pelo 'Movimento Lutas Campos e Cidade'.

De acordo com o coordenador do movimento, Rodrigo Karrapixo, de 34 anos, a população considera a ocupação uma forma de protesto já que todos que estão com os barracos montados na área pública possuem cadastros na Emha (Agência municipal de habitação de Campo Grande) há pelo menos mais de uma década, mas até hoje ainda não receberam uma casa.

"Não queremos brigar, nada disso, apenas queremos o nosso direito de moradia e transparência nos fornecimentos das casas da Emha. Todos aqui já possuem cadastro, mas até hoje nada receberam, são famílias que sofrem para pagar aluguel, ou que moram de favor da casa dos outros por não conseguirem uma residência própria", disparou Karrapixo.

(Coordenador do movimento, Rodrigo Karrapixo. Foto: Geovanni Gomes)

 

Adriana Myslaine, 34 e Dejair Gomes de 27 anos, estão morando em um barraco juntamente com mais duas filhas que ainda são crianças. O casal possui inscrição para receber a casa própria há mais de dez anos e até o momento ainda não foram contemplados. Ambos estão desempregados e sem ter dinheiro para pagar aluguel, não viram outra alternativa e resolveram buscar o sonho de uma casa com 'as próprias mãos'.

 

(Casal está desempregado e espera dias melhores. Foto: Geovanni Gomes)

"Se nesta região estava previsto a construção de outra obra, não tem problema, podemos sair, mas queremos que nos encaminhe para algum lugar, queremos um local nosso, nem que para isso a gente precise pagar uma mensalidade, não queremos nada de graça, apenas o que é nosso direito. Um rapaz que fez um barraco ao lado do meu também está com uma situação precária, ele vive aqui com a mulher e os filhos. Sem emprego e devendo cinco meses de aluguel, ele não sabe o que fazer, está se virando com bicos para comprar alimentos para a família dele. Todos nós estamos em uma situação difícil", lamentou Dejair.

Silvio Santos,42, destaca que está há 14 anos esperando a casa e até o momento nada de ser chamado. O pedreiro que já fez centenas de casas para outras pessoas, mantém um sonho de um dia conseguir um terreno para fazer a própria residência. Morando de favor na casa do pai, ele diz que a ocupação também serve como uma forma de chamar a atenção do poder público.

(Silvio é pedreiro e espera um dia conseguir construir a própria casa. Foto: Geovanni Gomes)

"Demora muito, eu já estou há anos na espera e se a gente não agir, vamos ficar esquecidos. Vamos ser contemplados quando? tenho medo de morrer e ainda não ter recebido minha casa", ressaltou.

O também pedreiro Ronaldo Pereira, 42, também espera a tão sonhada casa há quase 15 anos e destaca o desperdício de um espaço tão grande, mas tão abandonado.

(Pereira possui seu cadastro na Emha há quase 15 anos. Foto: Geovanni Gomes)

"Eles dizem que no espaço teria uma obra, mas nunca fazem essa tal construção. Aqui não tem iluminação pública e algumas meninas já foram até estupradas, inclusive uma já morreu devido a escuridão e o matagal. Acho que quando o terreno não é usado, devem fornecer para a população que precisa", disse.