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COLUNA

Top Pipoca com Pedroka

Pedro Martinez

O Irlandês: a vida no crime...

O passado importa

01 dezembro 2019 - 08h46

O épico de três horas e meia, O Irlandês, do lendário cineasta Martin Scorcese, vale a cada minuto.

Martin Scorsese está olhando para o passado em O Irlandês, que é uma solene meditação sobre a vida de gângsteres orquestrada com o toque de um mestre. Os Bons Companheiros não era isso; Scorsese fez aquele épico emocionante em 1990 quando tinha 48 anos e um auge de poderes. Mas agora com 76 anos, o cineasta está contemplando essa existência da máfia de uma perspectiva diferente, ruminando sobre o pedágio que a vida cobra de um criminoso no fim das contas.

O Irlandês se move lenta e pensativamente investindo no ritmo natural das conversas e ás vezes parando no regozijo dos velhos tempos, e para a sorte de Scorcese, povoado por seus frequentadores regulares de outros tempos.

O filme começa com uma boa volta pelos corredores de uma casa de repouso até focar em Frank Sheeran (Robert De Niro), idoso e sozinho. Ele começa a narrar a história de como ele passou de um trabalhor sagaz de "pintor de casas", a braço direito da máfia com poderes.

Frank relembra de uma longa viagem a Detroit que fez com Russell Bufalino (um Joe Pesci magnético em sua primeira aparição na tela em nove anos) e suas esposas. Eles estão indo para o casamento da sobrinha de Russell, mas o verdadeiro objetivo da viagem é matar Jimmy Hoffa (Al Pacino), que usou Frank como seu braço direito por anos.

Jimmy confia em Frank por causa do relacionamento que eles construíram ao longo do tempo, então é decidido que Frank será o gatilho.

Pintar casas é um negócio realmente feio.

Esse é o foco do longa, mas mal arranha a superfície da dissertação que Scorsese faz sobre a vida da máfia e do crime. É sobre a linguagem codificada da máfia, a maneira como as coisas são discutidas sem serem discutidas. São pequenas reuniões que decidem o destino de alguém. Se você ouvir "ele está indo" então ele já se foi. Aqui fala-se sobre as lições e os truques do comércio, que se aprendem ao longo dos anos.

São os pequenos momentos - as noites passadas no boliche; os sundaes de sorvete; as longas viagens de carro e as paradas ao longo do caminho - que constituem uma amizade. O Irlandês leva tempo para deixar sua história se desenrolar livremente. É como se Scorcese estivesse bêbado contando livremente detalhes por três horas e meia; ou seja, não falta nada.

O Irlandês retrata várias décadas; desde a Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 2000, concentrando-se nos anos 60 e 70 e em momentos marcantes como a Crise dos Mísseis Cubanos e o assassinato de John F. Kennedy.

Em um todo, o maestro Scorsese cria uma grande sinfonia com O Irlandês, é um filme sobre a vida inteira e o peso dramático das decisões tomadas.

Frank sentiu muito, Scorsese sentiu muito, todos nós estamos sentindo muito.  

5 pipocas!

Disponível na Netflix.