A solução para diminuir o déficit de vagas nos Ceinfs (Centro de Educação Infantil) apresentada pelo prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP), não enganou e nem agradou os pais com filhos matriculados nas unidades. A proposta divulgada pela Semed (Secretaria Municipal de Educação), no último final de semana, é colocar 1.160 crianças, com idades entre 4 e 5 anos, para estudar em turno de cinco horas. Atualmente, eles permanecem oito horas diárias nas 58 unidades da Capital.
Auxiliar de ajudante geral, Marcilene Oliveira Pires, 30 anos, afirma que a situação ficará ainda mais difícil. "Vai ficar ruim para buscar. Trabalho das 7h até as 17h. Hoje só conseguimos pegar no horário, porque temos uma motinha", explica. Mesmo com a ajuda do marido, o padeiro Arlindo Segovia, 36 anos, os dois filhos do casal correm o risco de ficar sem cuidados durante o restante do dia, já que ele também trabalha.
Marcilene e marido trabalham em período integral. (Foto: Deivid Correia)
Mesmo com o período integral, muitos pais precisam contar com a ajuda de outras pessoas para pegar os filhos na escola. Tia de duas meninas, Tainara Frazão dos Santos, 18 anos, fica encarregada de pegar as meninas no escola, quando pode, para ajudar a irmã. "Ela trabalha das 14h as 22h e tem que pagar babá para buscar nos outros dias. O que é quase o preço de pagar um escola integral", afirma.
Tainara acompanha a babá da irmão para buscar as sobrinhas e outras crianças no Ceinf (Foto: Deivid Correia)
O meio período também revolta os avôs que necessitam buscar as crianças no Ceinf, como é o caso dos aposentados Evaldo Martins, 58 anos, e Maria das Graças da Costa Vieira, 63 anos. "A ideia é péssima e com certeza vai trazer muitos transtornos para a população", explica Evaldo. Sua filha trabalha das 8h às 17h e não consegue chegar a tempo de pegar a filha na escola.
Avôs ajudam no transporte até o Ceinf, mas não podem assumir a responsabilidade por todo um turno. (Foto: Deivid Correia)
A justificativa da secretaria para adotar a medida é de que assim terá condições de oferecer mais de mil vagas na educação infantil, pelo menos metade para as crianças de 0 a 3 anos que continuarão no Ceinf em período integral. No últimos anos, a prefeitura foi até alvo de investigação do MPE devido a quantidade insuficiente de vagas nos Ceinfs.
Vereador afirma que "isto é jeito de economizar"
A decisão repercutiu, na manhã desta terça-feira (9), entre os vereadores em sessão da Câmara Municipal. Para o vereador Chiquinho Telles (PSD), a medida é uma forma da prefeitura cortar gastos. "Isto é jeito de economizar, por que se não tem nem alimento", afirmou.
Conforme o vereador, a ideia é incompatível com a realidade da população. "Uma mãe que trabalha o dia inteiro no centro e ganha R$ 700 terá que desembolsar pelo menos R$ 300 para arcar com uma babá", explica. (Colaborou Anna Gomes)